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06/Mar/2025

Brasil pode ser menos afetado por tarifas dos EUA

O governo brasileiro vê foco limitado dos Estados Unidos sobre o etanol do Brasil. Eventuais anúncios tarifários do presidente Donald Trump tendem a não afetar, neste momento, outros produtos agropecuários brasileiros, como carnes e café. Integrantes do governo classificam a ameaça tarifária dos Estados Unidos sobre o etanol como iminente. Para carnes, o risco é considerado baixo, enquanto para o café, o risco de sobretaxas norte-americanas é tido como "zero". Há espaço para o diálogo e negociação antes de eventuais respostas tarifárias. Por ora, não há sinais de intenção de sobretaxas dos Estados Unidos para além dos produtos já citados (etanol, aço e alumínio), apesar de prometerem uma revisão e estudo geral das condições de acesso aos mercados. Os Estados Unidos foram o segundo principal destino dos produtos agropecuários brasileiros no ano passado, com exportações de US$ 12,092 bilhões, respondendo por 7,4% do total exportado pelo agronegócio no ano.

Os embarques concentram-se em café verde, celulose, carne bovina in natura, suco de laranja e couro, segundo dados do sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro. O Brasil importou US$ 1,028 bilhão em produtos do agronegócio dos Estados Unidos no último ano. O etanol brasileiro foi citado explicitamente pelo governo norte-americano há cerca de duas semanas como exemplo de produto de falta de reciprocidade. Há uma pressão antiga dos Estados Unidos para redução do imposto de importação aplicado pelo Brasil sobre o produto norte-americano, de 18% ante 2,5% da tarifa cobrada para o etanol brasileiro que entra nos Estados Unidos. A pressão já estava no radar do Brasil e sempre foi reiterada pelas autoridades norte-americanas em quaisquer negociações. Uma das possíveis retaliações dos Estados Unidos sobre o etanol brasileiro seria a aplicação de tarifas recíprocas quanto ao etanol de cana-de-açúcar exportado para lá, sobretudo para Califórnia para cumprimento de metas de descarbonização.

Em 2024, o Brasil exportou US$ 181,828 milhões em etanol aos Estados Unidos, produto vendido sobretudo para a Califórnia. O país se tornou o segundo principal destino do biocombustível brasileiro. As exportações do etanol norte-americano ao Brasil somaram US$ 50,530 milhões. Carnes e café estariam parcialmente "blindados" pelo potencial inflacionário de sobretaxas norte-americanas sobre os produtos brasileiros. Há uma preocupação muito grande com a inflação dos alimentos no país e com o aumento na ponta para os consumidores norte-americanos. O café, principal produto agropecuário brasileiro exportado para os Estados Unidos, é o que tem risco praticamente nulo de sofrer sobretaxas, dado o seu peso estratégico para a indústria do país. Para o setor exportador, a importância da agregação de valor feita pelos Estados Unidos sobre o café verde brasileiro, que representa 1,3% do PIB nacional, deve prevalecer em detrimento de tarifas. A indústria do café representa cerca de 2 milhões de empregos no país, proporcionando perto de US$ 340 bilhões por ano para a economia norte-americana. Por ora, há menor risco sobre o café entre os demais produtos, mas é uma questão a ser monitorada.

Em 2024, o Brasil exportou 471,539 mil toneladas de café (7,859 milhões de sacas de 60 Kg), equivalente a US$ 2,075 bilhões, para os Estados Unidos. Interlocutores da indústria acreditam que tende a prevalecer a "racionalidade comercial" baseada no pragmatismo e no bom relacionamento entre os traders. Em relação à carne bovina, o Brasil vem fornecendo maior volume ao mercado norte-americano em virtude da dificuldade da oferta escassa local nos Estados Unidos. Os Estados Unidos estão em ciclo de baixo estoque de gado, o que deve se estender por pelo menos dois anos, exigindo o fornecimento externo. Fora isso, há uma grande presença de frigoríficos brasileiros no país. Atualmente, o produto brasileiro entra no país com imposto de importação de 26,4%, à exceção de uma cota anual de 65 mil toneladas desonerada. Em 2024, o Brasil exportou 248,507 mil toneladas em carnes aos Estados Unidos, o equivalente a US$ 1,411 bilhão, sendo US$ 1,350 bilhão de carne bovina. Há também uma preocupação manifestada pelos Estados Unidos com o crescimento da produção brasileira de soja e milho.

Em Wall Street, o Brasil é visto como o país menos exposto aos riscos negativos do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Na terça-feira (04/03), a ameaça de campanha do republicano, após uma trégua de um mês, começou a valer para os primeiros alvos, México, China e Canadá. Outros mercados estão na mira, o que sustenta uma onda global de aversão a ativos de risco, já observada nos mercados na segunda-feira (03/03), e eleva temores quanto aos efeitos negativos do "homem tarifa" para a economia global. O índice VIX, uma espécie de ‘termômetro do medo’ em Wall Street, tem atingido níveis elevados em meio ao aumento das tensões nas relações comerciais globais com Donald Trump. Depois de um mês de trégua, os Estados Unidos começaram a taxar o Canadá e o México com tarifas adicionais de 25% a partir de terça-feira (04/03). No caso da China, a alíquota cobrada vai dobrar, para 20%.

Desde que tomou posse, Donald Trump tem mencionado uma série de países que podem passar a sofrer tarifas comerciais mais duras. Dentre eles, estão economias da Europa, mas também outros emergentes a exemplo do Brasil e da Índia. Bancos norte-americanos como o Bank of America e o Citi veem, contudo, o Brasil como o país menos exposto ao tarifaço de Trump, por conta do déficit comercial que o País tem com os Estados Unidos. Para o Bank of America, o Brasil tem a menor exposição direta e indireta às tarifas dos Estados Unidos, uma vantagem de ser uma economia muito fechada. Segundo o Citi, a Argentina e o Brasil não estão em risco dado o déficit comercial com os Estados Unidos. O México é singularmente vulnerável a tarifas relacionadas ao comércio. Em termos de efeitos de tarifas, no México, as exportações representam cerca de 35% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a média da América Latina é 24%. No Brasil, uma economia mais fechada, é pouco menos de 20% e na Argentina é menos de 15%.

O comércio do México é extremamente concentrado nos Estados Unidos, com 80% de suas exportações. A média da região é 33%. Em termos de superávit comercial com os Estados Unidos, o México tem o segundo maior no mundo, de US$ 172 bilhões, só perdendo para a China, com US$ 295 bilhões. Muitos países da América Latina têm um déficit comercial com os Estados Unidos, o que os protege das tarifas. No Brasil, a avaliação de economistas é semelhante ao de bancos estrangeiros. Para a Equador investimentos, as tarifas de Donald Trump podem afetar negativamente o crescimento da economia norte-americana e consequentemente os países emergentes devem ser penalizados, mas no curto prazo a avaliação é de que no Brasil o foco deve se manter nos desafios domésticos. O mercado está aumentando a aposta na desaceleração do crescimento dos Estados Unidos. A desaceleração mundial, que afeta a demanda por exportações, é ruim para os países emergentes, incluindo o Brasil.

Contudo, o principal ponto de atenção com a economia brasileira segue com as questões internas. O que mais vai influenciar os ativos, no curto prazo, é a evolução fiscal e a falta de espaço para cortes de juros. Para o México e o Canadá, bancos e consultorias estrangeiros alertam para riscos mais fortes de recessão à frente. A Capital Economics calcula que, caso a taxação permaneça em vigor, uma contração de 1% do PIB mexicano neste ano seria "plausível". Mesmo que algum tipo de acordo seja alcançado para suspender essa tarifa, a ameaça contínua de barreiras comerciais dos Estados Unidos pesará na confiança e no investimento e prejudicará o crescimento do PIB do México. Ao contrário de Canadá e China, o México não tem espaço fiscal para apoiar a economia. No caso do Canadá, os danos podem ser ainda maiores. A Capital Economics estima que as tarifas devem causar um impacto no PIB do país de cerca de 3% no primeiro ano.

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou que o Canadá também vai taxar produtos dos Estados Unidos em 25% e que estão em estudo medidas não tarifárias. A China retaliou os Estados Unidos com um aumento de 15% na tarifa sobre alimentos e outros produtos agrícolas, além de aumentar as restrições de exportação para empresas norte-americanas. Por sua vez, a presidente México, Claudia Sheinbaum, prometeu um anúncio em praça pública no domingo (09/03). "Responderemos com medidas tarifárias e não tarifárias", disse ela. O Queen's College reforçou o coro quanto aos efeitos negativos do tarifaço de Donald Trump para a economia mundial. Essa escalada tem implicações significativas para a economia global, com potenciais consequências de curto e longo prazo. Os Estados Unidos podem experimentar ganhos relativos na largada. Mas, por outro lado, todos os países envolvidos, inclusive a maior economia do mundo, também devem enfrentar perdas absolutas já no curto prazo. Não há vencedores num mundo com uma guerra comercial. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.