04/Apr/2025
No que foi batizado de “Dia da Libertação” (02/04), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas que ele considera recíprocas sobre produtos comprados de todos os outros países. O pacote estabelece uma sobretaxa mínima geral de 10%, mas foram estabelecidos também percentuais individualizados, com valores que chegam, por exemplo, a 34% sobre a China; 30% no caso da África do Sul; 24% do Japão; e 20% da Europa. Os produtos brasileiros entraram na faixa mínima de 10%, figurando em lista que inclui também países como Arábia Saudita, Argentina e Chile. Donald Trump rejeitou o alerta de analistas de que as tarifas poderão prejudicar a própria economia norte-americana, com o risco de provocar o aumento da inflação interna, e desencadear uma guerra comercial, desmantelando um sistema comercial global que os Estados Unidos ajudaram a construir nas últimas décadas. “Estamos sendo muito gentis. Vamos cobrar aproximadamente metade daquilo que eles nos cobram”, disse o presidente norte-americano.
Donald Trump levou para o anúncio um cartaz com a indicação da taxa supostamente cobrada hoje por diversos países na importação de produtos norte-americanos e o porcentual que os Estados Unidos vão passar a adotar no comércio com cada um desses países. As novas tarifas vão entrar em vigor entre o sábado (05/04) e a próxima quarta-feira (09/04). Ele acusa seus parceiros comerciais de prejudicarem os Estados Unidos por décadas, dizendo que eles se engajaram em práticas comerciais desleais para roubar a riqueza do país e enriquecer suas próprias economias. Nesse processo, ele voltou sua atenção não apenas para adversários como a China, mas também para aliados tradicionais como o Canadá e a Europa. Ao erguer uma barreira tarifária ao redor da maior economia do mundo, Donald Trump provocou a reação dos parceiros comerciais. No Canadá, comerciantes fazem campanha para boicotar produtos norte-americanos e valorizar a produção local. No Brasil, o Congresso aprovou projeto que estabelece critérios para que o País responda a “medidas unilaterais” de países e blocos econômicos, o texto seguiu para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Banco Central Europeu afirmou que, em um momento em que as principais economias do mundo estão usando tarifas para extrair concessões em outros objetivos estratégicos, a Europa não pode “se dar ao luxo de ser desunida”. A guerra comercial do presidente norte-americano, Donald Trump, contra o mundo é só um mal desnecessário. Em sua fantasia mercantilista, Donald Trump crê que está libertando seu país da economia globalizada, que seus predecessores ajudaram a criar, para transformá-lo numa autarquia que, em sua visão delirante, será reindustrializada, independente de importações e pródiga em exportações. Por alguma razão, ele imagina que reeditar as mesmas barreiras protecionistas que foram empregadas por inúmeros países em inúmeras épocas, com consequências sempre ruins, terá desta vez resultados diferentes. O Brasil conhece essa história. No século passado, políticos e intelectuais imaginaram que a solução para desenvolver uma economia latifundiária e oligárquica dependente de manufaturados internacionais era o Estado erguer barreiras e subsidiar produtores locais.
Admitindo-se que essa política tenha estimulado uma certa diversificação das indústrias nascentes, a perpetuação de barreiras comerciais, subsídios, incentivos fiscais e toda a parafernália intervencionista resultou em custos elevados para consumidores e produtores, indústrias pouco competitivas, desconfiança dos investidores internacionais, menos incentivos à inovação e mais incentivos ao clientelismo e à corrupção. Ao contrário do que supunha a “teoria da dependência”, na prática a “substituição das importações” reforçou a dependência de exportações de commodities para financiar a importação de tecnologias. Glosando essa história, as políticas protecionistas de Donald Trump em seu primeiro mandato se provaram custosas, ineficazes e regressivas: não reduziram déficits comerciais, não recuperaram a indústria e oneraram mais os pobres. Sua nova ofensiva protecionista será ruim para todos. A imprevisibilidade e a desaceleração dos mercados tendem a reduzir a demanda para exportadores de commodities, como o Brasil.
Mas, o País tem também vantagens comparativas. Mesmo com uma baixa global da demanda, o Brasil pode ampliar exportações de commodities para países envolvidos em conflitos comerciais com os Estados Unidos e atrair investimentos. No primeiro mandato de Trump, por exemplo, o País ampliou a venda de carne, grãos e minérios para a China, que, em contrapartida, investiu mais na infraestrutura brasileira. Mas, oportunidades como essas serão otimizadas se o Brasil aproveitar o momento para derrubar suas próprias barreiras e reduzir seu isolacionismo. Em razão da paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC), o projeto de lei aprovado pelo Senado para equipar o governo com instrumentos de retaliação é positivo. Mas a retaliação, ou seja, mais protecionismo, deveria ser um último recurso, provisório e excepcional. A regra deve ser a negociação e a abertura. Donald Trump, por exemplo, é agressivo ao impor tarifas, mas também recua rápido: basta que lhe seja cedido algo com o qual possa clamar vitória.
E o Brasil tem muitas coisas para ceder: tarifas elevadas, burocracias regulatórias, exigências de conteúdo local, subsídios. Eliminar essas benesses públicas privatizadas por grupos de interesse seria um ganha-ganha para o Brasil, minimizando barreiras nos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, livrando-se de pesos que mantêm a economia nacional pouco produtiva e competitiva e de barreiras que encarecem produtos ao consumidor nacional. A crise é um choque para a indústria brasileira e o Brasil tem duas maneiras de responder a isso: se fechando e dando batalha e mantendo a economia fechada embalado numa retórica do interesse nacional, ou, enquanto negocia com os Estados Unidos, intensificar a diversificação comercial com outros parceiros para importar e exportar mais. Os hábitos das oligarquias nacionais e os instintos do governo de turno pendem para o primeiro caminho. A necessidade e a racionalidade apontam para o último. A rota que o Brasil tomará dependerá em grande medida de pressões de uma sociedade civil esclarecida e dos setores genuinamente produtivos e competitivos.
Para a Verde Asset Management, após negociações diante da tabela apresentada pelo presidente Donald Trump, a tarifa comercial dos Estados Unidos deve chegar a uma média de 19%, o maior nível desde 1929. As tarifas foram pouco explicadas. Mas, se antes de 2 de abril as tarifas efetivas sobre importações norte-americanas estavam em uma faixa entre 7,5% e 10%, a tabela de trouxe "surpreendentes" taxas de até 39%, e as negociações devem chegar a uma média de tarifas calculada em 19%. É o grau de protecionismo mais alto da história dos Estados Unidos. As tarifas foram uma "criatividade econômica" de Trump, com o governo norte-americano apresentando uma fórmula "sem nenhum cabimento" para não ter que dizer ser contra um país ou outro. O grau do tarifaço surpreendeu o mundo inteiro e a região mais afetada foi a Ásia. No caso do Brasil, o País foi um dos que saíram mais beneficiados, uma vez que tem uma balança comercial equilibrada com os Estados Unidos e entrou na faixa de 10% de tarifas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.