04/Apr/2025
O poder público não tem conseguido controlar os incêndios pelo Brasil e o problema fica mais desafiador a cada ano. Isso porque as mudanças climáticas e a degradação ambiental pioram o espalhamento do fogo, ao tornar as chamas mais rápidas e aumentar o alcance dos focos. Ou seja: as queimadas deixam o planeta mais quente e, por outro lado, o aquecimento global faz com que os incêndios sejam piores. A temporada de fogo bateu recordes no Brasil no ano passado. Foram 278.229 focos no País, o pior número em 14 anos e alta de 46% em relação a 2023, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O Ministério do Meio Ambiente alega ter aumentado em 25% o total de brigadistas. O cenário mais crítico para incêndios florestais extremos não é apenas nacional, mas global, e é intensificado pelas mudanças climáticas e fenômenos como o El Niño.
Em janeiro/2025, queimadas de grandes proporções devastaram bairros residenciais de Los Angeles, na Califórnia (EUA), em pleno inverno. Entre março de 2023 e fevereiro do ano passado, uma área como a da Índia queimou no planeta, de acordo com o estudo global State of Wildfires 2023-2024, divulgado pela revista científica europeia Copernicus Publications. Eventos extremos de fogo castigaram Canadá, Grécia, a Amazônia Ocidental e partes do norte da América do Sul, causando ainda centenas de mortes no Havaí e no Chile. Na Amazônia, conclui-se que o clima esteve de 20 a 28 vezes mais favorável a incêndios do que nos anos anteriores, e a área queimada no sudoeste do bioma foi 50% maior por causa da crise climática. O bioma foi o que concentrou o maior número de focos no País, mas Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica também tiveram queimadas significativas em 2024. 5 razões por trás desse cenário mais problemático:
- Fogo está mais difícil de controlar: conforme o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), as mudanças climáticas, ambientais e até sociais, relativas ao uso criminoso do fogo, têm feito com que ecossistemas se incendeiem mais facilmente. Não havia essa preocupação com o fogo se espalhar pela floresta. E agora, no manejo, o fogo “escapa”. De forma geral, essa maior flamabilidade tem a ver com a alteração no padrão de chuvas, que deixa a vegetação mais seca em diferentes biomas, e com o aumento das temperaturas por conta da mudança climática. Isso favorece a propagação dos incêndios e forma o que especialistas chamam de eventos ou desastres compostos, em que o fogo está associado a secas extremas e ondas de calor. Com isso, produtores rurais e populações tradicionais que sempre utilizaram o fogo para limpar o roçado, por exemplo, passaram a perder o controle. No caso das florestas, antes a umidade continha o avanço das chamas, mas isso mudou. Além dos casos de ignição acidental, é preciso considerar os incêndios criminosos. É um ponto crítico, um grau de flamabilidade em que alguém com um fósforo pode representar ameaça para toda uma região.
- Fogo está mais quente e mais rápido: além da facilidade com que os incêndios têm se espalhado, a característica do fogo também mudou. Ele está mais quente e rápido pela secura da vegetação, que atua como combustível, e causa impactos mais drásticos. Isso é bastante dramático para o componente do combate. São situações novas e mais perigosas do ponto de vista de risco à vida humana, de quem está na linha de frente. Em relação ao Pantanal, o Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul costuma descrever a mudança na dinâmica dos incêndios no Pantanal como um “fogo 3D”. Se antes ele só corria pela vegetação mais rasteira, agora alcança a copa das árvores, o que resulta numa mortalidade mais elevada de animais e plantas no bioma.
- Período de risco de fogo está maior: em 2024, o Brasil enfrentou a maior seca dos últimos 70 anos. As estiagens mais prolongadas aumentam o tempo em que há risco de incêndios nos biomas. No Cerrado, por exemplo, a Universidade de Brasília (UnB) explica que a estação chuvosa se deslocou nas últimas décadas, passando a iniciar 30 dias mais tarde. Está começando a chover menos no Cerrado, e as chuvas estão ficando mais concentradas. No início de setembro, era comum que as primeiras chuvas começassem a cair e que as populações tradicionais inaugurassem as queimas pré-plantio. Hoje, a estação úmida pode chegar só em meados de outubro, e esse “atraso” amplia a quantidade de dias com risco muito alto de fogo no bioma, em que qualquer ignição pode causar um grande incêndio.
- Florestas estão queimando mais: em 2024, mais de 30,8 milhões de hectares queimaram no País, segundo os dados da plataforma Monitor do Fogo do MapBiomas. A área queimada foi 79% maior do que em 2023 e é maior do que o território da Itália. Não é apenas a extensão que preocupa o MapBiomas Fogo. Os dados da ferramenta mostram que, a cada ano, grande parte da área queimada nacionalmente já era de vegetação nativa, mas consistia geralmente em campos mais abertos, de cobertura vegetal savânica (com gramíneas, arbustos e árvores esparsas), característica do Cerrado e de alguns trechos do Pantanal. No ano passado, a maior parte das áreas afetadas (14 milhões de hectares, o equivalente a 45,5% do total) eram de floresta, sendo a Amazônia o bioma mais atingido pelo fogo em 2024. O fato é alarmante pela vulnerabilidade crescente desses ecossistemas ao fogo e pela recuperação mais lenta das florestas, que não são adaptadas a incêndios. A floresta atingiu um ponto em que ela não consegue mais ter barreira para o fogo se espalhar.
- Áreas que já queimaram ficam mais suscetíveis: florestas e outros tipos de vegetação queimadas perdem, em grande parte, a capacidade de reter umidade e têm mais material combustível no solo para queimar, uma combinação perfeita para que o fogo se espalhe. Isso aumenta a probabilidade de que áreas que já pegaram fogo sejam atingidas novamente. Estudos mostram que, mesmo biomas que preveem ocorrências naturais de fogo, como o Cerrado e o Pantanal, podem ter dificuldade de se recuperar com a maior recorrência e intensidade dos incêndios. Cerca de 65% da área afetada pelo fogo no País de 1985 a 2023 foi queimada mais de uma vez, sendo o Cerrado o bioma com a maior quantidade de queima recorrente, segundo o MapBiomas Fogo. Ao longo de quase quatro décadas, foram 199 milhões de hectares queimados pelo menos uma vez no Brasil (23% do território).
Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.