07/Apr/2025
Importadores chineses já estão estocando soja brasileira enquanto a China está retaliando as tarifas dos Estados Unidos com taxas sobre produtos agrícolas norte-americanos. Fornecedores brasileiros de itens que vão de algodão a frango apostam no aumento da demanda chinesa. O Ibovespa, fortemente atrelado a commodities, subiu 9% este ano até o fechamento do dia 1º de abril enquanto o S&P 500 caiu 4,2% no mesmo período. Essas preparações refletem uma relação comercial entre Brasil e China que cresceu significativamente nos últimos anos. Rico em carne bovina, minério de ferro e petróleo, o Brasil possui matérias-primas que a vasta população chinesa precisa. Já a China dispõe do capital que a maior economia da América Latina necessita para construir infraestrutura essencial. Ao mesmo tempo, o Brasil vê oportunidades de aumentar exportações para os Estados Unidos e outros países afetados pelas tarifas de Donald Trump, que o governo brasileiro planeja ampliar para vários parceiros comerciais.
O Brasil é o maior produtor de calçados fora da Ásia, a expectativa é enviar mais sapatos para os Estados Unidos, substituindo produtos chineses, o que seria um impulso para o País que busca exportar bens com maior valor agregado. Novas tarifas dos Estados Unidos poderiam afetar o Brasil. No entanto, a China enfrenta tarifas ainda maiores, dando aos produtos brasileiros uma vantagem relativa. Embora Donald Trump tenha destacado as altas tarifas do Brasil, os Estados Unidos têm um superávit comercial duradouro com o País. A consultoria APCE atribuiu a recente força da moeda brasileira ao otimismo em torno do comércio global. Donald Trump está ‘reorganizando’ o comércio e isso está criando oportunidades. Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou o Japão, onde concordou com o primeiro-ministro Shigeru Ishiba sobre medidas para abrir o país para importações de carne bovina brasileira. Atualmente, o Japão importa cerca de 40% da carne dos Estados Unidos sob um acordo de 2019, que analistas que pode estar ameaçado após a imposição de tarifas norte-americanas.
“Trump não é o xerife do mundo, ele é apenas presidente dos Estados Unidos”, afirmou o presidente Lula durante a visita ao Japão. Ainda: “Precisamos superar o protecionismo e garantir que o livre comércio possa crescer.” Os Estados Unidos ainda são o maior investidor estrangeiro no Brasil, que permanece um aliado importante fora da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). O Brasil, grande exportador de aço para os Estados Unidos, já foi atingido pelas amplas tarifas de Trump sobre aço e alumínio estrangeiros. Atualmente, o País negocia com o governo Trump para reduzir o impacto dessas tarifas sobre seus produtores de aço. Ainda assim, investidores e empresários esperam uma repetição do primeiro mandato de Donald Trump, quando o Brasil se beneficiou significativamente das tensões comerciais globais, principalmente por meio do aumento da demanda chinesa. Na época, a China comprou mais soja, grãos e carne bovina da América Latina em retaliação às medidas comerciais dos Estados Unidos. Agricultores norte-americanos perderam quase US$ 26 bilhões em exportações agrícolas em 2018 e 2019, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Essas tensões comerciais provavelmente levarão a China a comprar mais grãos e proteínas do Brasil, reduzindo a demanda nos Estados Unidos e impulsionando exportações brasileiras de soja, carne bovina e frango, afirmou a Datagro. Desde que ultrapassou os Estados Unidos como o maior parceiro comercial do Brasil em 2009, a China investiu mais de US$ 70 bilhões no País, conquistando líderes empresariais e políticos. Empresas chinesas controlam cerca de 10% do fornecimento de eletricidade no Brasil, construíram muitos de seus portos e rodovias e estão construindo centenas de quilômetros de ferrovias. Carros chineses já são comuns no País. O presidente Lula tornou as relações com a China uma prioridade, recebendo o líder chinês Xi Jinping em novembro/2024. Em 2023, Lula visitou Pequim. Mesmo antes de Donald Trump assumir em janeiro, processadores chineses começaram a estocar soja brasileira, comprando quase todo o grão necessário para o primeiro trimestre do Brasil, comparado a cerca de 54% do país no primeiro trimestre de 2024.
Os preços também estão subindo. O prêmio para soja nos portos brasileiros (valor extra pago acima do preço de referência) subiu cerca de 70% no mês passado, após a China anunciar uma tarifa de 10% sobre a soja dos Estados Unidos. O prêmio chegou a +US$ 0,85 por bushel para embarque em março, o maior nível em três anos. As exportações brasileiras de frango e ovos já aumentaram 9% e 20%, respectivamente, este ano em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal. O Brasil escapou do surto de gripe aviária que afetou o comércio global de aves, ampliando seu apelo à China como alternativa aos Estados Unidos, após o governo chinês impor uma tarifa de 15% sobre o frango dos Estados Unidos. Laços comerciais mais profundos entre Brasil e China têm implicações estratégicas para os Estados Unidos. Autoridades norte-americanas veem uma ameaça econômica e militar na presença chinesa na América Latina, especialmente em projetos com potencial uso militar, como um porto de águas profundas concluído recentemente no Peru e uma estação de rastreamento de satélites na Argentina.
Recentemente, o Brasil tem focado na expansão da limitada rede ferroviária para reduzir custos e combater a inflação alimentar. Em seu projeto inaugural no País, a estatal China Railway está construindo parte da ferrovia Fiol, que conecta o centro agrícola brasileiro aos portos do leste e norte do Brasil. A China tem tanto o conhecimento internacional quanto a capacidade de investir, afirmou Renan Filho, ministro dos Transportes. Ao mesmo tempo, algumas empresas brasileiras estão de olho no mercado norte-americano em meio à turbulência comercial. A China é uma grande exportadora de calçados para os Estados Unidos, mas as tarifas sobre importações chinesas podem restringir esse comércio. Fabricantes brasileiros veem uma oportunidade para um setor que se beneficia de uma oferta abundante de couro, graças à forte indústria agropecuária nacional. A Abicalçados, a associação da indústria calçadista brasileira, vê uma oportunidade de crescimento nas exportações para os Estados Unidos, que já é o principal destino. Fonte: InvestNews. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.