27/May/2025
Uma agroindústria na Ilha das Cinzas (PA), no Rio Amazonas, distante 1h30 de barco de Macapá (AP), virou uma vitrine sobre como desenvolver a bioeconomia na Amazônia e como empreender a transição energética em uma região isolada e de várzea. A primeira agroindústria comunitária em área de várzea foi inaugurada na sexta-feira (23/05) numa parceria da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Ilha das Cinzas (Ataic), juntamente com a WEG, a Natura e W.Energy. A fábrica vai produzir óleos e manteigas para a indústria de cosméticos a partir das amêndoas de muru-muru, andiroba e ucuuba com a energia de placas solares armazenada num sistema Bess (Battery Energy Storage System) conectado a um sistema de monitoramento remoto pela equipe da WEG na sede da empresa em Jaraguá do Sul (SC). O investimento contou com R$ 2 milhões da Natura, para a construção dos galpões sobre palafitas da fábrica, escritórios, refeitório, entre outras benfeitorias.
Também teve mais R$ 600 mil aportados pela WEG para a doação dos equipamentos, do projeto customizado e de toda operação logística para instalação do sistema. A WEG afirmou que a logística foi um dos grandes desafios do projeto, porque instalar um Bess em terra firme com acesso por estradas impõe algumas condições. Já instalar em terra mole, ou seja, numa área de várzea com fases de enchente e de vazante ao longo do dia, traz muitas outras complexidades. Uma delas foi transportar 3,5 toneladas de equipamentos de Jaraguá do Sul (SC) para a Ilha das Cinzas. Ao chegar na sede da Ataic, cerca de 20 homens foram necessários para carregar o maquinário trapiche acima até o galpão. A Natura afirma que o investimento faz sentido porque fortalece a cadeia de fornecedores de bioativos da Amazônia e, assim, contribui para o cumprimento do objetivo de quadruplicar o volume comprado de insumos e matérias-primas da Amazônia.
Essa é 20ª agroindústria apoiada pela empresa. A primeira foi instalada em 2010. A Natura decidiu investir na instalação de agroindústrias porque é uma forma de reduzir a complexidade da cadeia logística, a pegada de carbono e melhorar a qualidade do produto. Apoiar a instalação de uma agroindústria é uma forma de fixar as novas gerações na região, ao oferecer trabalho e mais renda para a comunidade. Ao transformar as amêndoas em óleo e manteiga, a Ataic consegue uma receita 60% maior pelo mesmo volume vendido à Natura. Embora a mudança de gerador movido a diesel para energia solar seja um exemplo de transição energética, a contribuição do projeto para a meta de descarbonização da Natura é pouco expressiva. A companhia tem meta pública de ser net zero (emissão líquida zero de gases de efeito estufa) em 2030 para o que tem a ver diretamente com a sua atividade (escopos 1 e 2) e a meta de reduzir as emissões indiretas (escopo 3) em 42% até 2030 e ser net zero até 2050.
Segundo a WEG, a solução foi projetada para as necessidades da Ataic, na região da Ilha das Cinzas, mas pode ser adaptada para qualquer outra região do Brasil. Trazer e instalar os equipamentos em palafitas numa região de várzea foi um grande desafio. Mas, ao ter sucesso, o projeto é replicável para todo o mundo. O projeto une duas empresas brasileiras e traz tecnologia brasileira numa solução sustentável. O sistema consiste em um conjunto de placas solares que geram 40 kw/h, que é o dobro da energia necessária para o tamanho da fábrica hoje e um Bess capaz de armazenar cerca de 92 kw/h. O sistema possui uma série de redundâncias para dar segurança energética para o funcionamento da fábrica. Uma delas é ter conectado o gerador a diesel, que já existia na Ataic, caso a geração e armazenagem venham a falhar. Estar no meio da floresta dá muito orgulho para a empresa e é uma grande vitrine pela importância do projeto. Do ponto de vista social, esse projeto é gigante. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.