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27/Jun/2025

O papel dos sistemas agrícolas na agenda climática

Encerra-se, em Bonn, na Alemanha, a reunião dos órgãos subsidiários da Convenção do Clima e do Acordo de Paris. Realizada anualmente, essa reunião tem como propósito avançar nas negociações e amadurecer os textos que serão levados para a Conferência das Partes (COP) como base para a tomada de decisões. Em um cenário geopolítico extremamente conturbado, agravado por sinais de retrocesso na agenda climática, como a postura do governo Trump em relação à transição energética e à descarbonização da economia, a COP30 assume um papel estratégico. O encontro em Belém será o momento de conhecer as metas atualizadas dos países, que precisam refletir um nível de ambição compatível com a meta de limitar o aquecimento global a, no máximo, 1.5ºC. Espera-se que esse novo ciclo de compromissos inaugure uma nova fase do multilateralismo climático, calcada na implementação efetiva de ações de mitigação e adaptação que gerem desenvolvimento sustentável.

Até o momento, no entanto, somente 23 países atualizaram suas metas. Do ponto de vista das decisões a serem aprovadas, a COP30 não terá temas tão complexos quanto as regras do mercado de carbono ou a definição da nova meta coletiva e quantificada de financiamento. Ainda assim, espera-se aprovar decisões importantes, como os indicadores de adaptação e o Programa de Trabalho sobre Transição Justa, dentre outras. As reuniões em Bonn evidenciam a complexidade das negociações multilaterais, marcadas por intensos debates e pela necessidade de conciliar diferentes interesses e perspectivas. Enquanto se discutiu como avançar com os mecanismos de mercado de carbono, com base nas experiências que estão sendo construídas, as Partes divergem sobre como tratar os indicadores de adaptação.

Um dos avanços esperados é a adoção de um road map de financiamento que traga orientações claras sobre esquemas de garantia e instrumentos financeiros inovadores que reduzam o custo do capital proveniente de bancos multilaterais de desenvolvimento, bancos privados, plataformas nacionais e recursos filantrópicos. Quanto mais recursos forem mobilizados para financiar ações climáticas, maiores serão os benefícios de mitigação, adaptação e desenvolvimento. Há uma intensa expectativa sobre como a agricultura será tratada na COP30. E as discussões realizadas em Bonn indicam possíveis caminhos para a evolução da agricultura e dos sistemas alimentares na agenda climática. No entanto, é importante destacar que não haverá decisão de grande porte sobre o tema em Belém, visto que já existe um processo em andamento no âmbito do Grupo de Sharm El-Sheikh de Ações Climáticas de Agricultura e Segurança Alimentar.

Durante o workshop promovido em Bonn, que reuniu Partes, observadores e organizações internacionais, para abordar visões holísticas sobre agropecuária de baixo carbono, ficou evidente que há diversos enfoques sendo adotados para tornar a agricultura mais resiliente em um cenário repleto de eventos climáticos extremos que tendem a prejudicar produtores e ameaçar a segurança alimentar global. A diversidade de contextos mostra que não há um modelo único, e sim um leque de opções: o futuro da agricultura depende de sistemas adaptáveis, capazes de incorporar inovações e tecnologias de forma contínua. Para tanto, é essencial fortalecer as redes de suporte e assistência técnica, com foco especial nos pequenos produtores, além de fomentar um ecossistema de cooperação que envolva setores público e privado. Dentre os 141 países que consideram a adoção de ações climáticas para agricultura e segurança alimentar em suas estratégias nacionais, é evidente a diversidade de sistemas e modelos produtivos existentes, os quais dependem de um amplo conjunto de inovações para evoluir.

Neste contexto, a agricultura regenerativa aponta como uma das alternativas mais discutidas, reunindo diferentes abordagens com foco na saúde do solo e na resiliência dos sistemas agrícolas. As reuniões sobre agricultura realizadas em Bonn reforçaram um ponto central: projetos precisam ser conectados a financiamento! O portal online de Sharm El- Sheikh, criado para dar visibilidade a políticas e projetos de agricultura e segurança alimentar, além de facilitar a troca de experiências, já começa a receber contribuições de países, organizações internacionais, setor privado e sociedade civil. A expectativa é que essa plataforma se consolide como uma vitrine de ações climáticas, capazes de gerar diversas soluções ganha-ganha. O sucesso do Acordo de Paris depende, cada vez mais, da capacidade de catalisar recursos financeiros acessíveis, diversificados e com custos reduzidos, voltados à implementação de ações climáticas alinhadas às contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) das Partes. Em 28 de fevereiro de 2025, o portfólio do Fundo Verde para o Clima (GCF) voltado a projetos de agricultura e segurança alimentar totalizou US$ 2,1 bilhões globalmente.

Apesar de expressivo, esse volume de financiamento ainda é insuficiente frente aos desafios globais de adaptação e mitigação. A agricultura aporta diferentes soluções para as mudanças climáticas. Garantir a segurança alimentar global, integrando todos os sistemas agrícolas com potencial de gerar resultados de adaptação e mitigação, adotando inovações de forma contínua, ampliar o papel da agricultura para a transição energética com os biocombustíveis, biometano e biogás, além da energia fotovoltaica no campo, são fatores inerentes ao desenvolvimento humano. Um dos grandes desafios da COP30 será justamente fortalecer essa integração, conectando sistemas agrícolas a diversas fontes de financiamento e promovendo parcerias que viabilizem a implementação de projetos. Esse é um indicador de sucesso para a COP de Belém, que poderá mostrar ao mundo o papel que os sistemas agrícolas tropicais desempenham na resposta global à mudança do clima. Fonte: Rodrigo C. A. Lima. Broadcast Agro.