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21/Mar/2025

Sustentabilidade: entrevista Kalil Cury Filho - Fiesp

Na América Latina, Guatemala, Colômbia, Costa Rica, Peru, Uruguai e Chile estão entre os países mais avançados na agenda de sustentabilidade, de acordo com Kalil Cury Filho, diretor adjunto de Desenvolvimento Sustentável da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e coordenador do Fórum Mundial de Economia Circular, que acontecerá em maio. Em sua visão, porém, se o Brasil melhorar a atuação na área, pode virar exemplo para o resto do mundo. “O Brasil é como quando o Pelé entrava em campo. Quando ele entrava, o jogo mudava. O Brasil, entrando em campo mais fortemente, passa na frente de todos por causa do ativo que tem: a natureza. Temos água, sol e vento em abundância”, diz Cury Filho.

Segundo ele, as empresas terão de mudar a lógica em que operam para garantir a redução das emissões, trabalhando para que seus produtos durem o máximo possível, de modo a evitar que sejam substituídos rapidamente. Isso diminuiria a necessidade de aquisição de novos itens e, portanto, o gasto de energia para produzi-los. Presente em 18 edições da COP, a Conferência da ONU sobre mudanças climáticas, Cury Filho diz que pode haver imprevistos na COP30, que será realizada no Pará em novembro, dado o atraso na organização do evento, avisando que não dá para resolver as coisas no “jeitinho brasileiro”. O País precisa ser profissional nessas questões, mas ainda temos tempo. Segue a entrevista:

As indústrias siderúrgica e de cimento têm um desafio grande para reduzir emissões. O que elas têm feito

até aqui?

Kalil Cury Filho: Tenho uma visão pessimista e uma otimista sobre isso. Vou mais pela otimista para poder acordar amanhã e continuar. O paralelo que a gente pode fazer é com a energia solar. Ela era caríssima; hoje é barata. Isso porque teve ganho de escala. Tanto na indústria siderúrgica como na do cimento, as alternativas conhecidas hoje são caras, mas, dependendo da escala e de imposições dos órgãos reguladores, pode acontecer (a descarbonização).

Muitos países deram subsídios para as empresas substituírem suas fontes de energia. A Fiesp defende algum subsídio para isso?

Kalil Cury Filho: Hoje, uma questão relevante é a dos subsídios para a indústria do petróleo. São trilhões de dólares anuais. É um contrassenso, se você pensar que a gente precisa reduzir as emissões. Como é que se dá um subsídio desse tamanho para a indústria do petróleo? Aí você fala: ‘Em vez de dar esse subsídio, posso colocar o dinheiro para tecnologias de menor emissão’. Esse é um trade-off difícil. O mundo está muito conectado ao petróleo, na petroquímica e nos materiais que a gente usa. Desmontar isso demora. Acho que o mundo está fazendo esse trabalho. Tem uma discussão se está fazendo na velocidade possível. Tem críticas em relação a isso. Mas, se você olhar o mainstream das indústrias, as empresas têm isso como dado. O que não está certo é a data. Uns acham que em 2040 não vai mais ter petróleo. Outros falam em 2060. Mas o caminho está dado. Agora, é uma tarefa desafiadora.

O senhor é coordenador do Fórum Mundial de Economia Circular, que vai acontecer no Brasil. A economia

circular também pode ter um papel na descarbonização…

Kalil Cury Filho: Um papel enorme. Quando a gente fala de redução de emissões, a primeira questão é a fonte de energia: petróleo, gás, carvão. Mas você também pode reduzir o uso da energia. Isso tem a ver com consumir apenas aquilo que você precisa. Também tem a ver com o descarte, por exemplo, da embalagem ou mesmo do produto que você utilizou. Se for um descarte seletivo, pode permitir o reaproveitamento do material. Ou se você consome um produto com vida útil mais longa, você vai substituí-lo menos vezes e vai consumir menos energia para fazer novos. Hoje não é isso que as empresas fazem. A lógica é que os produtos durem menos. Isso é difícil, mas vai ter de mudar. Algumas empresas estão fazendo isso de uma forma muito inteligente. Por exemplo, no aeroporto de Amsterdã, a Philips vende a iluminação, não a lâmpada. Se a lâmpada queima, ela tem de substituir. Isso acaba fazendo um círculo virtuoso em que a empresa não quer que a lâmpada queime. Outro caminho é via regulador. Aí o governo tem papel fundamental. E isso não tem nada a ver com a discussão política de governo maior ou de Estado mínimo. É o papel do governo de regulador, de indutor de transformações ou de líder. Por exemplo, o governo pode incentivar o aproveitamento de produtos que sejam reciclados, não tributá-los.

Essa pauta está em debate no governo hoje?

Kalil Cury Filho: Sim. O MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) está envolvido nessa discussão. O governo também definiu um plano nacional de economia circular e está apoiando uma legislação que está em tramitação no Senado sobre o tema. As coisas estão caminhando bem, mas elas ainda são recentes.

Quais países o Brasil deveria ter como exemplo nessa área?

Kalil Cury Filho: A Finlândia, que é o nosso parceiro para o Fórum Mundial de Economia Circular, tem um programa de economia circular agressivo. A Holanda é outro país muito forte. Na América Latina, Guatemala, Colômbia, Costa Rica, Peru, Uruguai e Chile estão avançados na agenda de sustentabilidade. Mas o Brasil é como quando o Pelé entrava em campo. O jogo mudava. O Brasil entrando em campo mais fortemente passa na frente de todos por causa do ativo que tem - a natureza. Temos água, sol e vento em abundância.

Fonte: Broadcast Agro.