13/May/2025
A dificuldade do Banco Central para baixar o ritmo de alta dos preços reforça a avaliação de que a meta de inflação brasileira segue rigorosa demais diante de um contexto de política fiscal expansionista, combinação que aumenta a necessidade de juros elevados por mais tempo. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira (09/05) mostraram que a inflação acumulada nos 12 meses até abril somou 5,53%, acelerando em relação a março (5,48%). A leitura foi a maior desde fevereiro de 2023 (5,60%), e mostra que o Banco Central ainda está longe de atingir o centro da meta de inflação, de 3% ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) prevê que a taxa deve cair a 3,6% até o final do ano que vem, horizonte relevante para o colegiado, mesmo depois de ter elevado a Selic a 14,75% ao ano, o maior nível desde 2006. Durante a divulgação do Relatório de Estabilidade Financeira (REF) o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que a meta de inflação brasileira está em linha com a de outros países e que não há qualquer desconforto com o nível de 3%.
No entanto, para o ex-diretor de Política Econômica do Banco Central e um dos pais do Regime Brasileiro de Metas de Inflação, Sérgio Werlang, o nível da meta de inflação brasileira é "muito apertado". Segundo ele, cumprir este compromisso já era difícil desde 2017, quando o então presidente do Banco Central Ilan Goldfajn mencionou 3% como um bom alvo no longo prazo. A principal razão é a rigidez orçamentária. O Brasil tem essa dificuldade porque o orçamento é muito engessado em termos nominais. Segundo o ex-diretor do Banco Central, a despeito de o comunicado do Copom ter feito menção ao horizonte relevante da política monetária, há pouco mais de um mês o Banco Central parou de enfatizar tanto isso. Pode ser um indicativo de que a autoridade monetária já esteja trabalhando com uma meta informal de inflação de 4% a 4,5%. Autor do artigo "A encrenca da meta de inflação de 3%", publicado pelo Estadão em 2 de março, o ex-subsecretário do Tesouro Nacional, cofundador da MCM Consultores e atual sócio fundador da Vértice Macroeconomia, Cláudio Adilson Gonçalez, diz não ver condições de a meta de inflação ser alcançada.
Ele lembra que foram poucas as ocasiões desde o início dos anos 2000 em que a inflação brasileira ficou em 3% ou abaixo disso. Fora do período da pandemia, houve três episódios: em 2006, em 2017 e por um curto período em 2019. Em 2006 houve uma ultra valorização do real em função do ciclo de commodities chinês, o Banco Central começou a juntar reservas e tivemos superávit primário de 2% do PIB, na gestão Lula. Em 2017. O Brasil estava em uma grande ociosidade econômica, o desemprego estava em 13%, a utilização da capacidade instalada estava girando em torno de 75% e o hiato do produto bem negativo, abaixo de zero. Em 2019, a leitura abaixo de 3% em meados daquele ano refletiu questões sazonais e estatísticas, entre elas a remoção dos efeitos de picos nos preços decorrentes da greve dos caminhoneiros em junho de 2018. No acumulado de 2019, a inflação foi de 4,31%.
Hoje, com a baixa credibilidade do governo, o núcleo da inflação rodando acima de 5% e a dúvida em relação ao cenário fiscal atuam como obstáculos a uma alta de preços menos intensa. A área fiscal está ruim, mas não é só no governo federal. Há uma crise institucional, com o Congresso avançando nas emendas, como reflexo de um Executivo fraco, sem maioria legislativa e que perdeu o controle do Orçamento. Ele mencionou que em 2019 as emendas empenhadas somaram R$ 13 bilhões e as pagas, R$ 6 bilhões. Em 2025, o Orçamento prevê R$ 50,2 bilhões em emendas. Além disso, há outros R$ 11,4 bilhões em gastos que serão indicados pelo Congresso após acordo com o Executivo. Somado, isso chega a 30% dos gastos discricionários. Para uma outra ala do mercado, a meta de inflação atual é defensável, e o problema principal está nas contas públicas.
Não adianta mexer na meta, avalia o professor sênior da FEA/USP e ex-coordenador do Índice de Preços da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) Heron do Carmo. Segundo ele, é possível baixar a inflação a 3% ao ano se forem adotadas medidas para viabilizar o objetivo. O que tem ocorrido é o descompasso entre a política monetária e a política fiscal. A tendência tem sido, salvo alguns períodos, de uma política monetária frouxa e uma política monetária do Banco Central que persegue a meta. Não se trata de arrocho fiscal, mas de gastos públicos com uma evolução mais responsável, do ponto de vista de trazer a inflação para baixo. A XP Investimentos também defende reformas que abram espaço para o cumprimento da meta de inflação. É difícil atingir os 3% com a política fiscal atual, de despesas crescentes acima da inflação, indexadas, etc. Será preciso fazer reformas mais profundas entre 2026 e 2027. O atingimento da meta depende das "condições de contorno". Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.