06/Mar/2025
O anúncio, pela China, de que elevará as barreiras comerciais contra produtos norte-americanos, em retaliação às alíquotas impostas pelo governo Donald Trump, pode levar a um aumento das exportações brasileiras para o gigante asiático. Porém, uma maior venda de produtos agrícolas pelo Brasil ao exterior, em contexto interno de preço dos alimentos em alta, pode agravar ainda mais a inflação no País. Para a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a decisão da China e do Canadá de retaliarem os Estados Unidos pode abrir uma janela de oportunidade às exportações brasileiras, já que o Brasil é um grande produtor de alimentos. Mas, ainda é cedo para avaliar os reais impactos. No primeiro mandato de Donald Trump, a China retaliou ações dos Estados Unidos e o Brasil ganhou mercado nas exportações de soja para o país asiático tomando fatias que eram dos norte-americanos. Esse cenário poderia se repetir. No entanto, há agora outras variáveis, como a inflação elevada no mercado doméstico brasileiro.
É preciso avaliar quais desses produtos pesam muito na cesta de inflação. Tudo vai depender do posicionamento do governo brasileiro. Além disso, os produtos agropecuários dependem da oferta, mais abundante em períodos de safra. Quando o Brasil recebeu o presidente da China, Xi Jinping, no final do ano passado, foram assinados acordos de facilitação de exportações para vários produtos, entre eles o sorgo. O grão, utilizado para ração animal, é importado pela China dos Estados Unidos e agora está sendo retaliado pelo país asiático com tarifa de 15%. Para alguns produtos, a China já estava imaginando que seriam passíveis de retaliação. Em 2024, o Brasil exportou US$ 94,27 bilhões em produtos para a China, o que já representou 28% do total vendido pelo País ao exterior. Os produtos agrícolas representaram 36% desse total e geraram uma receita de US$ 33,94 bilhões. Entre os dez principais produtos vendidos pelo Brasil para China, a soja lidera. Para a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o Brasil pode sair ganhando num primeiro momento, porque é um grande produtor de alimentos e tem capacidade rápida de entrega. Mas, não se sabe o que virá em seguida.
Os dois grandes produtores de commodities (matérias-primas) agropecuárias são Brasil e Estados Unidos. O alinhamento do Brasil como supridor da China no lugar dos Estados Unidos pode ser interpretado pelos norte-americanos como apoio à retaliação chinesa e, num segundo momento, tornar o País também alvo de represália. Tudo pode acontecer, “o mundo está ficando de cabeça para baixo”. Para o Barral Parente Pinheiro Advogados, o Brasil pode ampliar exportações de soja para a China, e o México e o Canadá podem se interessar por abrir negociações com o Mercosul. De um lado tem a hipótese de que a retaliação chinesa contra os Estados Unidos possa beneficiar exportações brasileiras, principalmente porque a China já falou que achou contaminantes na soja norte-americana. Isso deve derrubar as exportações dos Estados Unidos para China. A outra questão é eventual interesse do México e do Canadá. Isso pode abrir espaço para exportação brasileira para esses países. Talvez eles possam se interessar por abrir negociações com o Mercosul.
Sobre os efeitos na inflação em caso de aumento da exportação, é preciso analisar produto a produto, mas as exportações brasileiras são baixas, comparadas ao consumo interno. Teoricamente diminuiria a oferta no Brasil, mas não necessariamente, porque o percentual da exportação brasileira é muito pequeno. Muitas commodities como carne e frango, grande parte é para consumo nacional, então teria de analisar caso a caso, ou seja, cada produto. Para a G5 Partners, a guerra comercial vem em mau momento para a inflação no Brasil. Se, por um lado, o aumento das exportações para a China pode favorecer a balança comercial; por outro, pode reduzir a oferta de produtos internamente e pressionar preços. A oferta de alimentos no Brasil vem passando por problemas pontuais que vêm afetando a inflação. Se a esses problemas de oferta se somarem questões de demanda externa, pode haver um prolongamento da alta nos preços dos alimentos, principalmente daqueles da cadeia de proteína. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.