13/Mar/2025
Levou quase dois meses, mas os investidores finalmente começaram a levar a sério as ações intempestivas e irracionais adotadas pelos Estados Unidos desde a posse do presidente Donald Trump. Na segunda-feira (10/03), os mercados viveram um dia de caos. As bolsas de valores despencaram, o índice de tecnologia Nasdaq recuou 4%, no pior pregão desde setembro de 2022, e as big techs perderam mais de US$ 750 bilhões em valor de mercado. O pessimismo é resultado das bravatas de Donald Trump, que, no dia anterior, em entrevista, não descartou a possibilidade de que a economia norte-americana entre em recessão neste ano e menosprezou o risco de que a guerra tarifária que tem empreendido com países do mundo todo impulsione a inflação. Com a declaração, cresceram as apostas de que a economia norte-americana de fato vai entrar em crise.
O Goldman Sachs elevou de 15% para 20% a chance de uma recessão nos Estados Unidos no ano que vem, enquanto o JPMorgan Chase já considera que a possibilidade de uma recessão global é de 40% neste ano. Nos dois casos, as instituições mencionaram as mudanças na política externa norte-americana para justificar o pessimismo. Mais do que as tarifas aplicadas contra Canadá, México e China, os analistas estão preocupados com a incerteza gerada pelas idas e vindas em torno delas, explicou o Bahnsen Group. Ademais, recessão e inflação não estavam na lista de promessas que Donald Trump fez quando ainda estava em campanha eleitoral. Com tanta imprevisibilidade, o mercado cansou de esperar e optou por precificá-la, punindo, sobretudo, os papéis das big techs. A Tesla, por exemplo, caiu 15,43%, refletindo vendas menores que o esperado e o controverso papel que seu CEO, Elon Musk, tem exercido no governo Trump. Apple, Nvidia, Meta e Alphabet também sofreram quedas relevantes e arrastaram consigo, além da Nasdaq 100, os índices Dow Jones e S&P 500.
Já há alguns sinais de desaceleração na economia norte-americana, mas ainda é cedo para sacramentar se eles levarão a uma depressão. O déficit comercial aumentou 34% em janeiro, ante dezembro, maior variação desde março de 2025, e a confiança do consumidor recuou sete pontos em fevereiro, terceira queda consecutiva e pior variação mensal desde agosto de 2021, mas a inflação e o mercado de trabalho continuam pressionados. Já estava claro que Donald Trump agia sem medir as consequências políticas e diplomáticas de suas decisões, mas ainda havia uma esperança, entre os investidores, de que o presidente norte-americano preservasse uma relação de proximidade com Wall Street, como a que manteve em seu primeiro mandato. Essa expectativa acaba de cair por terra, e o mercado optou por proteger seus ativos, em vez de tentar encontrar alguma lógica nas bravatas do republicano, quando percebeu a tranquilidade com que o presidente norte-americano falou sobre a chance de os Estados Unidos enfrentarem um estagflação.
E a incerteza prosseguiu na terça-feira (11/03). Ao longo do mesmo dia, o presidente norte-americano decidiu ampliar as tarifas sobre o aço e o alumínio canadenses para 50%, para em seguida voltar atrás e mantê-las em 25%. O impacto que essa política terá sobre a competitividade da indústria norte-americana pode ser brutal, uma vez que os Estados Unidos importam 25% do aço que consomem e a maior parte vem justamente do Canadá. Mas, Trump parece disposto a arcar com as consequências, talvez subestimando as razões pelas quais derrotou seu antecessor, Joe Biden. Justa ou injustamente, a população julgou que houve certa leniência do democrata com a inflação e vislumbrou na eleição do republicano uma situação econômica melhor, ainda que ela fosse melhor somente para os norte-americanos. Parece que se equivocaram, mas, na dúvida, o mercado já se ajustou para perder menos dinheiro neste cenário. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.