19/May/2025
Ainda sofrendo os efeitos de uma crise de credibilidade, cujos impactos se arrastam há mais de dois anos, o mercado global de carbono reduziu a emissão de novos créditos no primeiro trimestre do ano. A queda foi de 27% em relação ao mesmo período de 2024, com o total de emissões passando de 85 milhões de créditos para 62 milhões, aponta levantamento da Systemica, empresa desenvolvedora de projetos de carbono. A crise reputacional fez com que os preços dos créditos recuassem, desincentivando o lançamento de novos projetos. A média de preço de um crédito antes da crise ficava ao redor de US$ 10,00 a US$ 12,00. Hoje, está em US$ 4,80, uma queda que chega a 60%. O estopim da crise no mercado de carbono foi a publicação, em janeiro de 2023, de uma reportagem que mostrava que parte dos créditos de carbono reconhecidos pela Verra (a principal certificadora de créditos de carbono do mundo) não compensavam emissões como deveriam.
A reportagem, publicada pelo jornal britânico The Guardian, pela revista alemã Die Zeit e pela organização de jornalismo investigativo sem fins lucrativos SourceMaterial, se baseava em dois estudos que mostravam que, de 29 projetos aprovados pela Verra, apenas 8 apresentavam evidências de redução significativa de desmatamento. Em uma tentativa de contornar a crise, a Verra anunciou, no fim do ano passado, uma nova metodologia de certificação, mais rigorosa. A reformulação da metodologia da Verra tem atrasado o lançamento de novos projetos e, portanto, as emissões de créditos. O processo de certificação está mais robusto. A verificação, mais intensa. Isso faz também com que os projetos emitam menos do que antes. Para a Systemica, as empresas desenvolvedoras de projetos de carbono estavam aguardando esse anúncio e agora estão retomando, gradualmente, novos empreendimentos, daí a queda nas emissões no primeiro trimestre. A expectativa é de que isso esteja realmente resolvido até junho, e aí o mercado deve começar a pegar tração.
Do lado da demanda, que passou de 55 milhões de créditos no primeiro trimestre de 2024 para 56 milhões no mesmo período deste ano, houve crescimento de 1,8%. Mas foi mais modesta que em 2024, quando ela cresceu 12,2%. Ainda assim, a retração da oferta garantiu que o crescimento do estoque de créditos no mercado perdesse força. No fim do primeiro trimestre deste ano, havia 1 bilhão de créditos disponíveis, uma expansão de 9% na comparação com o mesmo período de 2024. Nos três primeiros meses do ano passado, a alta havia sido de 19,8% ante o ano anterior. A Systemica projeta que o estoque avance menos de 1% em 2025 e que, em 2029, o mercado alcance um ponto de oferta inferior à demanda. Isso deve ocorrer em parte devido à mudança na metodologia da Verra. Com a alteração, as emissões de carbono de um projeto podem diminuir até 70%. Com o consumo aumentando e o número de novos projetos crescendo a uma taxa menor, a tendência é de escassez de crédito em cinco anos. No entanto, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) vê um cenário mais turbulento para a recuperação do setor. O estoque de crédito ainda é muito grande e, por ora, o aumento na demanda é fraco.
O discurso do presidente norte-americano, Donald Trump, contra políticas sustentáveis também tem desestimulado companhias a se comprometerem com a redução de emissões. As empresas também têm percebido que é muito caro descarbonizar. Também no primeiro trimestre deste ano, a participação no SBTi (Science Based Targets, organização que ajuda empresas a estabelecer suas metas de redução de emissões) ultrapassou 10 mil companhias. A taxa de adesão de novos participantes, no entanto, recuou 29% ante os três primeiros meses de 2024, indicando arrefecimento no ritmo de novos compromissos corporativos com o clima. Porém, se as emissões de crédito recuarem significativamente nos próximos cinco anos, os preços podem se recuperar. Mas, se houver um comprometimento importante dos países na COP30 com a redução das emissões, as empresas devem ficar mais engajadas com metas e, portanto, aumentar a demanda por créditos de carbono. “O problema é que isso só vai acontecer em novembro. Até lá, o mercado deve jogar de lado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.