06/Mar/2025
A nova rodada de tarifas comerciais entre Estados Unidos e China pode trazer oportunidades para o agronegócio brasileiro, mas o cenário apresenta desafios diferentes dos observados na primeira guerra comercial entre as potências em 2018-2019, avalia o analista e sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo. Em resposta às tarifas de 25% sobre importações do Canadá e México e ao adicional de 10% sobre produtos chineses impostos pelo presidente Donald Trump, Pequim anunciou medidas retaliatórias focadas no setor agrícola americano. As novas taxas incluem 15% sobre importações de trigo, milho, algodão e carne de frango dos EUA, e 10% sobre soja, sorgo, carne suína e bovina. "A guerra comercial entre EUA e China reduzirá a competitividade dos produtos norte-americanos em relação aos do Brasil. A China buscará obter o máximo possível do Brasil", afirma Cogo em análise divulgada no dia 4 de março.
O especialista projeta impactos significativos nas bolsas de commodities agrícolas dos EUA. Para a soja negociada na Bolsa de Chicago (CBOT), Cogo prevê pressão de baixa nos preços, uma vez que a demanda chinesa deve migrar parcialmente para o Brasil. No milho, o analista espera um "impacto moderado a negativo", com a China diversificando fornecedores e favorecendo exportadores sul-americanos. Já para o algodão na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), a expectativa é de queda nas cotações, considerando que a China figura entre os principais compradores da fibra norte-americana. A experiência anterior, durante o primeiro mandato de Trump, resultou em um acréscimo médio de 148% nos prêmios pagos pela soja brasileira nos portos nacionais em comparação com os valores históricos em 2018 e 2019. Segundo Cogo, fenômeno semelhante pode ocorrer novamente. "A tarifação da China pelos EUA também poderá impactar os prêmios da soja, milho e algodão no Brasil", observa.
O cenário atual, contudo, apresenta diferenças importantes. "Durante esse período, porém, o Brasil foi praticamente o único beneficiado, já que a Argentina, outro grande produtor de soja, sofreu forte quebra na safra. Em 2024/2025, porém, se a China tiver de se voltar a outros fornecedores da oleaginosa para substituir o fornecimento dos EUA, o Brasil enfrentará a concorrência da Argentina, que deve ter safra volumosa", explica. Para o Brasil, o economista identifica três desafios principais no novo contexto: a concorrência argentina, com perspectiva de boa safra em 2024/2025; incertezas quanto ao aumento dos prêmios nos portos brasileiros; e o risco de os EUA redirecionarem exportações para outros mercados, intensificando a competição com Brasil e Argentina na União Europeia e no Sudeste Asiático. Dados apresentados por Cogo mostram que a China representa 4,8% das importações de milho dos EUA, 52,5% da soja e 10,9% do trigo em 2024, confirmando sua posição como maior parceiro comercial da agricultura norte-americana. Fonte: Broadcast Agro.