22/May/2025
Depois de 26 anos lecionando na Universidade de Chicago, José Alexandre Scheinkman foi para Princeton, como professor emérito. Hoje, o respeitado economista e professor de Columbia, em Nova York, participa de vários projetos especiais. Entre eles, é coordenador sênior do projeto Amazônia 2030 e colabora na costura da COP30, que acontece em novembro no Brasil. Há mais de 50 anos vivendo nos Estados Unidos, ele viu de perto governos de dez presidentes, de Richard Nixon a Barack Obama, de Jimmy Carter a Donald Trump. E, neste início de segundo governo Trump, se mostra apreensivo com as medidas que estão mudando negativamente a imagem dos Estados Unidos. As decisões de Trump aparentemente são tomadas no impulso do momento e não há ninguém em seu entorno capaz de aconselhá-lo sobre medidas que podem afetar tanto parceiros comerciais quanto os norte-americanos. Segue a entrevista:
Há estratégia nas medidas que Trump está tomando?
José Alexandre Scheinkman: Não. Trump não é estratégico. Ele é o tipo de pessoa que faz as coisas no último momento. Faz as coisas que ele acha que são mais vantajosas para ele.
Para ele ou para os EUA?
José Alexandre Scheinkman: Naquele momento (da tomada de decisão), ele imagina que é o melhor para ele.
Qual a diferença do Trump do 1º mandato para este?
José Alexandre Scheinkman: No primeiro governo havia algumas personalidades que, de alguma maneira, conseguiram parar as coisas mais radicais e mais arriscadas. Aparentemente, neste governo, não tem ninguém fazendo isso. Entrou o “raw” Trump, o Trump cru, sem nenhum filtro. Um presidente tem advisors (conselheiros), que podem dizer: “Olha, isso não é uma boa ideia”. Às vezes estão errados, mas eles pelo menos podem falar. Trump pegou todas as pessoas que tinham se oposto a ele, ou se oposto às ideias dele no governo anterior, e, ou as deixou de fora, ou está de uma certa maneira fazendo perseguição.
Você acredita que o declínio do império americano está começando?
José Alexandre Scheinkman: Esse processo deflagrado por Trump vai custar aos Estados Unidos, mesmo se for revertido. O Mark Carney (primeiro-ministro do Canadá) disse: “Os Estados Unidos não são um país confiável. A gente não pode pensar mais nos Estados Unidos como um aliado”. Acho que isso é uma coisa permanente.
Qual a chance de Trump atrair indústrias para os EUA, gente investindo, com a implosão que promoveu nas relações comerciais internacionais?
José Alexandre Scheinkman: Isso afugenta o investidor, porque ninguém sabe o que o Trump vai querer amanhã. No mandato anterior, Trump propôs e assinou um novo tratado com o Canadá e com o México. Logo no começo deste governo, ele disse que aquele tratado não estava valendo.
É difícil reverter essas medidas?
José Alexandre Scheinkman: Eu acho que alguém chegou para ele e explicou, por exemplo, que no inverno, nos Estados Unidos, principalmente no norte, a comida é toda importada. Você não consegue cultivar tomate em dezembro em Nova Jersey, que é o Estado que fornece tomate no verão para essa região. O grande produtor é o México. Alguém deve ter dito: “Olha, o preço da comida vai aumentar”. Aí ele tirou. Ele tirou uma parte dos impostos de importação que havia colocado em automóveis, em peças. Se você é investidor, fábrica, você quer planejar, e não consegue. Porque não sabe a que preço vai ter de vender seu carro para reproduzir os custos, incluindo as tarifas.
Falando sobre a COP30. O Brasil tem tudo para sair na frente em termos de sustentabilidade, energia limpa. Essa confusão de Trump atrapalha?
José Alexandre Scheinkman: Os Estados Unidos vão estar completamente fora. Não vão assinar nada que a COP decidir.
Os Estados americanos não têm independência para fazer isso?
José Alexandre Scheinkman: Não para assinar tratados. Eles podem até implementar políticas que são compatíveis, mas não há possibilidade de um Estado estabelecer um tratado com outros países. Mas, por outro lado, acho que essa ideia de unanimidade em que a COP funciona é muito complicada. Eu acho que a saída dos Estados Unidos talvez até ajude isso. Tenho colegas americanos que se preocupam com esse tema e que me dizem: “Olha, com a saída dos Estados Unidos, os outros países vão ter uma oportunidade de criar algum tipo de coalizão climática”. Essa coalizão provavelmente não vai incluir os Estados Unidos, a Rússia, a Arábia Saudita.
Você acha que inclui China?
José Alexandre Scheinkman: A China está decidida a ser o que a gente chama de o adulto na sala. Acho que a China está tentando participar dessas conversas.
Como você vê o Brasil nisso?
José Alexandre Scheinkman: Acho que o Brasil está muito bem. Mas, quando um país como os Estados Unidos está indo mal economicamente, isso vai afetar a economia toda. As pessoas pensam em comércio internacional como sendo uma competição. Não é. Quando um país vai bem, os outros países vão melhor. Isso é ainda mais importante quando a economia é grande como a americana. Então, acho que haverá problemas com a queda de atividade nos Estados Unidos. Tem bancos que dizem que a probabilidade de recessão está acima de 50% e outros que dizem que é acima de três quartos. O pessimismo é generalizado. Eles podem estar todos errados, mas, evidentemente, você tem de ter um certo receio.
Qual sua expectativa para a COP30?
José Alexandre Scheinkman: Acho que vai ser muito importante. O Brasil está levando temas novos para a COP, por exemplo, a questão das florestas tropicais, no qual o Brasil tem um grande potencial para ajudar na solução do problema climático. O trabalho que eu fiz com Juliana Assunção, da PUC-Rio, e com o Lars Hansen, professor da Universidade de Chicago, e que ganhou o Prêmio Nobel alguns anos atrás (2013), mostra o grande potencial da Amazônia, mas que se transmite para outras florestas tropicais. Esse é um dos pontos novos que o Brasil vai trazer para a COP, que é baseado em boa ciência.
Fonte: Broadcast Agro.