26/May/2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recomendou na sexta-feira (23/05), que uma tarifa fixa de 50% seja aplicada contra a União Europeia (UE), a partir de 1º de junho, já que o bloco, que segundo o republicano foi formado com o objetivo principal de tirar vantagem dos americanos no comércio, "tem sido difícil de lidar". "Nossas discussões com eles (União Europeia) não estão levando a lugar nenhum", afirmou Trump. Ele mencionou que as barreiras comerciais europeias, manipulações monetárias e "processos injustos" contra empresas norte-americanas, entre outros, levaram a um déficit comercial com os Estados Unidos de mais de US$ 250 milhões por ano. Donald Trump afirmou, também na sexta-feira (23/05), que não pretende, no momento, firmar um acordo comercial com a União Europeia. Segundo ele, as tarifas já estão colocadas em 50% e as conversas com o bloco europeu estão ‘indo muito devagar’. Trump voltou a destacar que empresas podem ter tarifas suspensas se decidirem se instalar nos Estados Unidos. Ele acrescentou: "Agora a União Europeia quer muito fazer um acordo conosco. Mas eles também amam processar nossas empresas. Eles usam isso como arma e como um financiamento para eles também."
O presidente norte-americano também disse que o país tem muitos acordos comerciais prontos para serem assinados. O presidente do Federal Reserve (Fed) de Chicago, Austan Goolsbee, afirmou que aumentar as tarifas norte-americanas contra a União Europeia para 50% tem uma "ordem diferente de magnitude", muito mais elevada do que a atual e capaz de gerar riscos para as cadeias de oferta. "Se olharmos para esse nível, é assustador", disse. Sem um acordo para minimizar tarifas, abrir mercados e com novos anúncios inesperados de políticas comerciais a cada semana, o ambiente incerto e as interrupções nas cadeias de oferta podem crescer a níveis comparáveis ao período da pandemia, entre 2020 e 2022. Contatos recentes com CEOs de grandes empresas mostram que o setor corporativo quer consistência nas políticas do governo norte-americano. As empresas estão em momento em que não podem tomar decisões ou direcionar investimentos, porque tudo muda o tempo todo.
Trump ameaçou ainda tarifar iPhones da Apple em ao menos 25%, caso a empresa não transfira produção para os Estados Unidos. Se as tarifas se estabelecerem em torno de 10%, a economia dos Estados Unidos poderá ter apenas um choque temporário, como em 2018, e evitar um "choque terrível". O dirigente revelou, contudo, que seu maior medo é que as novas políticas já estejam afetando a economia em um nível profundo, mas sem que seja perceptível agora e que aparecerá "demasiadamente tarde" nos dados. Ainda, os negociadores comerciais dos Estados Unidos estão pressionando a União Europeia a realizar reduções tarifárias unilaterais sobre produtos norte-americanos, afirmando que, sem concessões, o bloco não avançará nas negociações para evitar tarifas "recíprocas" adicionais. Os norte-americanos estão descontentes com o fato de o bloco ter oferecido apenas reduções tarifárias mútuas. A União Europeia também não sugeriu que o imposto digital proposto fosse um ponto de negociação, como os Estados Unidos exigiram.
As autoridades europeias não estão otimistas quanto à possibilidade de chegar a um acordo que evite as taxas dos Estados Unidos sobre as importações do bloco europeu e não há um "progresso real" nas negociações. Alguns diplomatas da União Europeia acreditam que os Estados Unidos manterão 10% como base em qualquer acordo, uma perspectiva que muitos ministros do Comércio de países da União Europeia dizem que desencadearia retaliações. Ministros da Alemanha e da Suécia criticaram a ameaça do presidente dos Estados Unidos de elevar tarifas contra a União Europeia a 50%. A ministra das Finanças da Suécia, Elisabeth Svantesson, acusou Trump de escalar as tensões comerciais em nível não razoável e que pode prejudicar ambas as economias. "Precisamos de mais comércio livre, não menos", escreveu. O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, afirmou que as tarifas "não ajudam ninguém" e levam a mais "sofrimento nos mercados". Ele afirmou que continuará a apoiar as negociações com os Estados Unidos, mas sinalizou busca por outros acordos.
O ministro alemão afirmou que espera conseguir um acordo de livre comércio com a Índia até o fim do ano. Diplomatas avaliam que é difícil saber o que significa a ameaça dos Estados Unidos e se o presidente norte-americano de fato pretende aplicar as tarifas, ou somente pressionar o progresso das negociações com a União Europeia. A Capital Economics alertou para os riscos das recentes ameaças de Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos da União Europeia a partir de 1º de junho. Essa medida pode ser uma tática de negociação e parece muito improvável que as tarifas se fixem nesse nível no longo prazo. As tarifas sobre a União Europeia devem se estabilizar em torno de 10%, mas há riscos e o caminho para um acordo pode ser turbulento. O anúncio de Trump ocorre num momento em que as negociações com a União Europeia estão difíceis, especialmente porque os Estados Unidos reclamam que o bloco econômico europeu oferece apenas reduções tarifárias mútuas, e não unilaterais, além de não avançar em temas como o imposto digital.
Ainda assim, Trump apenas 'recomenda' a tarifa e enfatiza que as negociações "não estão indo a lugar nenhum". Caso a tarifa de 50% seja implementada, haverá impactos significativos para a economia europeia, especialmente para a Alemanha, cuja produção poderia ser até 1,7% menor do que seria sem a tarifa após três anos. Itália, França e Espanha também seriam afetadas, mas em menor grau, com quedas no Produto Interno Bruto (PIB) estimadas em 1,25%, 0,75% e 0,5%, respectivamente. Para a Irlanda, a perda pode ser ainda maior, potencialmente 4%, considerando o setor farmacêutico. As estimativas não levam em conta efeitos secundários e a incerteza gerada, que podem ser substanciais com uma tarifa tão elevada, e os impactos provavelmente seriam "não-lineares", pois pequenos atritos são mais facilmente absorvidos pelos agentes econômicos.
Além disso, as previsões desconsideram a possibilidade de retaliações por parte da União Europeia, que certamente responderia ao movimento dos Estados Unidos, e ainda a possibilidade de apoios fiscais e monetários para mitigar os efeitos negativos. Ainda, o comissário europeu de Comércio, Maros Sefcovic, afirmou na sexta-feira (23/05) que já conversou com o representante comercial dos Estados Unidos (USTR), Jamieson Greer, e com o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick. Segundo ele, a União Europeia está totalmente engajada e comprometida em garantir um acordo que funcione para ambos. A Comissão Europeia, que é o braço executivo da União Europeia, continua pronta para trabalhar com boa-fé. O comércio entre União Europeia e Estados Unidos é incomparável e deve ser guiado pelo respeito mútuo, não por ameaças. Ele reiterou que a União Europeia está pronta para defender seus interesses. Fontes: Broadcast Agro e Financial Times. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.