29/Apr/2025
O dólar se firmou em baixa nesta segunda-feira (28/04), furou o piso de R$ 5,65 e emendou o sétimo pregão consecutivo de queda. O Real se apreciou apesar do dia negativo para seus principais pares latino-americanos, os pesos mexicano e chileno, e o ambiente externo marcado por pouco apetite ao risco, diante da ausência de sinais concretos de negociações comerciais entre Estados Unidos e China. A moeda brasileira pode ter se beneficiado de fluxo pontual de recursos externos para a bolsa e a renda fixa domésticas. Um ponto que chamou a atenção foi a fala do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reiterando o desconforto com as expectativas de inflação. A perspectiva de pelo menos mais uma elevação da taxa Selic e de manutenção da política monetária em campo restritivo por período prolongado não apenas aumenta a atratividade das operações de carry trade como desestimula a manutenção de posições compradas na moeda norte-americana contra o Real.
Com mínima a R$ 5,64, o dólar encerrou o pregão em baixa de 0,70%, a R$ 5,64, o menor valor de fechamento desde 3 de abril (R$ 5,62), dia seguinte ao tarifaço anunciado por Donald Trump. A divisa acumula desvalorização de 4,11% nos últimos sete pregões, o que leva as perdas no ano a 8,1%. Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY recuou e voltou a furar o piso dos 99,900 pontos. A moeda norte-americana caiu na comparação com a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Em abril, o Dollar Index desce mais de 5%. A Azimut Wealth Management observa que o dólar perde força globalmente tanto no mês quanto no ano em meio às incertezas em torno da política econômica norte-americana com o comportamento errático de Donald Trump. Houve em abril a adoção da política protecionista e os ataques do Trump ao Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que foram corrigidos, mas podem retornar.
Os investidores, que estavam com excesso de alocação nos Estados Unidos, procuraram outras geografias. Esse movimento beneficiou moedas desenvolvidas, como iene e o euro, mas também emergentes. Em tal quadro, o Real pode ter sido impulsionado por fluxo cambial melhor na margem, com investidores em busca de ativos descontados e pelo desmonte de posições de estrangeiros compradas em dólar por meio de derivativos cambiais. Apesar da apreciação recente, as moedas emergentes como Real continuam vulneráveis a episódios de aversão ao risco no exterior, em um ambiente marcado por incertezas. No episódio desta segunda-feira (28/04) da guerra comercial, o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, demonstrou otimismo com as negociações comerciais com Japão e Coreia do Sul, mas ponderou que as tratativas com a China são mais complicadas e terão de ser “conduzidas à parte”. Bessent voltou a dizer que cabe aos chineses diminuírem as tensões comerciais, dado que o nível atual das tarifas “é insustentável”.
Do lado chinês, o ministério das Relações Exteriores afirmou que não houve diálogo recente entre o presidente Xi Jinping e Donald Trump e que os dois governos não estão tentando neste momento fechar um acordo. “Se os Estados Unidos realmente querem resolver o problema por meio do diálogo e da negociação, precisam parar de ameaçar e chantagear “, disse o porta-voz do ministério. Na sexta-feira (25/04), em entrevista publicada pela Time, Trump disse que Xi havia ligado para ele. Para a Azimut, a conjuntura tende a continuar dominada pelas tensões comerciais e pelas tentativas de estimar a desaceleração da atividade provocada pela guerra tarifária, em especial nos Estados Unidos. Os sinais vindos da China são de que as autoridades estão preparadas sustentar o embate comercial pelo tempo que for necessário e não devem se pautar por recuos táticos da administração Trump. A postura da China é de combate contínuo no longo prazo.
As moedas emergentes e o Real experimentaram uma melhora, mas é preciso saber como vai ser o impacto no crescimento econômico e como fica o novo palco global de comércio para ver se isso se sustenta. No Brasil, depois das falas vistas como ‘dovish’ dos diretores do Banco Central Nilton David (Política Monetária) e Diogo Guillen (Política Econômica), o tom do presidente do Banco Central nesta segunda-feira (28/04) soou um pouco mais duro aos investidores e pode ter contribuído para o recuo da taxa de câmbio. Galípolo afirmou que o Banco Central tem uma certeza razoável de que a taxa Selic está em nível contracionista, mas ainda tenta entender se o juro já é restritivo o bastante. Galipolo adotou um tom bem adequado e não desautorizou os outros diretores. Reiterou o incômodo com a desancoragem das expectativas, mas disse que é preciso dar tempo para ver os efeitos desasados da política monetária. Provavelmente, o Banco Central vai promover uma elevação da taxa Selic em maio, mas ainda não se sabe sobre a continuidade do aperto. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.