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24/Feb/2025

EUA hostiliza aliados europeus e flerta com Rússia

Nenhum presidente norte-americano nos 80 anos que nos separam do fim da 2ª Guerra Mundial fez o que Donald Trump acaba de fazer, isto é, hostilizar seus aliados na Europa, entregar dedos e anéis ao grande inimigo dos europeus hoje, a Rússia de Vladimir Putin, e de quebra culpar a Ucrânia por ter sido agredida pela Rússia, animados por ambições obviamente imperialistas, que até um mês atrás, antes da posse de Donald Trump, teriam sido prontamente rechaçadas pelos Estados Unidos. É altamente improvável que todos os antecessores de Trump desde 1945 estejam errados e ele, certo. A chamada “Pax Americana” do pós-guerra foi construída sob a premissa de que as democracias se ajudam umas às outras para conter os ímpetos totalitários dos inimigos do mundo livre. Foi essa aliança que permitiu a tremenda prosperidade experimentada pelo Ocidente nos anos seguintes, em particular nos Estados Unidos. Um mundo que partilha valores comuns, como a liberdade, a democracia e o império da lei, tende a resolver suas divergências com diálogo, e não pela força. Isso acaba de mudar drasticamente.

Com Donald Trump, a “Pax Americana” foi substituída pelo “Vale-Tudo Americano”. Doravante, não há valores comuns a partilhar nem alianças a respeitar. É cada um por si. A única certeza, num mundo assim, é de que nada mais é previsível e, como se sabe, a imprevisibilidade é fatal, seja para os negócios, seja para o pleno desenvolvimento econômico e social, seja para a necessidade de cooperação internacional nos mais diversos âmbitos, da saúde ao ambiente. E Donald Trump demole a ordem internacional do pós-guerra com requintes de insanidade. O presidente norte-americano não só decidiu que Putin pode ficar com o território que roubou da Ucrânia em sua guerra de agressão sem ter de conceder nada em troca, como ainda chamou o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, de ditador corrupto, ilegítimo e impopular, demandando eleições, exatamente como quer Putin, para instalar na Ucrânia um governo fantoche pró-Rússia. O presente de Donald Trump não poderia vir em melhor hora para Putin. Embora claramente superior à Ucrânia em termos militares, a Rússia enfrenta progressivo desgaste na guerra, que deveria ser fulminante, mas já dura três anos, com efeitos deletérios para a economia do país.

O antecessor de Trump, o democrata Joe Biden, acreditava que o reforço da aliança com a Europa e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) era o melhor modo de deter a agressividade da Rússia e seus aliados autocráticos, nomeadamente a China, o Irã e a Coreia do Norte. Donald Trump, por sua vez, acredita que deter a Rússia seja um problema exclusivamente da Europa. E é bem provável que, a despeito da confusão atual sobre qual seria a melhor resposta a dar aos movimentos de Trump, os europeus já estejam razoavelmente conscientes de que terão de organizar sua defesa sem os Estados Unidos pela primeira vez em oito décadas. Mas, a perspectiva é ainda pior quando se considera que os Estados Unidos não apenas decidiram se ausentar da Europa como resolveram se juntar a uma autocracia, a Rússia, que deseja ardentemente desestabilizar o continente para restabelecer o que um dia foi o império soviético, sem que os europeus sejam capazes de detê-lo. Ou seja, em certo sentido, os Estados Unidos, sob Donald Trump, não apenas deixaram de ser aliados da Europa, como decidiram se tornar seus rivais.

Isso ficou claro quando o vice-presidente norte-americano, J. D. Vance, num discurso infame em Munique, disse que a maior ameaça à Europa não é a Rússia, e sim o “inimigo interno”, em referência aos governos democráticos europeus que, na opinião de Vance, estão se afastando de “alguns de seus valores mais fundamentais” ao reprimir extremistas, alguns dos quais neonazistas. Vance, aliás, encontrou tempo para se reunir com a liderança da extrema direita alemã, mas não com o governo alemão. Dado que esse processo de desmonte da ordem mundial do pós-guerra mal começou, é difícil prever seu desfecho. Mas uma coisa ficou muito clara: como agora bem sabem os ucranianos e os europeus, não se pode mais contar com os Estados Unidos para defender o mundo livre; pelo menos não enquanto Donald Trump estiver no poder. Fonte: Broadcast Agro.