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04/Apr/2025

EUA quer criar uma nova ordem econômica mundial

Os Estados Unidos estão se movendo para explodir a ordem comercial global que construíram, inaugurando uma nova era incerta. O anúncio altamente antecipado do presidente Donald Trump na quarta-feira (02/04) representa uma aposta de alto risco para transformar uma relação econômica global que Trump disse por décadas ter roubado os Estados Unidos, mesmo que a economia norte-americana tenha emergido da pandemia. As ações do presidente levantam o espectro de um choque estagflacionário que aumenta os preços enquanto coloca mais economias, incluindo os Estados Unidos, em risco de recessão. Donald Trump surpreendeu os mercados ao anunciar uma série de aumentos de tarifas sobre os principais parceiros comerciais, incluindo 20% para a União Europeia e 34% para a China. O imposto sobre bens importados, que também inclui um aumento geral de pelo menos 10% em todos os países, aumentará as tarifas médias ponderadas gerais para 23%, a mais alta em mais de 100 anos, de 10% antes do anúncio e 2,5% no ano passado, de acordo com o JPMorgan Chase.

Economistas disseram que a mudança de política de Trump, se não for revertida, pode rivalizar com a decisão do presidente Richard Nixon de 1971 de anular acordos criados pelos Estados Unidos e seus aliados de guerra durante a Segunda Guerra Mundial, quando o governo norte-americano concordou em trocar dólares por ouro a uma taxa de US$ 35,00 a onça. Para o Morgan Stanley, isso marcaria provavelmente a maior tentativa de reformular fundamentalmente a estrutura de impostos e comércio nos Estados Unidos desde que Nixon tirou o padrão-ouro no início dos anos 1970. O Morgan Stanley vinha aconselhando os clientes que os mercados estavam muito complacentes sobre os riscos de tarifas maiores e mais amplas, mas o anúncio foi mais expansivo do que o previsto. A implementação mercurial e caótica dos planos comerciais do presidente, que já incluíam tarifas de 20% sobre a China, tarifas de 25% sobre importações de automóveis e tarifas de 25% sobre produtos canadenses e mexicanos que não são cobertos por um acordo comercial existente, esfriou o investimento empresarial e o sentimento do consumidor.

Para a GlobalData TS Lombard, as medidas serão traduzidas em preços mais altos para o consumidor. E não se desenvolve uma economia com impostos mais altos. Para o Dartmouth College, os aumentos de tarifas são particularmente drásticos porque não têm isenções para os dois terços das importações que normalmente vêm isentas de impostos, como café, chá e bananas, que não são produzidos em quantidades significativas internamente. Eles cobrirão uma gama muito maior de produtos do que durante a guerra comercial de Donald Trump com a China em 2019. A Nike produz metade de seus calçados no Vietnã, que enfrenta uma tarifa de 46%. Uma rede de fabricantes de eletrônicos de consumo na China, Taiwan e Coreia do Sul enfrentará tarifas de pelo menos 25%. As tarifas isentam petróleo, gás e produtos refinados. Segundo a KPMG, os aumentos de tarifas aumentam o risco de um forte golpe nas rendas ajustadas pela inflação dos consumidores, o que pode levar a economia dos Estados Unidos à recessão este ano.

O conjunto de tarifas anunciadas equivale a um "pior cenário" em relação às expectativas na preparação para o anúncio. Além disso, não está claro como os parceiros comerciais responderão, o que significa que a incerteza pode permanecer elevada por algum tempo. Se o objetivo é fazer com que as empresas se mudem para os Estados Unidos, isso não é possível, porque não sabe com certeza se em três a cinco anos, quando construir uma fábrica, as tarifas ainda estarão intactas. O déficit em conta corrente dos Estados Unidos, uma medida ampla de comércio e renda do exterior, em 2024 atingiu US$ 1,1 trilhão, ressaltando para Donald Trump e seus aliados a necessidade de reformular o comércio global. As tarifas podem trazer novas receitas, mas a um custo potencialmente alto para os mercados financeiros. Os altos preços dos ativos nos últimos dois anos refletiram as apostas dos investidores de que a economia dos Estados Unidos estava bem-posicionada em relação aos seus pares, dados os avanços na tecnologia e a perspectiva de um ilusório "pouso suave", onde a inflação declina sem um aumento acentuado no desemprego.

Donald Trump herdou uma economia com crescimento estável e uma taxa de inflação em declínio, mas vulnerabilidades de um setor imobiliário congelado, mercado de trabalho em declínio e mercado de ações altamente valorizado. Trump há muito considera os déficits comerciais como um sinal de fraqueza econômica. Mas, nas tentativas do governo Trump de reduzir esses déficits, os países estrangeiros poderiam reduzir suas compras de títulos do Tesouro dos Estados Unidos ou ter menos capital excedente para estacionar nos mercados de ações, imóveis e dívida privada dos Estados Unidos. A verdadeira dor desse evento será a quebra do acordo de fluxo de capital que os Estados Unidos tinham com o resto do mundo. Essa ideia de que é possível quebrar o comércio e não quebrar o lado do fluxo de capital é uma fantasia.

Segundo a Wells Fargo, o chamado "Dia da Libertação" nos Estados Unidos, marcado pelo anúncio de uma política tarifária protecionista, está sendo visto pelo como um teste crucial para os mercados globais. O banco reforça sua convicção de que a desglobalização deve se intensificar, com a economia mundial se dividindo em blocos distintos: um liderado pelos Estados Unidos e outro pela China. O "Dia da Libertação" pode acelerar essa fragmentação, com países emergentes optando por se alinhar à China. Além disso, o aponta para um possível cenário tri-polar, no qual a Europa se torna um terceiro polo econômico distante dos Estados Unidos. A estratégia de "escalar para negociar" de Donald Trump ainda está em jogo, mas o Wells Fargo acredita que a incerteza tarifária deve persistir por um período prolongado. Mesmo com possíveis concessões, as tensões comerciais continuarão moldando a economia global nos próximos anos. Wall Street já sabia que o 'Liberation Day' não iria representar o fim da volatilidade nos mercados.

Ao contrário, ao despir os seus planos tarifários, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, catapultou uma nova fase de incertezas e turbulências por conta do efeito cascata contratado. Economistas temem que a tentativa do ‘homem tarifa’ de redesenhar a ordem comercial global leve o mundo à recessão, com os custos econômicos podendo chegar a US$ 30 trilhões. Para especialistas, as medidas que aplicam uma tarifa mínima de 10% a qualquer produto que entre nos Estados Unidos e alíquotas recíprocas aos seus principais parceiros comerciais afastam o país do resto do planeta e podem acelerar a fragmentação já em curso, conforme o Wells Fargo. É uma espécie de 'brexit dos norte-americanos', segundo a Eurasia, e que fecha a cortina da era da globalização, como manchetou o 'The Wall Street Journal' no dia seguinte ao anúncio de Trump. O objetivo do tarifaço de Trump, depois de diferentes esboços ventilados na imprensa norte-americana, é reformar a ordem comercial mundial que, na visão da atual administração, privilegia países com práticas desleais e deixa os 'certinhos' para trás, afirmou o governo norte-americano.

O "mundo vem roubando os norte-americanos", defende Trump repetidamente. E, embora o presidente pareça agir por instinto, se seguir à risca os conselhos do seu economista de confiança, o plano vai muito além das tarifas anunciadas, uma espécie de ponta do iceberg para colocar o mundo ao bel-prazer dos Estados Unidos. A estratégia foi detalhada pelo Conselho de Consultores Econômicos dos Estados Unidos (CEA) em um estudo de mais de 40 páginas, publicado em novembro do ano passado, antes mesmo da vitória do republicano. Distribuído pela Hudson Bay Capital, na ocasião, não ganhou muito holofote. Mas, desde então, o documento começou a circular dentro e fora de Wall Street, e chamou a atenção da imprensa financeira internacional nas últimas semanas. Donald Trump pode reconfigurar os sistemas financeiros e de comércio global para o benefício da América. O ensaio não é uma "defesa de políticas". Mais do que uma reforma do comércio global, suas ideias miram uma repaginação da ordem geopolítica.

No 'Acordo Mar-a-Lago', é feito um guia baseado na tríade tarifas, defesa e dólar para os Estados Unidos tirarem ônus das suas costas e passarem a outros parceiros comerciais. O ponto principal é enfraquecer a divisa norte-americana tida como o problema central do déficit dos Estados Unidos. Na sua visão, a partir de uma perspectiva comercial, o dólar está persistentemente supervalorizado em grande parte porque os ativos em dólar funcionam como moeda de reserva mundial. O entrelaçamento entre o status de moeda de reserva e a segurança nacional vão se tornar cada vez mais explícitos em qualquer possível reformulação do sistema de comércio global. Juntar um muro tarifário com um guarda-chuva de segurança é uma estratégia de alto risco, mas se funcionar, também pode render uma alta recompensa. Dentre as medidas mais extremas, o CEA sugere forçar os bancos centrais estrangeiros a trocar seus títulos do Tesouro dos Estados Unidos de curto prazo por bonds de longo prazo, apesar de admitir que é uma tarefa difícil.

Aliás, o caminho para a administração Trump reconfigurar os sistemas financeiros e de comércio global é estreito e exigirá planejamento cuidadoso, execução precisa e atenção às etapas para minimizar consequências adversas. Economistas de um lado a outro do Atlântico veem o 'Acordo de Mar-a-Lago' com ceticismo, que cresceu após o detalhamento dos planos tarifários de Trump. Para Summers, que chefiou o Conselho Econômico Nacional (National Economic Council, NEC) na gestão de Barack Obama, cuja importância é bem maior que a do CEA, as medidas anunciadas são as "mais caras e masoquistas" que os Estados Unidos adotaram em décadas. Ele estima perdas econômicas de até US$ 30 trilhões. Além disso, bancos e consultorias dentro e fora de Wall Street começaram a rever os seus cenários para a economia, para as bolsas, com o temor de recessão nos Estados Unidos e no mundo ganhando força após as falas de Trump.

Ao menos até aqui, cerca de US$ 2,2 trilhões foram eliminados do valor dos mercados de ações globais, segundo a AJ Bell. No curto prazo, o pacote geral seria inflacionário e reduziria o crescimento, diz o ABN AMRO. Na visão da Capital Economics, medidas mais extremas poderiam empurrar os rendimentos dos títulos públicos americanos para patamares muito elevados e respingar na reputação financeira dos Estados Unidos bem como no status do dólar como moeda de reserva. E não precisa nem colocá-lo todo em prática. Para o deVere Group, somente as tarifas de Trump acendem o alerta para o dólar e colocam a credibilidade dos Estados Unidos "em jogo". Por enquanto, uma adoção completa do 'Acordo de Mar-a-Lago' é improvável", diz a Capital Economics. Porém, com Trump, "nunca se pode dizer nunca". A consultoria cortou a sua projeção para o S&P 500 neste ano de 7.000 pontos para 5.500 pontos, e além de Trump, também está mais cética com a inteligência artificial. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.