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28/Mar/2025

Brasil e os possíveis impactos das tarifas dos EUA

O Banco Central afirmou nesta quinta-feira (27/03) que as tarifas comerciais instituídas pelos Estados Unidos podem resultar em um efeito para cima ou para baixo na inflação brasileira. Por um lado, se elas gerarem valorização do dólar ou redução do apetite por risco, devem aumentar o IPCA. Por outro, uma eventual redução no dinamismo do comércio, com desaceleração da economia mundial, poderia favorecer o Real e resultar em menores pressões aqui. No Relatório de Política Monetária (RPM), o Banco Central explicou que essas duas possibilidades já estão contempladas no seu balanço de riscos: o vetor inflacionário, no trecho que fala em conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada; e o vetor para baixo, em cenário menos inflacionário para economias emergentes decorrente de choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais.

Se esse cenário for acompanhado de valorização global do dólar e forte redução do apetite ao risco, haveria pressão sobre o valor do Real, repercutindo sobre a inflação doméstica, com efeito altista. Do ponto de vista doméstico, no caso de verificação de políticas, como as do âmbito fiscal, que levem a nova deterioração da percepção dos agentes, poderiam ocorrer novos efeitos na taxa de câmbio e nas expectativas de inflação, com as pressões inflacionárias decorrentes. Sobre o risco de baixa, o Banco Central explicou que uma desaceleração mais forte da economia americana e global pode reduzir a precificação para os juros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e baixar os preços de commodities. A redução nos rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano favoreceria o valor do Real, contribuindo assim para menores pressões inflacionárias domésticas.

Integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmam que recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as tarifas de importação que vem sendo impostas pelo chefe do Executivo dos Estados Unidos, Donald Trump, é um recurso "independente" e não tem relação à eventual adoção de medidas de reciprocidade. O Brasil continuará insistindo na negociação e no diálogo com os Estados Unidos. Desta forma, optar pela reciprocidade segue como sendo o último recurso. Nesta quinta-feira (27/03), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu que irá recorrer à OMC contra as tarifas, mas afirmou que o Brasil adotará a reciprocidade tarifária, caso a reclamação ao órgão não dê resultados. Trata-se de colocar em prática a lei da reciprocidade, afirmou Lula. Apesar da fala do chefe do Executivo brasileiro, pessoas que acompanham as negociações com os Estados Unidos afirmam que recorrer ao órgão internacional é uma "trilha independente" ao diálogo que o País vem fazendo com técnicos do governo americano.

A avaliação é de que a OMC não tem meios para conter a escalada tarifária de Donald Trump, mas, como o Brasil defende o multilateralismo, classifica-se como correto acionar o órgão. Integrantes do governo defendem que o Brasil recorra à OMC porque o País é a parte mais frágil, e buscar o apoio de um órgão internacional fortalece a lógica da legitimidade brasileira. Se uma organização diz que o governo norte-americano está errado no caso do aço, há um favorecimento do Brasil. Dessa forma, paralelamente à OMC, o Brasil seguirá nas negociações com foco em achar solução satisfatória sobre as tarifas. A reciprocidade permanece sendo a última opção para se resolver o assunto. Conversas entre integrantes do Brasil e dos Estados Unidos ainda estão acontecendo no nível técnico e devem permanecer. Na semana passada, técnicos dos dois países fizeram a segunda reunião desde que a tarifa de 25% sobre a importação de aço e alumínio pelos norte-americanos passou a valer, medida que entrou em vigor no dia 12 de março. Uma terceira reunião é aguardada.

Até o momento, tais conversas não têm como foco encaminhamentos conclusivos. Por enquanto, a lógica brasileira é negociadora, uma vez que o País vê argumentos consistentes para mostrar que, do ponto de vista do interesse da política externa de Trump e do setor privado americano, as tarifas sobre o aço brasileiro não são benéficas. O Brasil é um grande exportador de aço para os Estados Unidos. Grande parte do volume que desembarca em solo norte-americano, cerca de 90%, é de material semiacabado (placas). Siderúrgicas locais importam esse tipo de aço e o beneficiam para ser usados na fabricação de vários tipos de produtos, como automóveis, bens eletrodomésticos e máquinas e equipamentos. O setor siderúrgico norte-americano, no entanto, é deficitário na oferta de placas às unidades de laminação independentes do país.

Por isso, elas têm de importar de muitos lugares do mundo, como Canadá, Brasil, México e Coreia do Sul. O Brasil irá priorizar tal argumento. Contudo, não há certeza de que os Estados Unidos vão aceitar. Outra estratégia que está sendo avaliada, caso a argumentação não seja suficiente, é a possibilidade de negociar um trade-off com outro produto, como o etanol. Caso não avance também, a retaliação não está descartada. Com diversas opções à mesa das negociações, o Brasil não estabelece um ‘deadline’ para tal diálogo. Porém, avalia que não irá passar negociando até o final do terceiro mandato de Lula, em 2026. O recuo norte-americano sobre a questão, inclusive, não está descartado na diplomacia brasileira, uma vez que Donald Trump já anunciou recuos em seu "tarifaço". Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.