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16/Jun/2025

Secas aumentam e impactam na produção agrícola

Números do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostram que a produtividade total dos fatores (PTF) dos três maiores exportadores líquidos de alimentos e insumos para alimentos do mundo (Estados Unidos, Argentina e Brasil) recuou ou ficou estagnada de 2017 a 2022. O Brasil teve o melhor desempenho, com a PTF da agropecuária ficando no zero a zero naquele período. No caso da Argentina, houve um recuo médio anual de 1,3%, e, nos Estados Unidos, queda de 0,9%. Esse resultado é até certo ponto surpreendente, porque a PTF agropecuária subiu nos três grandes exportadores líquidos do início da década de 90 (pelo menos) até 2016. Na última década do século passado, a PTF agro cresceu numa média anual de 1,7% nos Estados Unidos, de 1,5% na Argentina e de 2,7% no Brasil.

Já entre 2001 e 2010, o indicador teve alta anual média de 1% nos Estados Unidos, de 0,6% na Argentina e de 3,5% no Brasil. De 2011 a 2016, os números continuaram positivos, com 0,3% no caso norte-americano, 0,6% para a Argentina e 1,5% para o Brasil. A partir daí, como já mencionado, a tendência se inverteu. É interessante notar que o Brasil teve desempenho melhor em termos de crescimento da PTF agropecuária do que os Estados Unidos e a Argentina, em todos os períodos analisados acima, inclusive de 2017 a 2022, em que foi o único país em que o indicador não caiu. O economista Bráulio Borges, da consultoria LCA Intelligence e do IBRE-FGV, acha provável que essa piora recente da tendência da PTF agropecuária dos três grandes exportadores líquidos mundiais de commodities alimentares esteja ligada ao aquecimento global.

Ele menciona um artigo científico recém-publicado pela revista Nature, de diversos pesquisadores, e cujo título é (em inglês) “O aquecimento acelera a gravidade global da seca”. O estudo foca no indicador chamado demanda atmosférica de evaporação (atmospheric evaporative demand, ou AED na sigla em inglês). A AED vem aumentando por causa do aquecimento global. Segundo os pesquisadores, de 2018 a 2022, quase exatamente o período em que a PTF agropecuária de Estados Unidos e Argentina caiu, e a do Brasil ficou estável, as áreas de seca no mundo aumentaram 74% em comparação ao período de 1981 a 2017. A AED contribuiu com 57% desse aumento. Eles apontam que 2022 foi um ano recorde de secas, com 30% da área terrestre em secas moderadas e extremas.

Chamaram a atenção gráficos no estudo indicando que as áreas em seca severa ou extrema no mundo aproximadamente triplicaram a partir de meados da década passada. “O mundo está secando; até está chovendo mais em boa parte do planeta, porque temperatura maior gera mais evaporação, mas muito dessa chuva está caindo nos oceanos”, comenta o economista. Para ele, o aumento das secas no mundo corresponde a um choque econômico desfavorável persistente, que pode ajudar a entender por que a comida tem subido acima da média dos demais preços dos índices de inflação há vários anos. Uma possível solução para esse problema seria ampliar em nível global as áreas de agricultura irrigada, o que aumenta muito a produtividade em comparação ao plantio que depende das chuvas. Fonte: Fernando Dantas. Broadcast Agro.