02/Apr/2025
Documento publicado na segunda-feira (31/03) pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) acusa o Brasil e outros países de imporem numerosas barreiras e tarifas contra produtos norte-americanos. O relatório de 397 páginas afirma que o Brasil impõe tarifas relativamente altas sobre as importações em uma ampla gama de setores, incluindo automóveis, peças automotivas, tecnologia da informação e eletrônicos, produtos químicos, plásticos, maquinário industrial, aço, têxteis e vestuário. A falta de previsibilidade em relação às alíquotas tarifárias também é apontada como uma dificuldade para os exportadores dos Estados Unidos preverem os custos de fazer negócios no Brasil. Embora o Brasil tenha tomado medidas para tornar seu mercado de compras mais transparente, as restrições e preferências domésticas permanecem, declara o documento. O País também exige que os contratos de aquisição, especialmente nos setores de saúde e defesa, contenham requisitos de compensação para fornecedores estrangeiros.
Em meio às incertezas das medidas que Donald Trump deve anunciar nesta quarta-feira (02/04), as Bolsas caíram ao redor do mundo. Os temores de uma guerra comercial mais ampla elevam a aversão ao risco. As tarifas, se impostas na magnitude que Trump está ameaçando, ocasionariam uma forte desaceleração global. Os detalhes da próxima rodada de impostos de importação de Trump ainda são imprecisos, mas a maioria das análises econômicas diz que a média das famílias norte-americanas teria de absorver o custo de suas tarifas na forma de preços mais altos e renda mais baixa. Donald Trump quer anunciar impostos de importação, incluindo tarifas “recíprocas” que corresponderiam às taxas cobradas por outros países e levariam em conta outros subsídios. Ele falou em taxar a União Europeia, a Coreia do Sul, o Brasil e a Índia, entre outros países. Ao anunciar 25% de tarifas sobre automóveis na semana passada, Trump alegou que os Estados Unidos foram enganados porque importam mais mercadorias do que exportam.
“Este é o início do Dia da Libertação nos Estados Unidos”, disse. “Vamos cobrar dos países que estão fazendo negócios em nosso país e tirando nossos empregos, tirando nossa riqueza, tirando muitas coisas que eles têm tirado ao longo dos anos. Eles tiraram muito de nosso país, amigos e inimigos. E, francamente, os amigos têm sido, muitas vezes, muito piores do que os inimigos.” Donald Trump afirmou que não se incomodaria se as tarifas fizessem com que os preços dos veículos aumentassem, pois os automóveis com mais conteúdo norte-americano poderiam ter preços mais competitivos. O presidente republicano propôs uma tarifa de 25% sobre qualquer país que importar petróleo da Venezuela, embora os Estados Unidos também o façam. As importações da China estão sendo cobradas com um imposto adicional de 20% devido ao seu papel na produção de fentanil. Trump impôs tarifas separadas sobre produtos do Canadá e do México pelo motivo declarado de impedir o contrabando de drogas e a imigração ilegal. Ele também ampliou suas tarifas de 2018 sobre aço e alumínio para 25% sobre todas as importações.
Alguns assessores sugerem que as tarifas são ferramentas de negociação sobre comércio e segurança nas fronteiras; outros dizem que as receitas ajudarão a reduzir o déficit orçamentário federal. O secretário de Comércio, Howard Lutnick, diz que elas forçarão outras nações a mostrarem “respeito” a Donald Trump. De acordo com a maioria dos economistas, as tarifas seriam repassadas aos consumidores na forma de preços mais altos para automóveis, mantimentos, moradia e outros bens. Os lucros das empresas poderiam ser menores e o crescimento, mais lento. Trump afirma que mais empresas abririam fábricas para evitar os impostos, embora esse processo possa levar três anos ou mais. As tarifas sobre automóveis, se totalmente implementadas, poderiam aumentar os custos por veículo em US$ 4.711,00 (R$ 27 mil). O Goldman Sachs estima que a economia crescerá neste trimestre a uma taxa anual de apenas 0,6%, abaixo da taxa de 2,4% registrada no final do ano passado. As tarifas podem aumentar o custo médio de uma casa em US$ 21 mil (R$ 120 mil), tornando a acessibilidade mais um obstáculo, pois os materiais de construção custariam mais.
O Banco Central do Brasil afirmou que o debate sobre incerteza no cenário econômico não se resolverá com o chamado “Liberation Day” (02/04), dia em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, promete o anúncio de uma onda histórica de tarifas. Haverá discussão sobre tarifas que não foram implementadas, mas que podem vir a ser implementadas; qual vai ser a resposta dos países às tarifas que foram implementadas, algum escalonamento de tarifas, se houver uma resposta. É uma data relevante, mas a incerteza não se resolve. Há sempre um prêmio por conta da incerteza. Para o Brasil, existem fatores de alta e de baixa quando se trata de cenário externo. Os riscos de alta, seja política doméstica ou externa, tendo impacto sobre câmbio, e no risco de baixa, o que vai acontecer, por exemplo, com o crescimento global, que deve ser menor.