01/Apr/2025
O Sicredi, uma das maiores cooperativas de crédito do País, encerrou o ano de 2024 com resultado líquido de R$ 6,6 bilhões, queda de 3,2% em relação a 2023. A redução se deu pelo aumento do risco da carteira de crédito para o agronegócio, diante de fatores climáticos e da redução nos preços das commodities, fatores que reduziram as margens dos produtores rurais. "Vemos no setor primário, principalmente, o efeito de queda dos preços das commodities, como soja e milho, que são culturas importantes para os nossos associados", disse o diretor de Sustentabilidade, Administração e Finanças do Sicredi, Alexandre Barbosa. Além disso, as enchentes no Rio Grande do Sul, entre abril e maio do ano passado, também afetaram a qualidade dessa carteira. Boa parte das operações do Sicredi é no Estado, mas nos últimos anos, a cooperativa expandiu a presença em outras regiões do País. Com estes fatores, a inadimplência da carteira do agro subiu de 0,71% em 2023 para 1,36% em 2024.
A carteira total registrou atrasos acima de 90 dias de 2,43%, alta de 0,35% no espaço de um ano, mas ainda abaixo da média do sistema financeiro, de 3,1% no mesmo período. Além disso, as despesas com provisões somaram R$ 8,9 bilhões ao longo do ano, crescimento de 53% em relação a 2023, causado principalmente pelo agravamento do risco no segmento agrícola. Barbosa afirmou que os problemas do agro são conjunturais, e que no longo prazo, o Sicredi continua apostando nesta que é sua maior carteira de crédito. Cerca de 85% das operações são para pequenos produtores, que utilizam linhas do Pronaf. "Temos um impacto que precisa ser digerido ao longo do tempo. Mas vemos em 2025 uma situação melhor que no ano passado." 2024 foi novamente de crescimento acima da média do sistema para a cooperativa. A carteira de crédito total subiu 22,4%, para R$ 257,6 bilhões. Em agro, as operações cresceram 21,2%, para R$ 101,1 bilhões, um volume que fica atrás somente do líder Banco do Brasil.
Em pessoas jurídicas, cresceu 25%, para R$ 83,2 bilhões, e em pessoas físicas, teve alta de 21%, para R$ 73,2 bilhões. De acordo com o executivo, a cooperativa tem um balanço robusto, que permite manter o crescimento, e monitora a rentabilidade mesmo não tendo fins lucrativos. Em dezembro do ano passado, o volume de ativos do Sicredi estava em R$ 396,8 bilhões, 22,3% maior que no final de 2023. O patrimônio líquido, por sua vez, teve crescimento de 17,9% no mesmo intervalo, para R$ 44,2 bilhões. "É um número bem expressivo, e que nos permite ter uma capacidade de crescimento elevado para os próximos anos", afirmou o diretor. Ao todo, o volume de depósitos chegou a R$ 286,6 bilhões, entre depósitos à vista, a prazo, poupança, letras de crédito do agronegócio e imobiliárias (LCA e LCI) e aplicações interfinanceiras. O crescimento em relação ao final de 2023 foi de 21,3%. As cooperativas de crédito têm diferenças em relação aos bancos, e uma delas é que parte do resultado é distribuída aos associados, figura que neste sistema equivale aos clientes dos bancos.
Neste ano, serão R$ 2,7 bilhões distribuídos, entre juros ao capital e outros formatos. Cada cooperativa regional define a distribuição, e o associado recebe valor compatível à receita que gerou ao longo do ano. O Sicredi encerrou o ano com 8,5 milhões de associados, 1,2 milhão a mais que no final de 2023. Estes associados se dividem entre mais de 100 cooperativas regionais, ligadas a centrais cooperativas. Estas centrais controlam a SicrediPar, entidade que por sua vez controla o Banco Sicredi, mecanismo de acesso ao mercado financeiro. Outra distinção em relação aos bancos é a presença física. O Sicredi abriu 218 agências em 2024, indo na contramão dos grandes bancos privados, que fecharam agências. A rede chegou a 2.800 pontos, em mais de 2.100 cidades, sendo que em 200 delas, a cooperativa é a única instituição com atendimento físico.
Em outubro de 2024, o Banco Sicredi subiu de degrau na classificação do Banco Central, chegando ao S2, o segundo segmento mais importante para a regulação prudencial e que comporta instituições com ativos equivalentes a algo entre 1% e 10% do PIB. Com isso, juntou-se a um grupo composto por nomes como Citi, XP, BV e BNDES, abaixo apenas dos cinco maiores bancos do País e do BTG Pactual. O ganho de posição reflete uma expansão acelerada que, de acordo com a instituição, é sustentada e compatível com o perfil cooperativo, que tem distinções em relação aos bancos comerciais. "Acredito que é totalmente compatível (com o cooperativismo), mesmo com o tamanho que temos hoje, e olhando para exemplos fora do País, como o Rabobank na Holanda e o Crédit Agricole na França", disse o diretor de Sustentabilidade, Administração e Finanças do Sicredi, Alexandre Barbosa. O Rabobank é sócio do banco do sistema desde 2010. A subida de degrau reflete uma instituição que ganhou tamanho considerável.
O sistema Sicredi encerrou 2024 com R$ 396,8 bilhões em ativos, um crescimento de 22,3% em relação a 2023, e comparável ao de bancos como o BTG Pactual, que pertence à "elite" do sistema, o chamado S1. De acordo com Barbosa, a cada três anos, o tamanho da instituição triplica. O Banco Sicredi é o acesso das cooperativas do sistema a operações no mercado financeiro. Ele é controlado pela SicrediPar, que, por sua vez, é controlada pelas centrais, que reúnem as cooperativas regionais a que pessoas físicas, empresas e produtores agrícolas se associam. No cooperativismo, o associado equivale ao cliente, mas tem participação no resultado financeiro do ano. As cooperativas do Sicredi também são reguladas e classificadas pelo Banco Central, se encaixando em diferentes patamares, como o S3 e o S4. Há outras diferenças, porém, como a menor tributação na comparação com os bancos, vantagem que, de acordo com as cooperativas, é repassada aos clientes via custo do crédito.
De acordo com Barbosa, a supervisão do Banco Central estende os critérios da central a todas as cooperativas. A central coordena, por exemplo, a elaboração das demonstrações financeiras de todas elas, que são auditadas. "Nós temos uma auditoria cooperativa, diferente do sistema financeiro tradicional, e que tem o escopo definido pelo Banco Central." A presença física tem sido outro ponto que diferencia as cooperativas dos bancos comerciais. No ano passado, o Sicredi abriu 218 agências, chegando a uma rede com 2.800 pontos de atendimento. A título de comparação, os três maiores bancos privados do País fecharam cerca de 800 agências ao longo de 2024. A maior presença regional é um dos impulsos à carteira de crédito, que no ano passado cresceu 22,4%, para R$ 257,6 bilhões. Uma das bandeiras das cooperativas é justamente ocupar espaços em que o sistema financeiro não está. O Sicredi estima ser a única instituição fisicamente presente em mais de 200 cidades do País.
"Em muitos casos, as pessoas vão até outra cidade para sacar o salário ou aposentadoria, e gastam naquele município, mesmo morando em outro", afirmou o diretor. O executivo disse que nem todas as agências têm retorno financeiro positivo de imediato, mas também que a escolha não é do "ROE pelo ROE". "Por vezes, nós temos agências que não vão virar positivas em um prazo tão curto, mas a nossa experiência diz que, mesmo em municípios menores, elas viram para o positivo." Em paralelo à maior presença física, as cooperativas e seus bancos têm abocanhado uma fatia maior dos ativos do sistema: chegaram a 5,9% do todo em setembro do ano passado, de acordo com o Banco Central, contra 2,1% dez anos antes. A título de comparação, as instituições de pagamento, que correspondem a muitas fintechs, tinham 0,96% dos ativos no ano passado. O cooperativismo financeiro existe no País desde o começo do século XX, sendo que a primeira cooperativa de crédito da América Latina, a atual Sicredi Pioneira RS, foi criada em 1902. No entanto, o sistema ganhou tração a partir de 1971, com a Lei das Cooperativas, e novos impulsos nos anos 90, com a autorização dos bancos cooperativos, e em 2009, com as mudanças na lei de 1971. Fonte: Broadcast Agro.