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26/Mar/2025

Brasil: cenário econômico do Agronegócio em 2025

A elevação da Selic em 1% encarece o crédito rural no Brasil, sobretudo no momento crítico de pré-safra, quando os produtores demandam capital para custeio e investimentos. Isso afeta principalmente os pequenos e médios produtores, menos capitalizados. Por outro lado, a manutenção dos juros nos Estados Unidos tende a manter o dólar forte, o que, normalmente, poderia beneficiar as exportações brasileiras. No entanto, como a Selic subiu, parte dessa vantagem cambial pode ser neutralizada, já que há mais entrada de capital estrangeiro no Brasil, valorizando o Real. Segundo a Oz Câmbio, na produção de grãos, há impacto direto no custo de financiamento e na compra de insumos importados (como fertilizantes). A rentabilidade pode ser comprimida. Para proteína animal, o impacto se dá em duas frentes: custo dos grãos (milho e soja) usados como ração pode subir, pressionando as margens dos produtores.

O financiamento para manejo, confinamento e renovação de equipamentos fica mais caro. Os custos de produção seguem elevados. Isso pode levar a redução na área plantada ou no número de cabeças confinadas, por contenção de custos; busca por tecnologias de precisão e alternativas de nutrição animal para mitigar impactos; maior seletividade na escolha de insumos e fornecedores. Além disso, com o produtor mais cauteloso, a tendência é de negociações mais tardias de compra e venda, o que gera incerteza no planejamento da safra e compromete a previsibilidade dos mercados. A queda do dólar tem efeito duplo no agronegócio. Para exportações é negativa, porque reduz a competitividade do produto brasileiro no exterior e diminui a margem de lucro dos exportadores. A receita em Reais fica menor.

Para insumos importados (como fertilizantes, ureia, defensivos) é positiva, pois reduz o custo de aquisição, aliviando um pouco a pressão sobre o produtor. Dólar alto é bom para quem exporta, ruim para comprar insumos. Dólar baixo gera alívio nos custos, mas piora na receita externa. O ideal seria um câmbio equilibrado, que permita boas margens de exportação sem penalizar demais a aquisição de insumos. Até agora, nenhuma tarifa dos Estados Unidos impactou diretamente o agro brasileiro. No entanto, o setor acompanha com atenção o risco de barreiras sanitárias ou fitossanitárias disfarçadas de medidas técnicas, reações protecionistas em setores onde o Brasil tem forte presença (como carne bovina, soja ou etanol); pressões políticas em acordos comerciais multilaterais. O mercado vê com cautela, porque o perfil do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tende ao nacionalismo econômico. O Brasil, como grande exportador agro, pode ser afetado por retaliações cruzadas entre Estados Unidos e China, ou por medidas de estímulo à produção interna norte-americana. As cadeias mais vulneráveis são:

- Frango e ovos: por dependerem fortemente de ração à base de milho e soja, qualquer oscilação no preço desses grãos afeta diretamente os custos.

- Carne suína: por questões sanitárias (como peste suína africana em países parceiros) e alta sensibilidade ao mercado externo.

- Carne bovina: apesar de ter demanda sólida, pode sofrer com barreiras comerciais ou flutuação cambial.

Para se buscar equilíbrio econômico é importante diversificar mercados de exportação (para diluir riscos geopolíticos); investir em eficiência produtiva (tecnologia, genética, nutrição); ajustar a produção conforme os sinais de mercado (modular confinamento, por exemplo); aproveitar períodos de dólar alto para travar contratos futuros de exportação. Segundo o Instituto de Economia da Unicamp, a taxa de juros mais elevada do Brasil vai atrair capital. O câmbio se valoriza, o Real se valoriza em relação ao dólar, ou seja, as exportações vão ser remuneradas com valores menores do que anteriormente. Isso pode ser um desestímulo à exportação, e um estímulo a que se comercialize esses produtos internamente.

O fato de a taxa de juros estar paralisada nos Estados Unidos, por enquanto, não quer dizer nada, porque efetivamente está se prevendo uma inflação norte-americana para os próximos meses, e o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) já sinalizou que pode aumentar a taxa de juros, o que vai impactar na economia norte-americana, porque pode ter um cenário de inflação com recessão. Já está tendo dois trimestres praticamente em queda do PIB e isso pode se configurar uma recessão com uma taxa de juros mais elevada. Com relação à compra de insumos, o Brasil vai continuar com grandes pressões, pois tem uma dependência muito grande com relação a fertilizantes. Embora o Brasil seja um grande produtor e exportador de petróleo, a produção interna de fertilizantes é inferior à demanda. Então, ainda importa bastante e há pressões internacionais bastante sérias.

Muito provavelmente a guerra na Ucrânia vai continuar, o preço do petróleo deve continuar elevado, embora os Estados Unidos aumentem a oferta. Então, como consequência, os brasileiros vão pagar mais caro por esses insumos. Isso não tem uma relação direta com a taxa de juros nos Estados Unidos, mas vai afetar a rentabilidade da produção brasileira. Quanto mais alto o dólar, melhor para os produtores, mas por outro lado, é bom para a parte dos insumos, como adubação e ureia. Esse é um fator positivo não só em termos correntes, em compra e venda para o mercado interno, mas também em relação a uma sinalização futura com relação aos preços que vão ser praticados no País. O governo está bastante preocupado com a inflação dos alimentos, e isso pode representar um alento futuro.

É lógico que, do ponto de vista dos produtores, aqueles que exportam principalmente, que efetivamente vão realizar essa produção em dólar, isso pode não ser tão positivo, mas o mercado interno está bastante aquecido. Então, é viável redirecionar essa produção que iria para a exportação para o mercado interno, que está demandando cada vez mais. Em alguns produtos, o fato de o mercado interno estar demandando bastante fez com que algumas importações acabassem encarecendo o produto. Esse é o caso do arroz. E nesse ano o Brasil vai ter uma safra recorde de arroz. A Companhia Nacional e Abastecimento (Conab) está prevendo um crescimento de 14,3% nessa safra, para 12 milhões de toneladas, e isso reduz a importação, ou elimina praticamente a importação.

Também há boa perspectiva em relação ao trigo, que é importado. O Brasil vai importar menos trigo esse ano. Então, do ponto de vista do mercado interno vai ser positivo esse movimento. Com relação às tarifas que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pretende impor às exportações brasileiras ainda é incerto. Não há uma tarifa geral, como está tentando se impor à China, por exemplo; as tarifas são setoriais ainda, mas certamente para alguns produtos agrícolas haverá algum problema para a colocação destes no mercado norte-americano. Por exemplo, o Canadá é um grande exportador de carne para os Estados Unidos e agora com uma tarifa de 30% na exportação do produto, não vai ser possível que a carne brasileira entre no mercado norte-americano com uma tarifa baixa, embora tenha tarifas competitivas.

Por outro lado, o Brasil vai conseguir substituir algumas exportações norte-americanas, porque vai ter retaliação. Certamente a Europa e a China vão retalhar. A China é um grande comprador de produtos agrícolas norte-americanos e o Brasil tem condições de ampliar as suas exportações para esses mercados, para a China e para a Europa. Então, pode ser que o Brasil reduza a exportação para os Estados Unidos, o que, de certa forma, pode ser bom, porque reduz a vulnerabilidade em relação a essas exportações e abre novos mercados para carnes, principalmente, e outras commodities que o Brasil tem grandes vantagens competitivas. Fonte: AviSite. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.