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06/Mar/2025

Tarifas colocam em risco economia norte-americana

A guerra comercial deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se agravou na terça-feira (04/03), com anúncio de China, México e Canadá de que vão impor novas taxas a produtos americanos que entrem em seus mercados. Bolsas dos Estados Unidos e da Europa caíram. O secretário de Comércio dos Estados Unidos afirmou que Trump anunciaria um acordo com os vizinhos; a China não foi citada. As sanções a parceiros pelos Estados Unidos começaram a vigorar na terça-feira (04/03), com taxa de 25% para produtos do México e Canadá. No caso do Canadá, há a ressalva de itens como petróleo e gás, com 10%, e de 20% para mercadorias chinesas. Os três países exportam cerca de US$ 1,5 trilhão por ano para os Estados Unidos. Analistas veem oportunidades e riscos para o Brasil. A briga pode levar a um aumento das exportações do País para a China, mas a venda de produtos agrícolas pode agravar a inflação interna. O Canadá solicitou consultas com Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre as "tarifas injustificadas" contra as importações canadenses.

O governo do Canadá afirmou que a decisão dos Estados Unidos não deixa outra escolha a não ser responder para proteger os interesses canadenses. Na terça-feira (04/03), a sobretaxação de 25% dos Estados Unidos para importações vindas do Canadá entrou em vigor. O primeiro-ministro do país, Justin Trudeau, afirmou que o objetivo do presidente norte-americano, Donald Trump, com a decisão é prejudicar a economia canadense. O mercado financeiro ainda avalia, incrédulo, as ações de Donald Trump no comércio internacional. Um relatório do banco americano Morgan Stanley reflete bem essa visão, porque mostra que ainda há esperança entre investidores de que os aumentos de barreiras comerciais contra México, China e Canadá sejam de curta duração. Ou seja, de que Donald Trump esteja apenas blefando para conseguir pequenos ganhos de curto prazo, para logo em seguida recuar, como se tivesse saído vencedor. Isso explica por que o cenário do Morgan à frente se divide em dois, mesmo com a entrada em vigor das alíquotas mais altas na terça-feira (04/03).

Um prevê o recuo rápido das medidas, e com impactos limitados sobre a Bolsa, a inflação e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Outro, com o prolongamento dessa marcha da insensatez econômica e com efeitos mais espalhados sobre a economia internacional. Donald Trump constrange o liberalismo econômico com as suas barreiras no comércio, porque os efeitos serão exatamente o contrário do que ele pretende atingir. Em caso de medidas duradouras, o PIB dos Estados Unidos ficará entre 0,7% e 1,1% mais baixo, enquanto a inflação no país subirá entre 0,3% e 0,6%. Em outras palavras, Trump colocará os Estados Unidos em um cenário próximo ao da estagflação, com crescimento entre 1,2% e 1,6% no ano e inflação se distanciando ainda mais da meta de 2% (em janeiro, o PCE, índice oficial, ficou em 2,5%). Estudo do Peterson Institute, mostra que as tarifas mais altas não vão reduzir o déficit comercial dos Estados Unidos, um dos objetivos de Trump. O efeito será uma redução das exportações norte-americanas.

A corrente de comércio é uma via de mão dupla. Quando os países conseguem exportar para os Estados Unidos, eles recebem dólares em troca, fortalecendo as suas moedas e equilibrando suas transações correntes. Esse mesmo dinheiro é usado para importar produtos dos Estados Unidos. Quando Donald Trump sobe alíquotas, o efeito é o oposto. Países exportarão menos para os Estados Unidos, receberão menos dólares e comprarão, em consequência, menos produtos norte-americanos. Há um alerta ainda mais preocupante para o país: ao proteger os produtores da concorrência estrangeira, uma tarifa acaba resultando em menos inovação empresarial, crescimento mais lento da produtividade e padrões de vida mais baixos para as famílias. Com ideias rudimentares na economia, Donald Trump ameaça os pilares da competitividade norte-americana e que fizeram o país se tornar a principal potência econômica mundial. A Moody’s calcula que US$ 3 trilhões (R$ 17,6 trilhões) de fluxo do comércio global estejam sob risco diante do ataque tarifário do presidente dos Estados Unidos a parceiros comerciais como União Europeia, México, Canadá e China.

Tanto a implementação das taxas quanto as respostas retaliatórias terão efeitos de crédito desiguais nos setores e nas economias. O volume de comércio (US$ 3 trilhões em fluxos de bens) e as interligações da cadeia de suprimentos, especialmente para setores estratégicos como automóveis, tecnologia e manufatura, significam que os efeitos seriam ainda mais amplos do que os dados comerciais diretos sugerem. Os efeitos das tarifas podem ocorrer por vários canais nos setores econômicos, impactando importadores, exportadores, varejistas e consumidores de bens tarifados. As tarifas agem como um imposto sobre importações e mudam a demanda de bens tarifados para não tarifados e, consequentemente, dos setores de exportação para produtores nacionais. Para os governos, as tarifas representam um conjunto misto de impactos. De um lado, a adoção de taxas comerciais adicionais aumenta a receita para o país que as impõe, mas, por outro, pesa no crescimento econômico ao deprimir o consumo e a produção.

Portanto, no geral, em termos líquidos, as tarifas são negativas para a receita total do governo, uma vez que os efeitos macroeconômicos sejam levados em consideração. As tarifas teriam menos impacto para países com menor abertura comercial, como os Estados Unidos, mas poderiam ser muito significativas para economias dependentes do comércio, como o México e o Canadá. No caso do México, a imposição de tarifas provavelmente levaria à depreciação da moeda, com efeito sobre a inflação. Os laços comerciais estreitos entre Estados Unidos e México amplificam os efeitos tarifários. Quanto ao Canadá, o comércio com os Estados Unidos é responsável por uma parcela grande do Produto Interno Bruto (PIB) do país, com destaque para setores como o de petróleo e veículos, as maiores exportações do Canadá para os Estados Unidos. A natureza altamente integrada dessas indústrias nos Estados Unidos e no Canadá sugere que o efeito das tarifas seria significativo para ambos os países.

Já os Estados Unidos e a China são interconectados por meio de insumos intermediários. Do lado dos norte-americanos, os segmentos sob maior risco são maquinário e eletrônicos. Para a China, produtos de informática e eletrônicos, têxteis, brinquedos e móveis são os mais expostos. As tarifas retaliatórias chinesas também vão pesar na agricultura dos Estados Unidos. Por fim, a exposição da União Europeia às tarifas dos Estados Unidos varia entre países e setores. A região é o maior parceiro comercial dos Estados Unidos, com negócios de cerca de US$ 900 bilhões (R$ 5,2 trilhões). Produtos farmacêuticos, automóveis e máquinas respondem pela maior parcela das importações dos Estados Unidos. E produtos agrícolas, industriais e manufaturados são a grande parte dos produtos enviados pelos norte-americanos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.