07/Mar/2025
Segundo a StoneX, a nova guerra comercial entre Estados Unidos, China, México e Canadá pode favorecer exportações do agronegócio brasileiro, especialmente de soja, algodão, carne bovina e fertilizantes. O governo de Donald Trump impôs tarifas de 25% sobre produtos importados do Canadá e México e um adicional de 10% sobre a China. Como resposta, a China anunciou taxas de 15% sobre trigo, milho, algodão e carne de frango dos Estados Unidos, além de 10% sobre soja, carne suína e bovina. Desde a entrada em vigor das tarifas, na terça-feira (04/03), um movimento generalizado de aversão ao risco foi observado, afetando negativamente mercados acionários e de commodities nos Estados Unidos. Para a soja brasileira, o efeito pode ser positivo.
A taxação da soja norte-americana pela China, mesmo que num percentual mais baixo (10%) em comparação ao ocorrido no primeiro mandato de Donald Trump (25%), tende a prejudicar a competitividade do grão dos Estados Unidos. Com isso, a soja brasileira pode ter sua demanda reforçada. O Brasil, que já exporta mais de 100 milhões de toneladas anuais, pode se beneficiar com prêmios sustentados nos portos. Caso a China compre ainda mais soja brasileira, outros destinos devem se deslocar para o mercado norte-americano, havendo uma reorganização dos fluxos internacionais da oleaginosa e não, necessariamente, uma grande 'sobra' de soja dos Estados Unidos. No mercado de algodão, a China, maior consumidora global da fibra (32,3% da demanda mundial), depende de importações de grandes produtores, como Brasil, Estados Unidos e Austrália.
Com a tarifa de 15% sobre o algodão norte-americano, a pluma brasileira ganha competitividade. Em 2024, o Brasil exportou 925 mil toneladas de algodão para a China, enquanto os Estados Unidos enviaram 765 mil toneladas. As ações retaliatórias sobre o algodão norte-americano ajudaram a pressionar ainda mais os preços da pluma negociada na Bolsa de Nova York. Para a carne bovina, o Brasil foi o terceiro maior fornecedor para os Estados Unidos até novembro de 2024, com 206 mil toneladas exportadas (14% do total). A China importou 145 mil toneladas da proteína dos Estados Unidos no ano passado, volume que pode ser redirecionado a outros fornecedores devido à retaliação tarifária. No mercado de biocombustíveis, os produtos mais afetados são óleo de canola, óleo de fritura usado (Used Cooking Oil - UCO) e sebo bovino, todos amplamente utilizados na produção de biodiesel e HVO.
O Brasil é o principal fornecedor de sebo bovino aos Estados Unidos, que exportou um recorde de 334 mil toneladas no ano passado, o equivalente a 38% das importações norte-americanas do insumo. Assim, o sebo se destaca como o insumo brasileiro mais exposto, com as exportações podendo sofrer em casos de reciprocidade de tarifas. No setor de fertilizantes, o Canadá fornece 87% do potássio importado pelos Estados Unidos. A imposição de uma tarifa de 25% sobre as importações de fertilizantes canadenses pelos Estados Unidos pode afetar diretamente os compradores norte-americanos que dependem desse insumo. O volume importado anualmente pelos Estados Unidos dificulta a busca por novos fornecedores no curto prazo, o que pode elevar os custos de produção dos agricultores norte-americanos. A StoneX também chama atenção para a indefinição sobre uma possível retaliação do México. O México é o maior comprador de milho dos Estados Unidos e, caso decida adotar medidas de resposta às tarifas impostas pelos Estados Unidos, pode desorganizar o fluxo do comércio global de grãos e se refletir sobre os preços.
Para o Itaú BBA, o aumento das tarifas chinesas sobre produtos agrícolas norte-americanos deve gerar oportunidades para exportadores brasileiros e pressionar as cotações de grãos e proteínas nos Estados Unidos. As novas tarifas incluem um aumento de 15% para aves, trigo, milho e algodão, além de 10% para carne bovina, suína, soja, sorgo, laticínios e frutos do mar, com vigência a partir de 10 de março. As recentes notícias devem implicar: pressão de baixa sobre as exportações agrícolas dos Estados Unidos; ajustes de preços no mercado global de grãos e proteínas à medida que o fornecimento é redirecionado; algum potencial de alta para as exportações brasileiras para a China; preços de grãos mais altos no Brasil e maior volatilidade no mercado de commodities em meio à escalada de tarifas.
A China é um comprador relevante de soja e algodão dos Estados Unidos, respondendo por 50% e 37% das exportações norte-americanas para cada commodity em 2024, respectivamente. O estudo aponta que o Brasil tem potencial para suprir parcialmente a demanda chinesa, já que historicamente as exportações de soja, algodão e carne bovina representam 45%, 90% e 12% da produção doméstica brasileira. Para o algodão, 13% do consumo chinês é abastecido por importações norte-americanas, o que pode abrir espaço para exportadores brasileiros. A situação atual do mercado de algodão mostra que 34% das exportações brasileiras da pluma são direcionadas para a China, enquanto 37% das exportações norte-americanas vão para o país asiático.
O Itaú BBA compara o cenário atual com a guerra comercial entre Estados Unidos e China em 2018, quando o spread entre os preços da Bolsa de Chicago e Sorriso (MT) se ampliou em cerca de 300 pontos-base. Semelhante à guerra comercial entre China e Estados Unidos em 2018, os efeitos positivos para empresas brasileiras listadas podem se concentrar em SLC e BrasilAgro. No entanto, o potencial de impactos positivos provavelmente não atingirá a mesma magnitude observada no passado devido ao aumento já registrado da demanda. Atualmente, as exportações brasileiras para a China representam cerca de 70% das exportações totais do Brasil, em comparação com cerca de 50% em 2017. Para frigoríficos com operações nos Estados Unidos, como JBS e Marfrig, o reflexo das tarifas deve ser misto.
Embora o aumento das tarifas sobre importações de carne suína e aves possa potencialmente criar mais oportunidades para os frigoríficos ganharem tração no mercado chinês, apenas cerca de 1% da carne suína e de frango consumida na China veio dos Estados Unidos no ano passado. A medida também pode elevar os custos para os produtores brasileiros de proteína animal. O prêmio sobre os grãos brasileiros pode subir devido ao aumento da demanda da China, tornando os custos de alimentação mais caros para os produtores locais de proteína. No caso da soja, o estudo aponta uma mudança significativa no perfil das importações chinesas: em 2017, o Brasil representava 53% das compras de soja da China, enquanto em 2024 esse percentual saltou para 69%, com os Estados Unidos respondendo por 23% das importações do grão. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.