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11/Apr/2025

EUA: ajuda a agricultores será insuficiente e ineficaz

Autoridades do governo dos Estados Unidos estão avaliando um pacote de ajuda para socorrer agricultores do país, diante dos possíveis prejuízos causados pela nova escalada nas disputas tarifárias. Especialistas alertam, porém, que essa ajuda provavelmente não será suficiente para proteger totalmente os produtores dos impactos da guerra comercial. Qualquer pacote de ajuda tende a beneficiar principalmente as grandes propriedades, deixando muitos pequenos agricultores em situação difícil, como já ocorreu durante a guerra comercial de 2018. Segundo a Universidade Cornell, o governo pode cobrir parte das perdas por meio de auxílio. Mas raramente esses valores correspondem às perdas reais dos agricultores. Isso também não compensa a perda de mercado para países concorrentes como o Brasil. Os agricultores norte-americanos terão de buscar novos compradores, o que pode significar maiores custos com contratos e logística.

Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou tarifas de 10% sobre todas as importações, com taxas ainda mais altas para alguns países. China e outros parceiros comerciais anunciaram medidas de retaliação, muitas das quais têm como alvo produtos agrícolas dos Estados Unidos. A China já tinha aplicado tarifas de 10% a 15% sobre US$ 21 bilhões em produtos agrícolas norte-americanos em março. Na quarta-feira (09/04), a China anunciou uma tarifa de 84% sobre todos os bens dos Estados Unidos, um salto em relação aos 34% anunciados anteriormente. A União Europeia também aprovou seu primeiro pacote de retaliação, com tarifas sobre 21 bilhões de euros (US$ 23 bilhões) em produtos norte-americanos, incluindo amêndoas e soja. Caso a guerra comercial não seja resolvida em breve, as medidas retaliatórias poderão reduzir as exportações agrícolas dos Estados Unidos, pressionar as cotações e reduzir os lucros dos agricultores, que já enfrentam preços baixos de commodities e aumento nos custos de produção.

Segundo a Federação Agrícola Americana, as exportações representam cerca de 20% da renda agrícola dos Estados Unidos. O impacto pode ser ainda maior para culturas como a soja, cuja metade da produção é exportada. As tarifas dos Estados Unidos sobre produtos importados (de fertilizantes a máquinas agrícolas) também podem aumentar ainda mais os custos para os produtores e reduzir suas margens de lucro. Em comparação a 2018, quando teve início a primeira guerra comercial entre Estados Unidos e China, os agricultores enfrentam hoje uma situação financeira pior. Os preços de muitas commodities vêm caindo, enquanto os custos com terras, sementes, pesticidas e fertilizantes continuam subindo. Isso significa margens mais estreitas e menos reservas para lidar com a queda na receita. Em 2018, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) anunciou um pacote de ajuda de US$ 12 bilhões que incluía pagamentos diretos, compras governamentais de excedentes e desenvolvimento de novos mercados de exportação.

Um ano depois, foi lançado outro pacote de US$ 16 bilhões, totalizando US$ 28 bilhões. Somente os pagamentos diretos entre 2018 e 2020 somaram US$ 23 bilhões, segundo o Environmental Working Group, organização de ativismo agrícola. Isso representou mais de um quarto da receita total das fazendas em 2019, e quase a metade em 2020. Apesar dos bilhões de dólares em ajuda federal, as falências de fazendas familiares aumentaram 20% em 2019, chegando a quase 600 casos, de acordo com a Federação Agrícola Americana. Como os subsídios eram baseados em volume, acabaram beneficiando mais as grandes fazendas, e não necessariamente aquelas mais vulneráveis. Para 2025, os pagamentos diretos do governo aos agricultores já devem atingir US$ 42,4 bilhões, mais de quatro vezes os US$ 9,3 bilhões do ano passado, de acordo com o USDA. Qualquer nova ajuda ligada à guerra tarifária pode deixar os subsídios agrícolas deste ano acima dos níveis de 2020, estabelecendo recorde.

Segundo o Santander, a nova rodada de tarifas comerciais entre Estados Unidos e China pode provocar perdas de até US$ 6,5 bilhões aos produtores rurais norte-americanos e abrir espaço para ganhos ao Brasil no mercado global de grãos. O impacto direto das tarifas recai sobre os custos de insumos agrícolas, principalmente os defensivos. Com base na exposição atual a químicos agrícolas, isso pode criar um ônus de US$ 6,5 bilhões para os agricultores dos Estados Unidos em milho, soja e trigo. Apesar do impacto, o setor continua operando acima do ponto de equilíbrio no curto prazo. Os agricultores dos Estados Unidos trabalham acima do break even em base de caixa, mesmo após as tarifas. O custo de produção nos Estados Unidos pode subir em dígitos médios, assumindo repasse total das tarifas sobre 70% dos custos com químicos. Além dos custos, há risco de redução no uso de tecnologias para conter despesas. Os agricultores norte-americanos podem reduzir o pacote tecnológico (particularmente químicos) para economizar com insumos, criando riscos adicionais à produtividade, o que, no fim, seria positivo para o equilíbrio global entre oferta e demanda.

A China, que responde por 23% das exportações de soja dos Estados Unidos, pode redirecionar parte da demanda para outros fornecedores. Essa medida dos Estados Unidos representa um cenário positivo para os agricultores brasileiros, que podem se beneficiar de demanda adicional e preços mais altos. O Farm Bill dos Estados Unidos oferece uma rede de proteção ao setor. Em março, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) destinou US$ 10 bilhões em assistência direta aos produtores, com pagamentos de US$ 29,76 por acre para soja, US$ 30,69 para trigo e US$ 42,90 para milho. Ainda assim, os efeitos colaterais podem prejudicar outros segmentos do agronegócio. A depreciação de máquinas pode representar de 25% a 50% dos custos de produção de milho, soja e trigo. A redução no lucro líquido em caixa pode levar à queda da demanda por equipamentos e à renovação mais lenta da frota. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.