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09/May/2025

Selic: BC sinaliza para encerramento do ciclo e alta

Em decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou na quarta-feira (07/05) aumento de 0,5% para a Selic, que chegou a 14,75%. É o maior patamar nominal desde julho de 2006 (quando também estava em 14,75%), ainda no primeiro governo Lula. Desde setembro, o Banco Central já aumentou a taxa básica de juros em 4,25%, o segundo maior ciclo de alta dos últimos 20 anos, perdendo apenas para os 11,75% entre março de 2021 e agosto de 2022, que ocorreu após o fim da pandemia. O colegiado deixou de dar indicações sobre a evolução futura da taxa com a justificativa de “elevada incerteza”, principalmente por conta dos efeitos do tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para a próxima reunião (em junho), o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste dos juros e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação, diz o texto.

Ao subir a taxa em 0,5%, o Copom seguiu a sinalização que havia sido dada em março, de que o juro seria elevado num ritmo menor do que o 1% escolhido pelo colegiado nas reuniões anteriores. O alvo central é de uma inflação de 3%, com margem de tolerância de até 4,5% (teto). Mas, as projeções do mercado continuam a indicar números diferentes. Segundo o boletim Focus, a estimativa para o IPCA neste ano está em 5,5%. Ainda assim, pela primeira vez desde setembro de 2024 o Copom deixou de dizer que existe uma “assimetria de alta” no seu “balanço de riscos” para a inflação, ou seja, que haveria mais motivos para esperar aumento da inflação, em vez de queda. Isso fez com que alguns analistas passassem a considerar a possibilidade de o Banco Central ter encerrado nesta reunião de maio o atual ciclo de aperto monetário. Para o UBS Global Wealth Management, a linguagem está muito próxima de fim de ciclo. Para o BTG Pactual, parece que há um desejo muito grande do Banco Central de parar com o ciclo de altas.

A percepção é de que o ciclo de aperto monetário praticamente acabou, mas o comunicado só não quis dizer isso com todas as letras. Até porque o comunicado nunca vai dizer isso. A gente só fica sabendo que acabou quando o Copom deixa os juros parados em uma reunião. Apenas deixou a porta aberta para subir novamente em junho, como um "hedge" caso algo aconteça até a próxima reunião. Até porque, em 45 dias, muita coisa pode acontecer. Fechar totalmente a porta para o fim do ajuste seria imprudente. Mas, a sinalização desta quarta-feira é que o Copom preparou o terreno para não subir mais a taxa Selic, após a alta de 0,50%, para 14,75%, na reunião de junho. Houve pontos "dovish" significativos no texto do documento que acompanhou a decisão. O mais importante é que o Copom retirou a caracterização de "assimétrico" ao descrever o balanço de riscos. Ninguém pode parar de subir juros se o seu balanço de riscos da inflação é descrito como assimétrico.

E isso é totalmente diferente (e mais conservador) do que somente dizer que os riscos estão mais elevados do que o usual. A interpretação é que o Copom agora considera que o balanço de riscos está mais simétrico (apesar dos "riscos mais elevados do que o usual"), caso contrário teria deixado o termo "assimétrico". Além disso, ao falar dos riscos de baixa, o Copom listou três, antes eram apenas dois. Os riscos de alta permaneceram o mesmo. Apesar de citar a incerteza externa, a questão é que qualificou a desaceleração da economia global decorrente da guerra comercial como um risco baixista no seu balanço de risco. E também uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários. E esse risco desinflacionário das commodities é novo. Outra questão importante foi a sinalização para frente. De um lado, o texto do comunicado ponderou que o cenário é de incerteza elevada e, de outro, deu destaque ao estágio já avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados.

Em seguida, o comunicado acrescenta que esse cenário "demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação". Ou seja, o que o Copom está dizendo é mais ou menos isso: "Poxa, já fiz para caramba e provavelmente esse ajuste já feito vai funcionar, mas quero ter flexibilidade caso os dados surpreendam". Em outras palavras: o Copom está deixando apenas a porta "abertinha" para uma alta derradeira. Igualmente significativa foi a mudança no seguinte trecho em que diz que o Copom vai manter-se "vigilante e a calibragem do aperto monetário apropriado", quando antes o texto (na reunião de março) falava na calibragem do "ciclo" de aperto monetário. Ou seja, o Copom já não se considerava mais em um ciclo de alta de juros. Também chama a atenção que, no comunicado passado, o Copom dizia que a magnitude total do ciclo seria ditada pelo "firme compromisso" de convergência de inflação à meta.

No comunicado atual, o Copom não fala mais em "firme compromisso", mas apenas no "objetivo de trazer a inflação à meta no horizonte relevante. Faz completo sentido, até porque a projeção de inflação do Copom para o ano de 2026, de 3,6%, no cenário de referência. É uma projeção ainda elevada, porém já está dentro do intervalo da meta. Ou seja, se fosse ainda um "firme compromisso" de trazer a inflação à meta, essa projeção de 3,6% seria inaceitável. Além de tudo isso, há ainda mais um elemento que vale a pena lembrar: a última vez que o Copom, ainda sob o comando de Roberto Campos Neto, citou que o impacto acumulado do ajuste demandaria cautela na condução da política monetária foi quando o Banco Central fez a última alta do ciclo de aperto monetário em 2022. Com todas as informações dadas no comunicado, o "default" do Copom é de não subir mais a Selic. O ciclo provavelmente acabou. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.