28/Feb/2025
Segundo o presidente da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), embaixador André Corrêa do Lago, o Brasil investe grandes esforços para trazer o mundo financeiro para a agenda climática, como visto na reunião do G20, no ano passado, e assim também será na COP30. Esse esforço de unir dois universos (meio ambiente e finanças) é oportuno e necessário porque a atual tendência é de um novo tipo de negacionismo, visto que os eventos extremos recentes inibem negar que exista mudança do clima. Segundo o embaixador, a tendência agora é dizer que “é caro" mitigar os possíveis impactos ou adaptar as cidades para os efeitos já observados. Foram colocados juntos os ministros de finanças, de clima, de energia.
Isso foi feito pela primeira vez na reunião do G20 no Rio de Janeiro para que todos se entendam melhor. Ele argumentou que é frequente ver o ministro do Meio Ambiente de um país ter um diálogo melhor com o seu par de outro país do que com o ministro das Finanças do seu próprio governo. No Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é quem coordena o plano interministerial de transformação ecológica. Este é um exemplo de como o Brasil lida com o assunto. É preciso falar a linguagem das organizações, das instituições de onde vem o dinheiro para fazer os ajustes necessários e eles colocarem as mudanças climáticas nas suas prioridades. Corrêa do Lago deu como exemplo as seguradoras norte-americanas, que são grandes aliadas nesse momento.
O engajamento dos atores financeiros privados, públicos, multilaterais é ainda mais importante a meses da COP30 porque esta deverá ser, segundo o embaixador, a conferência da implementação. Ou seja, é o momento para implementar a decisão dos países feita durante a COP29, em Baku (Azerbaijão). Em Baku, ficou decidido que o financiamento climático precisa chegar a US$ 1,3 trilhão por ano até 2035, mas que o compromisso já assumido é de US$ 300 bilhões anuais. Até a COP28, o compromisso anual era um terço disso e, mesmo assim, não foi plenamente implementado. As pessoas querem ver provas de que o acordo gera resultados concretos. Esse será nosso esforço em Belém. Corrêa do Lago afirmou que o impacto da saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris é muito importante.
Ele lembrou que o acordo foi desenhado da atual forma, sem gerar ações mandatórias ou obrigações pelos signatários, para atender ao governo norte-americano. Não há dúvidas de que a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris tem muito impacto na negociação. O embaixador ponderou que, embora a saída formal dos Estados Unidos do Acordo de Paris seja depois da COP30, é importante agir como se o país já estivesse fora do arranjo internacional. Ele pontua que é importante continuar os esforços para mobilizar norte-americanos (empresários, executivos de grandes empresas, cientistas e universidades). É preciso assegurar que a maior parte do PIB norte-americano esteja alinhada ao acordo climático. Não é preciso engajar necessariamente a atual administração, que tem outras prioridades.
Questionado sobre o papel da China na pauta climática global, Corrêa do Lago enalteceu o papel relevante do gigante asiático na busca de soluções para a crise climática. Um exemplo disso foi investir na indústria de painéis solares e reduzir os preços desse segmento globalmente. Essa foi uma das mais fantásticas políticas para expandir a energia renovável para os países em desenvolvimento. A China tem um papel muito importante na agenda climática e, provavelmente, as pessoas irão olhar para a China em busca de uma liderança adicional, visto que os Estados Unidos estão saindo dessa discussão e que a União Europeia está nessa circunstância de sequer cumprir o prazo para apresentar a meta de redução de gases de efeito estufa. Corrêa do Lago afirmou também que a COP30 é um ótimo espaço para países em desenvolvimento mostrarem o que tem feito.
Os países em desenvolvimento entendem melhor o mundo e têm muito a mostrar. O presidente da COP30 declarou ainda que a adaptação se mostra infinitamente mais necessária e mais urgente se os países assumirem que não é possível limitar o aquecimento global a 1,5°C. É preciso pensar em mitigação e adaptação. Se a ciência diz que é preciso tentar, não tem nada a perder em investir em mitigação e adaptação. Corrêa do Lago disse que não é oficial o rumor de que alguns países estão pleiteando abandonar a meta de 1,5°C. Ele ponderou que os números sobre o aquecimento no mundo mostram uma complexidade ainda maior para a meta ser atingida. "Os números de janeiro foram horríveis", afirmou. A conferência da ONU sobre mudanças climáticas será realizada em Belém (Pará) entre os dias 10 e 21 de novembro deste ano. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.