18/Mar/2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca no Japão na última semana do mês com uma mensagem clara: é preciso iniciar logo as negociações formais por um acordo comercial Japão-Mercosul. O presidente terá uma reunião de trabalho para tratar do assunto com o premiê Shigeru Ishiba. Segundo o embaixador Eduardo Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, o presidente Lula vai demonstrar essa disposição de dar o próximo passo e lançar as negociações. A sinalização agora depende mais do Japão. Conforme fontes diplomáticas brasileiras, o país asiático manifesta receios por causa do agronegócio interno. Em 2023, o comércio bilateral entre Japão e países do Mercosul foi de US$ 14 bilhões, com superávit para o bloco sul-americano de US$ 785 milhões. Os principais produtos exportados pelo bloco foram minério de ferro (19%), milho (14%), miúdos de frango (13%), resíduos sólidos de soja (8%) e café em grão (7%).
As importações são principalmente caixas de câmbio de veículos (21%), automóveis (2%), produtos imunológicos (2%), produtos siderúrgicos (2%) e trilhos de aço (2%). Há alguns anos, representantes do Mercosul e do Japão mantêm conversas periódicas, um diálogo diplomático, de caráter exploratório sobre um acordo. A quinta reunião ocorreu no ano passado, em Assunção, Paraguai. O encontro tratou de acesso dos produtos do agronegócio ao mercado japonês, regras sanitárias e fitossanitárias, comércio, investimentos, cadeias de suprimentos e transição energética. A interpretação no governo brasileiro é de que esse formato se esgotou e que falta uma decisão política para passar agora à fase seguinte: o lançamento oficial das tratativas, com nomeação de negociadores. Elas podem demorar anos. A viagem de Lula ao Japão e, em seguida, ao Vietnã, faz parte de uma estratégia de diplomacia presidencial voltada à inserção na Ásia, onde o governo busca ampliar a relação econômica com parceiros alternativos aos dois maiores: China e Estados Unidos.
O objetivo é escapar dos conflitos geopolíticos e de efeitos negativos da guerra comercial entre ambos e da batalha tarifária iniciada pelo presidente norte-americano Donald Trump. Na Ásia, o primeiro acordo foi fechado em 2023, com Singapura. Há contatos exploratórios com Vietnã e Indonésia, país também na rota de Lula, assim como o bloco do Sudeste Asiático Asean. As negociações com Singapura foram concluídas em cinco anos, mas as com a União Europeia levaram 25 anos. A avaliação no governo brasileiro é de que a conclusão de negociações com os europeus coloca pressão sobre o Japão, um exemplo é que as montadoras de automóveis japonesas tendem a ficar em desvantagem em relação às europeias. O governo Lula espera que a assinatura do acordo Mercosul-UE ocorra em dezembro.
No segundo semestre, o Brasil assumirá a presidência rotativa do Mercosul, após o fim do período da Argentina. O governo brasileiro vê o período de Javier Milei como presidente do bloco do Cone Sul como uma fase de “controle de danos”. Ele indicou várias vezes que poderia abandonar o Mercosul e falou em fomentar um acordo com os Estados Unidos. Atualmente, a presidência da União Europeia está nas mãos da Polônia, país abertamente contrário ao acordo. Em seguida, será a Dinamarca, que é favorável. O Brasil também vai sediar neste ano uma cúpula com líderes da União Europeia. Até lá, existe a perspectiva de que o acordo possa ser assinado, desde que tenha sido previamente votado e aprovado no Conselho Europeu e no Parlamento Europeu. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.