28/Mar/2025
Popular entre os brasileiros, o jogo do bicho foi desbancado por sites de apostas online, as chamadas bets, de acordo com pesquisa inédita feita pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). Mais de um terço (38,6%) dos apostadores enfrenta algum grau de risco ou transtorno relacionado ao vício em jogo. Os dados integram o Levantamento de Álcool e Drogas (Lenad), feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) a pedido da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad). Pela primeira vez, a pesquisa reúne dados de vício em jogos de apostas, uso de cigarros eletrônicos e de medicamentos sem prescrição. Segundo a pesquisa, 71,3% dos jogadores apostam na loteria; 32,1% nas bets; e 28,9% no jogo do bicho.
Operações policiais recentes indicavam que grupos de bicheiros têm migrado seus negócios para as bets. Nesta quinta-feira (26/03), o Ministério da Justiça e Segurança Pública lançou o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid). O órgão será responsável por reunir informações e dar base a políticas públicas. O vício em jogos entrou no radar por apresentar características semelhantes ao que ocorre com a dependência química. O levantamento mostra que a questão das bets vai muito além de uma política de regulamentação de sites de apostas sob o aspecto financeiro, mas envolve também um olhar para a saúde mental. Exige uma articulação intersetorial com diversos atores, incluindo políticas de saúde de redução de riscos e danos, similar ao que é trabalhado nas políticas sobre drogas.
A pesquisa levou em consideração uma amostra de 16 mil pessoas com 14 anos ou mais, classificadas como adolescentes (14 a 17 anos) e adultos (18 ou mais). Indica ainda que os adolescentes são o grupo mais vulnerável quando o assunto é aposta: 55,2% dos apostadores na faixa etária entre 14 e 17 anos estão na zona de risco. Com a inserção das apostas online, chamadas bets, o cenário ficou ainda mais preocupante. Adolescentes têm até recorrido a empréstimos com agiotas para arcar com as apostas. Considerando só o último ano, 10,5% dos adolescentes dizem que apostaram. O percentual é de 18,1% entre adultos. A região do País com maior atividade de apostadores no último ano foi a Sul (20,4% dos apostadores), seguida das Regiões Centro-Oeste (18,7%), Sudeste (17,6%), Norte (16,5%) e Nordeste (16,3%).
Pessoas com menor renda têm prevalência a fazerem uso de risco ou problemático de jogos de aposta. Segundo os dados, a prevalência desse tipo de uso em indivíduos com renda mensal pessoal inferior a 1 salário-mínimo é de 52,8%. Entre os que recebem 1 salário-mínimo ou mais, o índice é de 21,1%. As bets não apenas estão prejudicando as pessoas adultas, infelizmente pessoas com menos recursos, mas até adolescentes estão gastando as economias dos pais e dos familiares nesse tipo de aposta. Para definir a exposição ao risco associado aos jogos, a pesquisa considerou o Índice de Severidade do Jogo Patológico (PSGI). Entre os questionamentos e análise de comportamentos, a escala apura se a pessoa apostou mais do que poderia perder; se após apostar voltou para tentar recuperar o dinheiro perdido por meio de outra aposta; e se as apostas causaram problemas financeiros.
Embora não envolva o uso de substâncias químicas, como álcool e outras drogas, o comportamento de jogar e apostar pode compartilhar características com os transtornos por uso de substâncias, como perda de controle, tolerância e abstinência. A partir da escala PGSI, o estudo identificou entre os apostadores, considerando tanto adolescentes quanto adultos, que 22,4% depois de ter apostado, quase sempre ou às vezes, jogou novamente para tentar recuperar o dinheiro perdido: um comportamento de risco. Além disso, 14,8% admitiram que quase sempre ou às vezes apostaram mais do que realmente poderiam perder. E 9,2% relataram problemas de saúde, incluindo estresse e ansiedade. Em 2023, foi sancionada a lei que regulamenta as bets.
Mas, a legalização das apostas esportivas acendeu um alerta entre especialistas em relação à dependência, que ainda vem causando endividamento. Se a bet fosse uma droga, seria o crack. Seu poder adictivo é maior que o da cocaína. Quando entra o uso por adolescentes, a questão se amplia. O processo de legalização de apostas aconteceu sem considerar da maneira mais adequada os impactos sobre as crianças e adolescente, afirma o Instituto Alana. Um dos problemas que surgiram em decorrência desse processo é a profusão de publicidade destinada ao público mais jovem. A publicidade online e offline virou uma coisa massiva, está em todos os lugares, na internet e fora dela. Se a gente pensa nos jogadores de futebol, envolve figuras que são admiradas pelos jovens Precisa ser restringida. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.