04/Apr/2025
O Paraná oficializou, nesta quinta-feira (03/04), na B3, o lançamento do primeiro Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) estadual do País, com potencial inicial de R$ 2 bilhões e previsão de expandir o modelo para alavancar até R$ 14 bilhões nos próximos meses. O mecanismo busca suprir a insuficiência de recursos do Plano Safra federal para investimentos no campo. Com um aporte inicial de R$ 350 milhões do governo estadual via Fomento Paraná, o fundo utilizará a estrutura de Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) para oferecer financiamentos a juros subsidiados, em torno de 9% ao ano, com foco em projetos de infraestrutura para o agronegócio estadual. O governador Ratinho Junior afirmou que o Estado está colocando R$ 350 milhões que alavancam R$ 2 bilhões. O Estado já tem recursos reservados para lançar mais quatro ou cinco fundos nos próximos meses. Até meados de agosto ou setembro, serão lançados mais quatro fundos.
O modelo funciona com o governo atuando como cotista sênior, subsidiando parte dos juros, enquanto a gestão fica totalmente a cargo da iniciativa privada. A Suno Asset, selecionada via edital público, será responsável pela administração do fundo, com estruturação da Valore Elbrus. A demanda por fundos específicos já é expressiva. Mais quatro cooperativas que estão preparando seus fundos. O Banco New Holland também já está fazendo o mesmo. São quase 10 segmentos do setor do agro que querem levantar seu fundo. Os recursos serão direcionados exclusivamente para investimentos de médio e longo prazo, e não para custeio. O foco serão projetos de armazenagem, sistemas de irrigação, aviários e plantas industriais. O fundo integra a estratégia do governo paranaense de industrializar a produção agrícola, agregando valor às commodities. A ideia é não ser apenas produtor de matéria-prima, mas um “supermercado do mundo". A industrialização pode quadruplicar o valor da produção primária.
A indústria local será beneficiada, mas sem restrições absolutas. Há algumas regras para preferencialmente comprar produtos do Paraná, mas isso não impede que não se possa adquirir de outros Estados, quando necessário. Na avaliação do governador, o modelo surge como resposta às limitações do Plano Safra federal, que tem enfrentado restrições orçamentárias e não acompanha a expansão do setor. O agronegócio cresce a taxas de 25% ao ano, e o Plano Safra sozinho não atende toda a demanda. O lançamento ocorre em um cenário de juros elevados que, segundo o governador, torna inviáveis muitos investimentos necessários. O dinheiro está tão caro que dificulta o investimento no patamar que seria desejável. Quando surge uma solução com juros mais acessíveis, o setor se anima. Informações de bastidores indicam que os próximos fundos devem ser direcionados a nichos específicos, como bioenergia, logística e máquinas agrícolas.
O modelo paranaense já desperta interesse de outros Estados, que veem nele uma possibilidade de descentralizar o financiamento agrícola. O Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro-FIDC) terá uma estrutura de três níveis de cotas, que prioriza a segurança dos recursos públicos e busca atrair capital privado para o agronegócio. Segundo a Suno Asset, a Fomento Paraná participa com cerca de 20% do capital, por meio da chamada cota sênior (a mais protegida contra inadimplência), remunerada a 4% ao ano. A engenharia financeira permite oferecer crédito com taxas próximas a 9% ao ano, voltadas a investimentos de médio e longo prazo, como irrigação, armazenagem e expansão de agroindústrias. É isso que viabiliza o crédito na ponta ser próximo de 9%. As chamadas cotas mezanino, intermediárias em termos de risco e retorno, são adquiridas por investidores do mercado de capitais. As cotas subordinadas, que assumem o primeiro risco em caso de inadimplência, ficam com as cooperativas e agroindústrias que direcionam os recursos aos produtores.
Quem coloca o dinheiro mais barato ganha menos, mas está mais protegido. O benefício do crédito para o cooperado não é do mercado de capitais, é da cooperativa. Na prática, o modelo cria um forte alinhamento de interesses entre as partes. A cooperativa, que é o maior beneficiário dos recursos, é também quem corre mais risco de inadimplência. Ela conhece os cooperados e faz o primeiro filtro de crédito. Destaque para o potencial de alavancagem. Um aporte de R$ 100 milhões da Fomento Paraná, por exemplo, pode destravar até R$ 714 milhões. Se R$ 100 milhões é 14% de alguma coisa, quanto é 100%? 714. É o 7 a 1. O produto tem despertado forte interesse do mercado financeiro. Após o anúncio público do fundo no jantar da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o telefone da gestora Suno Asset "tocou imediatamente" com manifestações de investidores. A demanda vem forte quando o produto é bem estruturado e transmite segurança. A análise de crédito seguirá critérios rigorosos.
A Suno utiliza uma lista automatizada de 24 itens, que inclui verificação de questões ambientais e legais. Se houver denúncia de trabalho escravo ou problema ambiental, é eliminatório. O primeiro Fiagro deve ser lançado em parceria com a cooperativa C.Vale, com uma configuração de aproximadamente 43% de cotas mezanino e 35% a 37% de subordinadas. A estrutura pode variar conforme o parceiro. Ao trabalhar com uma cota sênior de 14%, é possível alavancar por até sete vezes o valor aportado pelo Estado. Entre os segmentos prioritários estão irrigação e armazenagem. Sem irrigação dá para fazer duas safras. Com irrigação, até três, o que representa aumento de 50% na produção. A falta de estrutura de armazenagem obriga o produtor a vender na hora da colheita, muitas vezes com preços pressionados. O mercado está pronto para absorver a meta de R$ 14 bilhões em Fiagros projetada pelo governo do Paraná nos próximos anos. É um mercado de investimentos que movimenta trilhões. Se houver produto bom, com política de crédito bem definida, o dinheiro vem. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.