27/May/2025
Já é "transitado em julgado" o conceito de que não existe futuro para um país que não invista em ciência, inovação e tecnologia. E é claro que não existe ciência sem cientistas, pesquisadores, inventores. E, por fim, não existem estes profissionais sem educação. Portanto, por óbvio, qualquer que seja o raciocínio, a raiz do desenvolvimento de uma sociedade é a educação. E neste quesito, estamos bastante mal colocados em todas as avaliações internacionais. Os dados do Pisa, por exemplo, mostram o percentual de alunos com desempenho insuficiente para o exercício da cidadania. Em leitura, a percentagem de nossos alunos com desempenho suficiente é de 26%, enquanto o porcentual na OCDE é de 50%. Em matemática, estamos com 31%, enquanto na OCDE é de 73%. E finalmente em ciências estamos com 24% de suficiência, perdendo para os 55% da OCDE.
Como formar cidadãos, e cientistas, com esse grau de suficiência para o exercício da cidadania? Algumas organizações civis, com a De Olho no Material Escolar, estão lutando bravamente nas discussões dentro do Congresso Nacional pela melhoria no Plano Nacional de Educação válido para a década 2025/2035. Mas não basta a simples formação e a existência do cientista. Ele precisa ser admirado pela sua importância dentro da sociedade. Estamos vivendo nesse exato momento um fenômeno exemplar: a grande pesquisadora Mariângela Hungria, da Embrapa, acaba de ser escolhida pelo World Food Prize como a laureada de 2025 por seu extraordinário trabalho ligado à fixação do nitrogênio do ar como fertilizante para a soja. É um resultado maravilhoso para o Brasil e para o mundo, e este prêmio é uma espécie de Nobel da Agricultura.
Foi criado por Norman Bourlaug, Nobel da Paz em 1974 por seu trabalho na produção de alimentos em países tropicais. A dra. Mariângela é um orgulho para a ciência brasileira, e é reconhecida mundialmente antes de ser homenageada merecidamente pelos brasileiros. Será que nossos pesquisadores são vistos em sua verdadeira grandeza pela sociedade? Os extraordinários saltos de produtividade experimentados pela agropecuária brasileira são devidos a eles. Basta lembrar que em 1975 importávamos 30% dos alimentos que consumíamos aqui e hoje exportamos para quase 200 países no mundo todo, alimentando cerca de 1 bilhão de pessoas. Criamos o maior programa de alternativa energética do planeta com o Proálcool, e já temos 10 milhões de hectares de florestas plantadas. Conquistamos o Cerrado, considerado até metade do século passado como inadequado para o setor primário.
Variedades novas de todas as plantas cultivadas surgiram e se adaptaram aos nossos diferentes biomas, com produtividade crescente. Agora chegam os bioinsumos para substituir os defensivos químicos com vantagens para todo mundo. E isso é criação dos nossos cientistas, pesquisadores, biólogos, geneticistas, engenheiros agrônomos, veterinários, engenheiros florestais e tantos outros heróis anônimos trabalhando em silêncio em seus laboratórios e campos experimentais. Mas eles nem sempre são reconhecidos. Os pesquisadores das instituições de pesquisa do Estado de São Paulo com certeza não são. O Instituto Agronômico de Campinas, criado por Dom Pedro II, e que foi a grande alavanca da agropecuária brasileira no passado, está sofrendo. Seus cientistas recebem salários aviltantes diante da importância que têm para o setor agropecuário, que responde por 25% do PIB nacional, gera 30% dos empregos e é responsável por 50% das exportações do País.
Mas nem esses números foram considerados pelos governantes paulistas nos últimos 20 e tantos anos. Os institutos vivem em permanente penúria, sem recursos para pesquisa, sem concursos para novos pesquisadores que substituam os que se aposentam, e assim por diante. Nossos cientistas ganham menos do que os professores das Universidades Públicas paulistas e menos do que ganham seus colegas da Embrapa, hoje a líder da pesquisa agropecuária no Brasil. Mas, finalmente o governador Tarcísio de Freitas prometeu corrigir essa distorção, recriando a carreira de Pesquisador Científico de São Paulo, com uma remuneração digna do trabalho que executam. Estamos todos esperando essa nova legislação tão necessária para a continuidade dos nossos institutos de pesquisa que geram inovações garantidoras do nosso futuro competitivo e sustentável. Fonte: Roberto Rodrigues. Broadcast Agro.