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08/May/2025

China: medidas para se defender de tarifas dos EUA

A China começa a sentir os efeitos da guerra comercial com os Estados Unidos. Dados de confiança divulgados no dia 6 de maio mostram fraqueza generalizada na indústria, com destaque para novas ordens de exportação. Nos serviços também houve desaceleração da confiança, mas sem se chegar ao terreno negativo (como numa das métricas da indústria). Também no dia 6 de maio, e não por coincidência, segundo o economista Livio Ribeiro, da BRCG e do Ibre-FGV, e especialista em China, o banco central chinês anunciou uma série de reduções de juros: 0,5% na taxa dos depósitos compulsórios, liberando 1 trilhão de renminbis (US$ 138 bilhões) de liquidez na economia; e reduções de 0,1% a 0,25% em taxas referenciais de empréstimos, refinanciamento e crédito imobiliário.

"A China não foi pega de surpresa pela guerra comercial, está se preparando há bastante tempo, e vai tomar uma série de medidas de política econômica para sustentar os setores que serão mais afetados pelo choque tarifário, com foco em pequenas e médias empresas exportadoras", aponta Ribeiro. O analista reitera que a China vai fazer tanto quanto for necessário para estabilizar esses setores que mais sofrem, e que as políticas já anunciadas são apenas o início. Há discussões, ele acrescenta, que nem foram mencionadas nessa última leva de medidas, mas que já foram realizadas e podem levar a medidas adicionais.

Uma delas é a de um programa de sustentação de empregos (nos segmentos atingidos pelo tarifaço), que poderia ser parecido com o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), aplicado pelo Brasil durante a pandemia. Assim, o fundamental a ter em mente em relação à reação chinesa ao tarifaço, segundo Ribeiro, é que "o estoque de políticas que existe hoje na praça vai mudar e ser ampliado em função da necessidade, conforme apareçam sinais de uma aceleração mais intensa do desemprego industrial". Isso claro, está ligado à duração e aos caminhos que tomará a guerra comercial entre Estados Unidos e China. Mas, o economista aponta que ainda são fundamentalmente políticas para dar mais saúde financeira às empresas e não, como o governo chinês tenta dar a entender, ações de estímulo à demanda.

"Não é porque o custo do capital é alto que os chineses não consomem, é porque eles têm medo, e o medo continua, especialmente nesse ambiente tão instável no mundo", assinala Ribeiro. Nesse contexto, volta com toda a força a preocupação com a poupança precaucional dos chineses, isto é, aquela poupança a mais que se faz como um seguro contra problemas e reveses no futuro, como desemprego, insuficiência de renda, desvalorização do patrimônio (basicamente imobiliário, no caso das famílias da China), etc. Na visão do analista, o ‘calcanhar de Aquiles’ da economia chinesa permanece na forma da enorme dificuldade para transitar para um modelo mais ligado ao consumo doméstico.

Essa é a intenção oficial do governo, mas, para Ribeiro, as políticas empregadas, embora efetivas para reagir no curto prazo ao choque tarifário, não são bem desenhadas do ponto de vista da transição de modelo. Um possível ponto positivo é que China e Estados Unidos estão programados para iniciar esta semana, em Genebra, uma rodada de negociações comerciais mais organizadas do que o tiroteio prevalecente até agora, iniciado por Donald Trump. O ambiente tal como está hoje não é sustentável, e é por isso que as partes vão se sentar à mesa, avalia o economista. Para ele, é muito difícil prever o tempo que esse processo vai tomar, porque ambas as partes vão querer chegar a um desfecho que possa ser caracterizado, em termos de narrativa política, como uma "vitória" do seu lado. Fonte: Fernando Dantas. Broadcast Agro.