14/May/2025
Segundo o Insper Agro Global, a recente trégua comercial entre Estados Unidos e China elimina a vantagem competitiva temporária que o agronegócio brasileiro havia conquistado nas últimas semanas. O cenário atual é diferente do observado no primeiro governo Trump, quando tarifas de cerca de 20% permitiram ao Brasil dobrar suas exportações agrícolas para a China. A percepção é de que a vantagem comercial agora é mínima, porque voltou para uma tarifa que todos têm. Não há um diferencial real importante hoje entre Brasil e Estados Unidos no fornecimento para a China. Então, não vai ter os ganhos que aconteceram em 2017. Um cenário de médio prazo pode ser potencialmente desfavorável. O risco seria se a China e os Estados Unidos aprofundarem o acordo, porque o atual é apenas uma trégua de 90 dias.
Ele pode depois resultar num segundo acordo, onde a China tem que ceder muito mais para os Estados Unidos por conta do déficit comercial. E aí a China pode ter que ceder em agro contra o Brasil. No histórico da relação comercial agrícola entre os três países, o Brasil se beneficiou do primeiro governo Trump e da crise sanitária chinesa. O Trump I colocou o Brasil como o maior fornecedor da China já em 2017. Dali para frente, o Brasil cresceu tanto que hoje fornece o dobro do que os Estados Unidos para a China. Naquela época, os dois países exportavam entre US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões. Hoje, o Brasil exporta US$ 60 bilhões e os Estados Unidos, US$ 30 bilhões. A mudança no padrão de consumo e na estrutura agropecuária chinesa foi fundamental. A crise da peste suína africana (PSA) dizimou 40% do rebanho chinês. A China consome metade dos suínos do mundo.
Isso fez com que os chineses reformassem a agricultura e comprassem mais soja e milho. A China já vinha comprando muita soja desde os anos 2000, porque não têm terra suficiente para uma população que migrou em massa para as cidades. Foram 250 milhões de chineses do campo para áreas urbanas. Soja e milho foram os principais beneficiados, seguidos pelas carnes. A soja já era o grande campeão. Depois, o milho passou a ser muito importante. Brasil e Estados Unidos fornecem ambos os grãos à China. Com a crise suína, os chineses também passaram a importar mais carne bovina, e hoje metade da carne bovina brasileira exportada vai para China. O Brasil também entrou no mercado de carne suína. Para o futuro, é importante que o Brasil mantenha uma postura neutra e foque na competitividade natural. Essas questões exigem que não se tome partido. O Brasil deve ser um fornecedor.
No caso do agro, o Brasil é um fornecedor competitivo, com o maior saldo comercial agrícola do mundo. O País deve fornecer para todos. Há riscos geopolíticos em caso de alinhamento excessivo do Brasil. o risco é a proximidade do Brasil com a Rússia e com a China. A viagem do presidente Lula expressa um certo alinhamento. Se o mundo caminhar para blocos de interesse, ‘você está com ele ou está comigo’, isso pode ser extremamente complicado. A China busca diversificação de fornecedores. Não é interessante elevar a dependência da importação de alimentos de um único país como o Brasil. A China prefere manter fornecimento no primeiro semestre vindo do Brasil e no segundo, dos Estados Unidos. Mesmo com o bom desempenho brasileiro, um eventual acordo bilateral mais amplo entre Estados Unidos e China pode incluir concessões agrícolas. Isso pode representar um risco. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.