01/Apr/2025
O primeiro fogo deve ser apagado com o pé, conforme o jargão da prevenção e combate a queimadas. A escalada de incêndios nos últimos anos mostra que os ‘pés do poder público’ não têm conseguido alcançar as fagulhas a tempo, o que põe em risco biomas, como Amazônia e Pantanal. Em 2024, o Brasil teve o ano mais críticos para incêndios desde 2010. Segundo o Observatório do Clima, a eficácia da atuação estatal ficou muito aquém do que deveria. O Ministério do Meio Ambiente e outros órgãos têm de reconhecer. A gravidade com que os incêndios tomaram o País mostrou que a atuação dos governos tem de ser mais forte. As florestas e matas do Brasil estão pegando fogo mais rápido e com mais frequência. O monitoramento via satélite mostra incêndios em áreas que antes não queimavam, como o coração da Amazônia.
Entre os fatores que agravam o problema estão crimes ambientais, como grilagem de terra, e as mudanças climáticas, que aumentam o risco de estiagem extrema. Além de tudo isso, o poder público não tem dado resposta eficaz para a crise, tanto na prevenção quanto no combate. O Ministério do Meio Ambiente diz ter aumentado o número de integrantes das brigadas federais em 25% (são 4.608), além de se reunir periodicamente com meteorologistas, governos estaduais, entidades e bombeiros. O País recebe este ano, em Belém (PA), no mês de novembro, a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP30), para debater como frear o aquecimento global. A União é alvo desde 2020 de uma série de ações constitucionais sobre falhas na prevenção e combate a incêndios na Amazônia e no Pantanal. Em 2024, o ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino reuniu os processos, realizando audiências sobre o tema, ainda em curso.
Dados do MapBiomas, rede colaborativa formada por ONGs, universidades e startups, mostram que as áreas florestais queimaram 151% mais em 2024, ante 2023. O governo federal é diretamente responsável pela prevenção e controle do fogo nas áreas federais, como parques nacionais e terras indígenas. E tem a atribuição de coordenar e apoiar Estados, municípios e agentes privados, como prevê a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, aprovada em 2024. Segundo o governo federal trata-se de estratégia integrada que leva em conta a ecologia do fogo, as necessidades das populações no seu uso para fins produtivos, os saberes tradicionais e os conhecimentos científicos. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o impacto dos incêndios durante a estiagem extrema é maior hoje. Antes, não tinha fogo de copa de árvore, era de chão. E a mata secundária se regenerava quando vinha a chuva.
Conforme uma resolução aprovada este ano, todos os Estados terão até 2027 para aprovar seus planos de manejo integrados de fogo. A regra também obriga unidades de conservação e propriedades em região de alto risco a criarem seus planos e a adotarem ações de prevenção, como ter brigada florestal própria treinada ou apoiar brigada local. Estiagens mais longas e chuvas concentradas pela crise climática, além de temperaturas altas, fazem as chamas se espalharem rápido e destruírem mais. Além disso, há uso do fogo sem controle no manejo agropecuário e criminoso. Em mais de um terço (34%) da área queimada no Brasil, a origem do fogo foi em pastagens, segundo o MapBiomas. Na Amazônia, mais da metade (55%) das queimadas começaram em áreas desse tipo. A Amazônia teve área equivalente ao território do Uruguai queimada em 2024. Os incêndios explodiram nas áreas federais, como parques nacionais, reservas extrativistas e outras áreas protegidas pela União.
Segundo o Instituto do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o desmatamento acelerou nas áreas de grandes rodovias, como a Transamazônica, a BR-163 e a BR-319. O Pantanal é o bioma que mais queimou proporcionalmente: quase 60% foi atingido em quatro décadas. Maior planície alagável do mundo, ele enfrenta seca extrema, que põe a região em alerta após os incêndios de 2020 e 2024. Dados de satélite mostram que o fogo se concentra em áreas privadas, como fazendas. Segundo a Universidade de Brasília (UnB), está chovendo menos no Cerrado e isso piora com a crise climática. Hoje a estação chuvosa não começa em setembro, mas em outubro. E 30 dias extras de estiagem representam um mês de risco elevado, onde qualquer ignição (e elas são sempre humanas) pode causar grande incêndio. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.