12/Mar/2025
A combinação entre juros altos, inflação elevada e economia menos pujante perfaz um cenário difícil para os consumidores, mas não somente para eles. Empresas, sobretudo as de menor porte, também têm tido dificuldades para gerar caixa e honrar seus débitos, e a perspectiva de que essa conjuntura não mude no médio prazo torna tudo ainda mais desafiador. Levantamento da assessoria financeira Sêneca Evercore mostrou que 120 empresas de capital aberto e volume baixo de negociações em bolsa, conhecidas como small caps, precisariam de um caixa três vezes maior do que aquele que geram atualmente para pagar suas dívidas. Entre 2021 e 2022, o indicador estava mais próximo de duas vezes. Já o índice de cobertura, que mede a capacidade de saldar custos financeiros, caiu de 2,6 em 2021 para 1,4 no ano passado. Quanto mais baixo, menor é a capacidade de a empresa liquidar suas despesas.
Estudo da RK Partners, escritório responsável por algumas das principais reestruturações de empresas do País, tomou como base uma amostra de 307 companhias de capital aberto e revelou que 25% delas não têm como pagar suas despesas financeiras. Não há como não associar essa piora à evolução da taxa básica de juros ao longo desse período. Entre agosto de 2020 e março de 2021, durante a pandemia de Covid-19, a Selic permaneceu em 2% ao ano. De um lado, isso contribuiu para aliviar as dificuldades das empresas em um momento desfavorável para o mundo todo. De outro, muitas companhias aproveitaram os juros historicamente baixos para se financiar e fazer aquisições. Mas, a situação foi passageira e pegou muitas empresas de surpresa. Com o retorno da inflação, o Banco Central (BC) rapidamente começou a elevar os juros, e em menos de um ano e meio eles saltaram de 2% ao ano para 13,75% ao ano, patamar em que ficaram de agosto de 2022 a agosto de 2023.
A Selic voltou a cair nos meses seguintes, mas a trégua acabou em setembro de 2024, quando o Banco Central iniciou o mais recente ciclo de alta. Hoje, a Selic está em 13,25% ao ano, e a tendência é de que ela chegue a 14,25% na reunião deste mês. No mercado, a previsão é de que ela encerre o ano em 15%. Com juros nesse patamar, qualquer empresa que tenha uma dívida superior a 2,5 vezes sua geração de caixa já pode ser considerada muito endividada. Previsivelmente, muitas empresas entraram em recuperação judicial e extrajudicial nos últimos anos. Entre as pequenas, os pedidos aumentaram 70% nos últimos dois anos, e entre as médias, o avanço foi de 35%. Mesmo as companhias de grande porte, que têm acesso a capital mais barato, tiveram aumento de 8% nos pedidos de proteção entre o quarto trimestre de 2022 e o mesmo período de 2024. Com taxas tão altas, é compreensível que os empresários prefiram ativos sem muito risco, como títulos públicos, a investir em projetos próprios que muitas vezes exigem captação de recursos.
Para muitos empresários, se há condição de aplicar o seu dinheiro a 15%, 16%, em alguns casos a 20%, 25% ao ano, graças aos juros altos, não há razão para investir em produção e correr riscos. O empresariado fica “vagabundo”, “sentado na cadeira sem fazer nada, e o dinheiro não produz. Em contrapartida, quem tem a ousadia de investir em um cenário tão adverso pode rapidamente se encalacrar caso não consiga gerar caixa suficiente para se manter até que os novos projetos comecem a dar retorno. Mesmo grandes geradoras de caixa têm dificuldades para reduzir seu endividamento. A política fiscal expansionista está por trás do aquecimento da economia e do aumento da inflação. Se a Selic voltou a níveis tão elevados, é porque essa é a principal arma do Banco Central para tentar domá-la. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.