10/Apr/2025
Engenheiro agrônomo de formação, com mestrado e doutorado em Ciência do Solo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Aurélio Pavinato tem 32 anos de SLC Agrícola. Há anos, ocupa o cargo de diretor-presidente, como ele prefere ser chamado. Nascido na Colônia de Barreiro, no interior gaúcho, o diretor-presidente de uma das gigantes do agronegócio está otimista com o Brasil. Para resolver os gargalos do setor, diz ele, é preciso uma única coisa: demanda. A partir disso, tudo se resolve. Fundada em 1977 e com sede em Porto Alegre (RS), a SLC é uma das maiores produtoras de commodities agrícolas do País. Tem cerca de 730 mil hectares de área plantada em 26 unidades de produção, localizadas em sete Estados. Para Pavinato, num contexto em que a crise climática é fato, a COP30, que será realizada em Belém (PA), vai ser importante, no mínimo, para que o Brasil que produz e conserva apareça para o mundo. Segue a entrevista:
A SCL atua no Cerrado, um bioma que sempre está na berlinda quando se fala em conservação. Qual a preocupação em relação ao tema?
Aurélio Pavinato: A empresa foi fundada em Horizontina, Rio Grande do Sul, e vendemos a nossa fábrica de máquinas para a John Deere em 1999. Depois, migramos para o Cerrado, onde havia áreas maiores para expansão. Hoje, temos 26 fazendas em sete Estados do Cerrado. Produzimos grãos como soja, milho e algodão, além de sementes de soja e algodão. Recentemente, também entramos na integração da lavoura com a pecuária, comprando e engordando gado. Historicamente, a expansão da produção ocorreu pela conversão de novas áreas. Mas o Brasil ainda tem dois terços da sua superfície coberta por vegetação nativa. Há um potencial enorme de conversão de pastagens degradadas em áreas produtivas. Por isso, acreditamos que a demanda por alimentos pode ser atendida sem desmatar novas áreas. As pastagens cobrem uma área ao redor de 170 milhões de hectares. Desse total, entre 30 e 40 milhões de hectares são aptos para a produção de grãos. Três quartos do aumento na oferta de alimentos ao longo dos últimos 50 anos, em nível mundial, foram supridos pelo aumento de produtividade.
Vocês têm compromissos de não desmatar?
Aurélio Pavinato: Sim. Desde agosto de 2021, nosso compromisso com investidores é não fazer a expansão das nossas operações em áreas desmatadas. Além disso, temos o objetivo de sermos carbono neutro em 2030 nos escopos 1 e 2. Para isso, implementamos projetos de preservação de reservas legais, intensificação do plantio direto e aumento das atividades que contribuem para as remoções de carbono.
Mas a imagem do Brasil no exterior, quanto ao meio ambiente, ainda tem problemas?
Aurélio Pavinato: A principal questão é a percepção internacional sobre as queimadas e o desmatamento. A maioria das queimadas no Brasil é criminosa, e isso precisa ser combatido com fiscalização rigorosa. Se reduzirmos esses índices, poderemos melhorar nossa imagem global rapidamente. Mas há 20 anos não tínhamos o reconhecimento que temos hoje como potência agrícola. No entanto, ainda precisamos aprimorar a imagem do País no que se refere à preservação ambiental. Se resolvermos essa questão, consolidamos nossa posição como líder global no agronegócio sustentável.
Há uma guerra comercial em curso entre EUA e China. Como isso afeta o Brasil?
Aurélio Pavinato: O Brasil pode se beneficiar dessa nova dinâmica, especialmente no que tange à sustentabilidade. A Europa, por exemplo, que costuma impor restrições ao Brasil, pode rever sua posição, pois precisa de fornecedores confiáveis. Além disso, o Brasil demonstrou um avanço tecnológico expressivo na agricultura sustentável, aumentando a produtividade sem comprometer os recursos naturais. A produtividade brasileira é significativamente maior na comparação internacional. Produzimos cerca de 6 toneladas por hectare, enquanto a média mundial é de 3,5 toneladas. Temos a garantia de um sistema produtivo eficiente e perene.
Quais os grandes gargalos do agronegócio hoje?
Aurélio Pavinato: Se você olhar os últimos 25 anos, de 2000 para cá, quando a demanda mundial cresceu fortemente, puxada pela China, o Brasil expandiu fortemente a sua produção, gerou gargalos logísticos, mas os gargalos logísticos foram sendo superados no Brasil. Primeiro aumenta a produção e, depois, se resolve a logística, e é assim que tem acontecido ao longo da história. Então, resumindo, para o Brasil aumentar muito a sua produção nos próximos anos o que precisa ter? Demanda. O País tem tecnologia, pessoas capacitadas e infraestrutura logística em melhoria contínua. Quando a demanda mundial aumenta, o Brasil expande sua produção. Nos últimos 20 anos, crescemos cerca de um milhão e meio de hectares por ano. Nossa logística se adapta conforme a demanda. Além disso, temos um marco regulatório sólido.
Como a COP30 se relaciona com o agronegócio?
Aurélio Pavinato: A COP30 é uma grande oportunidade para o Brasil demonstrar seu potencial de produção sustentável. Precisamos apresentar nossas soluções modernas e eficientes, destacando a conservação ambiental aliada à produtividade. O Brasil tem uma matriz energética renovável exemplar e um setor agroindustrial inovador. A COP30 será um momento crucial para fortalecer nossa imagem global e consolidar o País como referência em produção sustentável e conservação ambiental.
Fonte: Broadcast Agro.