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21/Feb/2025

Brics buscará protagonismo nas discussões globais

A presidência brasileira do Brics quer tornar o grupo coeso e apresentar ações táticas e mais sofisticadas para que o bloco ganhe mais força nas discussões internacionais. Na área financeira, o Brasil proporá que o debate sobre a representatividade em instituições financeiras, como FMI e Bird, por exemplo, ocorra de forma pragmática. Uma das ideias que serão lançadas é a de os membros indicarem um candidato único a cargos como esses. O Brics tem que ter mais voz e representação. É preciso sofisticar mais a ação, sendo mais tático. O assunto das reformas em instituições financeiras não é novo e tampouco é exclusivo do Brics, mas a discussão ganhará outra roupagem agora no que depender do anfitrião. A avaliação de que os países do Sul Global são subrepresentados nessas organizações que tiveram Bretton Woods como origem. É necessário ver isso de uma forma um pouco mais pragmática. Os Brics cresceram, então é preciso encontrar uma narrativa e a ideia é coordenar para, dentro dessas instituições das quais o Brics faz parte e que quer continuar fazendo, trazer melhorias com o peso que os países do bloco têm hoje.

O Brics não está contra o Bretton Woods, mas quer ressaltar que tem um papel cada vez mais importante. É pequena a expectativa de que haja mudanças a partir das próprias instituições em meio a muitas questões geopolíticas, em especial a resistência em aumentar a participação da China. Por isso, não se espera que um realinhamento ocorra de forma natural. Daí a pauta de tornar o Brics, que agora é formado por 11 países, e não mais as 5 nações iniciais, um bloco mais coeso frente a questões internacionais. Com o aumento do grupo, elevou-se também o poder de seu poder de veto dentro das organizações. Entre as questões pragmáticas que o grupo pode discutir além da integração de boards, estão, por exemplo, temas ligados a custos de empréstimos, sistema de pagamentos transfronteiriços, sobretaxas e rediscussão sobre financiamentos dos países endividados. Não está descartada, inclusive, a hipótese de o Brics ter um candidato seu para a presidência do Banco Mundial ou diretoria-geral do FMI.

É de interesse de todos que haja mais participação na administração e no staff, é de interesse que se amplie financiamentos em prol dos países em desenvolvimento. Vale a pena os países emergentes terem um candidato e buscarem quebrar os consensos. O que o Brasil pretende que se responda no debate da pauta financeira é o que o Brics enxerga como objetivo ao ganhar mais representatividade. Por isso, serão conduzidas discussões para que as pautas em comum de seus membros ganhem mais visibilidade e, assim, possam ter mais coordenação perante outros países. Tem tópicos que são complexos, como a dívida: tem a China de um lado e muitos devedores de alguma forma do outro. Neste cenário, há dúvidas se será buscar convergências. A presidência brasileira ocorre em um momento em que houve a expansão do Brics e a ideia é a de que haja um fortalecimento institucional do grupo. São 11 grandes países, sem falar nos parceiros (20 nações compõem o bloco, ainda que 9 delas não participem de todos os eventos).

O Brics pode ser visto neste momento de mudanças internacionais como uma força de resistência à narrativa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, porque age em defesa do multilateralismo. O Brics não podemos ter medo agora, dado o que está acontecendo no mundo. O grupo não prevê a desdolarização de suas atividades no curto ou médio prazos. Um dos alertas já feitos pelo presidente norte-americano em relação ao grupo diz respeito à possibilidade de não usar o dólar como uma moeda de referência para as trocas comerciais e financeiras entre seus membros. Donald Trump ameaçou impor sanções aos países que caminharem nessa direção. Não há interesse e nunca foi discutido no Brics uma moeda própria. Formalmente, não há nenhum documento sobre essa discussão. Teve declarações de pessoas, mas na agenda formal do Brics, nunca houve uma discussão sobre uma moeda. O que há são estudos sobre facilitação de comércio por meio de sistemas de pagamento.

O tema, conforme já informou o Ministério das Relações Exteriores (MRE), é uma das principais pautas da trilha financeira do grupo e coordenada pelos bancos centrais. É uma agenda que já existe e que não se choca com as questões levantadas por Donald Trump, porque se trata de facilitar o comércio e investimento entre países. E isso é legítimo. Os estudos visam a reduzir custos de transação e não miram a desdolarização. O assunto é tema de estudo também pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), o banco central dos bancos centrais. Além disso, com o crescimento do uso das criptomoedas e das moedas digitais, é preciso que os países reflitam sobre o tema. Para os países do Brics, que são parte do sistema, mas mais da periferia e formado por grandes nações, faz todo o sentido embarcar nas tecnologias. Mas, essa mudança será gradual. O bloco continuará a defender um movimento de resistência e de aposta numa narrativa multilateral e de fortalecimento dos países emergentes em desenvolvimento.

É preciso ações pragmáticas e que tragam benefícios. Apesar da resistência, o grupo tem claro para si que não se trata de uma postura de confronto. É uma complementação de forma estratégica e tática. O último encontro em nível ministerial da área financeira do Brics no Brasil deve ser anunciado esta semana para a véspera da cúpula de líderes, marcada para os dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro. Na mesma época, para aproveitar a presença dos ministros de finanças e presidentes de bancos centrais, também deve ocorrer reunião do board do Banco dos Brics, que será presidido este ano pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pelo fato de o Brasil ter a presidência rotativa do grupo em 2025. Durante as reuniões, o anfitrião também quer construir uma convergência entre seus membros sobre financiamento climático para a Cúpula das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP) e, assim como ocorreu na presidência do G20, está prevista a realização de um "Brics Social".

Apesar de o Brasil ser a sede do grupo, a primeira reunião presencial de finanças ocorrerá na próxima semana na Cidade do Cabo, aproveitando o deslocamento das autoridades para a África do Sul para participarem do grupo das 20 maiores economias do mundo (G20). Por causa da realização da COP30 no Brasil, em novembro, o calendário dos encontros do Brics ficará mais concentrado no primeiro semestre do ano. A maior parte das reuniões ocorre de forma virtual. Uma das exceções de um grupo de trabalho da área de finanças deve ocorrer em maio, em Dubai, nos Emirados Árabes, quando se discutirão temas ligados à infraestrutura resiliente, mitigação de risco cambial e preparação de projetos. Tradicionalmente, os representantes financeiros do Brics também costumam se encontrar às margens da reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), que ocorre sempre em abril, em Washington, nos Estados Unidos.

A ideia da coordenação é aproveitar o encontro ministerial de julho, no Brasil, para fazer a reunião do board de governadores do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, que é a instituição financeira do bloco). Ainda que de menor porte, assim como ocorreu na presidência brasileira do G20 no ano passado, o País pretende fazer uma reunião com a participação da sociedade civil. O "Brics Social" ainda não tem data e nem local marcados, mas as discussões com os representantes dos diferentes setores já começaram a ocorrer. Durante os encontros, o Brasil quer construir uma convergência entre seus membros para levar a Belém, no Pará, onde ocorrerá a COP30. O principal ponto das discussões é o financiamento climático aos países em desenvolvimento pelas principais economias do mundo, um tema que vem sendo bastante debatido, mas que ainda não resultou até aqui na promessa de auxílio acordada pelos maiores representantes do globo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.