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16/Apr/2025

Brasil: importações de produtos chineses disparam

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em meio aos efeitos da guerra comercial detonada pelo governo de Donald Trump, as importações da China para o Brasil bateram recorde no primeiro trimestre deste ano. Elas somaram US$ 19,058 bilhões, o que representa um crescimento de 34,9% em relação aos valores apurados no mesmo período de 2024 (US$ 14,124 bilhões). A importação brasileira de produtos da China é a maior da série histórica do MDIC, iniciada em 1989, para o primeiro trimestre. Até então, o recorde pertencia a 2022 (US$ 14,708 bilhões). Os números do Brasil ajudam a ilustrar o movimento adotado pela China, que acelerou as exportações para se antecipar ao tarifaço do presidente dos Estados Unidos. Em março, as exportações chinesas para todo o mundo cresceram 12,4% na comparação com o mesmo mês do ano anterior.

Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), houve uma corrida aos navios e uma aceleração importante das exportações chinesas para o mundo inteiro entre o final do ano passado e o primeiro trimestre deste ano. A China saiu ‘loucamente’ exportando para tentar fechar contratos numa estrutura tarifária anterior. Os produtos chineses responderam por 28,3% das importações brasileiras no primeiro trimestre. Até agora, o resultado de 2025 foi influenciado, sobretudo, pela importação de US$ 2,662 bilhões em plataformas e embarcações. A segunda encomenda vinda da China mais demandada pelos brasileiros foi a de válvulas e tubos (US$ 1,014 bilhão). Segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), desde o ano passado, a China está oferecendo condições vantajosas para que os importadores brasileiros sejam tentados a comprar produtos, que eventualmente nem estejam precisando naquele momento.

No ano passado, as importações da China somaram US$ 63,636 bilhões, uma alta de 19,7% na comparação com 2023. A incerteza tem dominado o comércio global desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, passou a adotar a política tarifária de maneira agressiva em seu novo mandato. Na semana passada, os Estados Unidos anunciaram que as tarifas impostas aos produtos chineses chegariam a 145%. Para os demais países, as tarifas recíprocas foram pausadas em 10% por 90 dias. Em resposta aos norte-americanos, a China adotou tarifas de 125%. Os especialistas ainda tentam entender qual será o novo equilíbrio do comércio global. A maior dúvida é o que vai ocorrer com o excedente de produtos chineses se o país asiático tiver mais dificuldade para acessar o mercado dos Estados Unidos. A grande preocupação é a China inundar o resto do mundo com seus produtos de baixo custo.

A China exporta anualmente US$ 450 bilhões para os Estados Unidos. Segundo Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, se perguntassem em 1º de janeiro, eu diria que o avanço da importação de produtos chineses continuaria em 2025, mas num ritmo menor, porque o crescimento brasileiro vai ser menor este ano. Agora, com essas medidas de Donald Trump, o cenário muda muito, porque haverá uma sobreoferta de produtos chineses. Vai haver desvio de comércio para o mundo. Isso é inevitável. Com uma poupança elevada, os chineses têm uma capacidade de consumo menor do que a observada em outros países, o que pode, portanto, dificultar a absorção de parte desse excedente. Em março deste ano, a China anunciou um plano para aumentar a renda e estimular o consumo. O país asiático tem como meta entregar um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 5% este ano.

A prescrição óbvia seria a China implementar políticas que estimulassem o consumo doméstico e desestimulassem a poupança. Ainda que o governo chinês esteja falando sobre isso de maneira mais clara, as políticas que foram colocadas na rua não fazem isso. Se a China falhar nesse plano de estimular o consumo e o comércio internacional permanecer travado, é aí que os produtos chineses devem começar a inundar outros mercados, como o brasileiro. A China vai tentar vender seus produtos a qualquer preço e o Brasil vai tentar evitar para que eles entrem a qualquer preço. A China está cercando o Brasil por todos os lados. O Brasil vai ser o país de destino de uma parcela das exportações que iriam para os Estados Unidos.

Em novembro passado, os presidentes do Brasil e da China assinaram 37 acordos bilaterais nas áreas de agricultura, indústria, investimentos e infraestrutura numa visita do presidente chinês, Xi Jinping, ao Brasil. Em maio, deverá ser a vez do presidente Lula visitar a China. Todos os países podem ser os recipientes desses produtos. A questão é que o Brasil, como México, Europa, e países do Sudeste Asiático, tem uma indústria doméstica suficientemente sofisticada, se não para competir para ao menos fazer lobby. A Anfavea, por exemplo, conseguiu impor uma tarifa contra veículos elétricos chineses. O grande problema será uma reação em cadeia, com os países impondo uma série de tarifas em cadeia no comércio global. Aí a situação sai do controle, porque todo mundo começa a taxar todo mundo e vira uma bagunça. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.