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07/Apr/2025

Brasil: impactos das tarifas na exportação do Agro

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) considera precipitado avaliar eventuais perdas ou ganhos para o Brasil com o anúncio das tarifas recíprocas pelos Estados Unidos. A entidade destaca o fato de que novas tarifas podem ser impostas, caso o governo norte-americano entenda que as medidas anunciadas não sejam eficazes. Como a ordem executiva cita que eventual redução de medidas significativas para corrigir arranjos comerciais não recíprocos poderá diminuir ou limitar o escopo das tarifas impostas, cabe ao governo brasileiro seguir explorando a via negociadora com os Estados Unidos para buscar mitigar as tarifas anunciadas e alcançar benefícios mútuos para ambas as nações. Instrumentos de proteção para medidas retaliatórias e barreiras unilaterais, com a lei da reciprocidade, devem ser adotados apenas após o esgotamento dos canais diplomáticos. A alteração tarifária afeta todos os países, inclusive grandes exportadores de produtos agropecuários.

E, por isso, tem alto potencial de impacto no comércio internacional. Em relação ao Brasil, que será alvo de uma sobretaxa de 10% sobre os produtos que entrarem no território norte-americano, a CNA destacou que os Estados Unidos são o terceiro principal destino dos produtos do agronegócio brasileiro. Com a nova tarifa, as alíquotas nominais médias sobre os produtos do agronegócio brasileiro passarão a 13,9% ante 3,9% do valor do produto. Apesar do acréscimo, o Brasil estará em uma posição melhor, se comparado aos casos em que os Estados Unidos importam produtos de mercados que contarão com taxas maiores, como é o caso dos bens da União Europeia que receberão sobretaxas de 20%. A participação dos Estados Unidos na pauta exportadora do agronegócio brasileiro ficou entre 6% e 7,5% nos últimos dez anos. Isso evidencia um mercado consolidado para os produtos brasileiros, que apresenta relativa previsibilidade do ponto de vista geral.

Os produtos agropecuários respondem por cerca de 30% do total das exportações brasileiras aos Estados Unidos. Quanto aos produtos agropecuários, o café verde é o principal item da pauta exportadora entre Brasil e Estados Unidos, seguido por celulose e suco de laranja. A elevação das alíquotas de importação sobre estes produtos pode minar a competitividade do Brasil neste mercado, impactando os rendimentos do produtor. No caso do suco de laranja, os Estados Unidos contam com alguma produção no mercado doméstico, que seria muito favorecida em relação à alternativa brasileira. A CNA analisou ainda a capacidade de redirecionamento dos produtos do agronegócio brasileiro vendidos aos Estados Unidos por meio do grau de exposição de cada produto à economia norte-americana através da aferição da participação do mercado americano no total das exportações de cada setor.

Sebo bovino; obras de marcenaria ou carpintaria; madeira perfilada; outras substâncias proteicas; carne bovina industrializada e outros produtos de origem animal são itens com grau de exposição crítica, ou seja, aqueles em que o desvio para outros destinos é "praticamente impossível" dado o alto grau de dependência do mercado norte-americano. Produtos com alta exposição ao mercado dos Estados Unidos encontrarão dificuldades para a absorção por outros mercados. São eles: óleo essencial de laranja; calçados de couro; madeira compensada ou contraplacada; móveis de madeira; madeira serrada; sucos de laranja; couros/peles de bovinos, preparados; painéis de fibras ou de partículas de madeira; café solúvel; café verde; álcool etílico, celulose e papel. O fumo não manufaturado; açúcar refinado; carne bovina in natura e açúcar de cana-de-açúcar em bruto, classificados como exposição leve ou moderada aos Estados Unidos, podem encontrar algumas oportunidades em outros mercados, mas ainda sentindo os impactos do tarifaço. Juntos, estes produtos citados respondem por 85% de tudo que o agronegócio exporta aos Estados Unidos.

A CNA avalia que os setores de suco de laranja, carne bovina e etanol serão os mais afetados pelas sobretaxas que serão adotadas pelos Estados Unidos sobre produtos importados. A análise considera a alta representatividade do Brasil nas importações norte-americanas nestes mercados. Nestes casos, o Brasil não teria 'espaço' para ganhar de um eventual concorrente, sendo o único ou principal País afetado. É o caso dos sucos de laranja resfriados e congelados, onde o Brasil representa 90% e 51% das compras norte-americanas, respectivamente; da carne bovina termoprocessada, com 63%; e do etanol, com 75%. Há também potencial de perda de mercado para o agronegócio brasileiro em itens produzidos pelos Estados Unidos, nos quais o Brasil complementa o abastecimento norte-americano com as exportações. É o caso da carne bovina, na qual a produção nos Estados Unidos alcança 12,3 milhões de toneladas, mas o consumo atinge 13 milhões de toneladas, e do óleo de soja, entre outros produtos, nos quais o consumo fica próximo da produção.

A CNA avaliou também os impactos para os produtos do agronegócio brasileiro com base na "sensibilidade" das importações americanas em relação às variações de preços dos bens importados, considerando que haverá sobretaxa de 10% sobre os produtos brasileiros, o qual tende a ser repassado para os preços no mercado norte-americano. O resultado mostra que os principais produtos afetados seriam justamente aqueles em que o Brasil é dominante no mercado dos Estados Unidos, como por exemplo os sucos de laranja e outras frutas, o etanol e o açúcar que concorrem em parte com a produção interna dos Estados Unidos. Pode haver desvios de comércio em casos em que os concorrentes brasileiros enfrentem maiores tarifas. De acordo com a análise preliminar da entidade, para o suco de laranja brasileiro, a importação dos Estados Unidos com tarifa adicional de 10% em relação à alíquota atual de importação cairia de 1,004 bilhão de litros (base 2023) para cerca de 261 milhões de litros.

Ou seja, uma perda de exportação para o Brasil de 743 milhões de litros de suco de laranja exportados em cenário de tarifas elevadas. A alíquota atual de importação de suco de laranja sairia de 5,9% para 15,9%. No etanol, a CNA projeta uma queda de demanda norte-americana pelo produto brasileiro de até 41 milhões de litros, saindo de 337 milhões de litros (base embarques 2023) para 296 milhões de litros com a elevação da tarifa de 2,5% para 12,5%. Para o açúcar, o impacto pode chegar a 28 mil toneladas, estima a CNA, passando de exportações brasileiras de 73 mil toneladas (base 2023) para 45 mil toneladas, com o aumento da tarifa de 33% para 43%. Em carne bovina congelada, o recuo dos embarques pode chegar até 17 mil toneladas ante as 20 mil toneladas exportadas em 2023, em virtude da alta das tarifas de importação de 26,4% para 36,4%. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.