07/Feb/2025
Partidos do Centrão intensificaram nos últimos dias a pressão pela indicação do deputado federal Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara, para o Ministério da Agricultura. As articulações integram as negociações para a reforma ministerial, que deve ser feita nas próximas semanas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A pressão, que cresceu nos bastidores, parte de pares de Lira na Câmara. O movimento enfrenta a resistência do próprio parlamentar e do Palácio do Planalto, que não dá sinais de troca na Pasta. A saída de Carlos Fávaro da Agricultura é tida como "improvável". A interlocutores, Lira negou qualquer intenção de integrar o governo. De acordo com aliados, o interesse do deputado é compor postos de influência na Câmara, como a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) ou a Comissão Mista do Orçamento (CMO). Lira no Ministério da Agricultura traria obstáculos internos pelas dificuldades que o próprio governo teria, incluindo na "paternidade" de obras, em ter dois ministros adversários no mesmo Estado na Esplanada (Renan Filho dos Transportes também de Alagoas que pode disputar cargos no Estado em 2026 com ex-presidente da Câmara).
Lira é a única ameaça real a Carlos Fávaro. A pressão pela Agricultura não é direcionada por Lira e sim por partidos do Centrão que querem "controlar" a influência do ex-presidente na Casa. O desejo de manter Lira longe do Parlamento perpassa a atual mesa diretora da Câmara. Até o momento, não chegou nenhum pedido de Lira para ocupar o Ministério da Agricultura ao Palácio do Planalto. A sugestão chegou ao conhecimento do governo a partir de líderes do Centrão. O grupo político afirmou à gestão federal que Lira queria ocupar o Ministério da Agricultura. Interlocutores próximos de Lira argumentam que ele é pecuarista e tem conhecimento do setor, além de ter encampado várias pautas ruralistas durante a sua gestão. Apesar de Lira ser visto com certa resistência pelo governo, interlocutores de Lula defendem sua possível ida para a composição ministerial. Governistas avaliam que acomodá-lo no Executivo evitaria o risco de Lira se tornar um segundo polo de poder na Câmara, o que reduziria a influência do atual comandante da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), visto pela gestão federal com um perfil mais pacificador.
Uma vez no governo, Lira estaria subordinado a Lula e não teria margem para organizar um grupo político próprio no Legislativo. Apesar da pressão de seu grupo político, o Ministério da Agricultura não era a prioridade de Lira, caso fosse ocupar um cargo no governo. Desde o início do governo Lula 3, seu grupo político investe pela chefia do Ministério da Saúde, hoje sob o comando de Nísia Trindade, indicação pessoal e técnica de Lula. Porém, o presidente é resistente a essa ideia. O Ministério da Saúde tem um dos maiores orçamentos da Esplanada. A investida de aliados por Lira na Agricultura é justificada, em parte, porque a Pasta tem grande influência no desempenho do Produto Interno Bruto Nacional (PIB). Ainda, pode ser um ministério com grande alocação de emendas parlamentares (recursos financeiros previstos no orçamento cujas aplicações são indicadas pelos deputados e senadores). Correligionários do ex-presidente da Câmara, no entanto, acreditam que o Ministério da Agricultura, apesar de robustas emendas, não seria uma Pasta suficiente para cimentar os próximos passos de Lira em seu Estado.
Eles citam a Saúde como uma Pasta de maior projeção nacional. Até mesmo parlamentares ruralistas desaconselharam Lira de uma eventual ida para o Ministério da Agricultura. A bancada alertou Lira que seria um "ano difícil" para ele apresentar entregas à frente da Pasta, em virtude da limitação orçamentária para o Plano Safra, orçamento exíguo para seguro rural e reflexos potencialmente negativos das políticas protecionistas de Donald Trump sobre o agronegócio brasileiro. A intenção da bancada é não avalizar uma eventual indicação, o que a garante uma posição "neutra" para manter críticas, quando consideradas necessárias, ao Executivo. Uma eventual indicação de Lira não blindaria o governo e o Ministério da Agricultura de críticas da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). A intenção da bancada é ter Lira como um articulador dos projetos na Câmara. Lira não tem comentado o tema publicamente, afirmando não ter tido conversas com Lula sobre integrar a Esplanada. Do lado do Palácio do Planalto, a avaliação é que Carlos Fávaro é um dos melhores avaliados junto a Lula.
As aberturas recordes de mercado para produtos agropecuários nacionais, 325 até agora, são as mais citadas entre os méritos do ministro, e Lula faz questão de mencionar tal número em entrevistas. Ele sempre despende elogios a Fávaro. O presidente Lula gosta do trabalho de Fávaro e tem simpatia pessoal. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, citou recentemente Fávaro entre os ministros que "vestem a camisa do governo" e defendem a gestão quando é preciso. Na avaliação do Palácio do Planalto, tal postura ganha destaque especialmente em um momento sob queda de popularidade da gestão Lula 3. Interlocutores afirmam ainda que Lula já compreendeu que a relação com o agronegócio será limitada, não alcançando a simpatia de todo o setor, portanto, sem visar mudanças na "reconstrução de pontes" entre Executivo e setor privado. Membros da direção do PSD também consideram "improvável" a saída de Carlos Fávaro. O principal descontentamento do partido em relação à composição do governo se dá em relação ao Ministério da Pesca, sob André de Paula. A legenda alega que a Pasta tem pouca capilaridade.
Em meio à articulação do partido em ampliar o espaço na Esplanada, o apoio da direção ao seu comando no Ministério da Agricultura é visto como "crucial" por integrantes da sigla. Neste sentido, pesa a boa relação de Fávaro com Gilberto Kassab, presidente da legenda. Na terça-feira (04/02), o ministro participou da reunião de bancada do PSD da Câmara e recebeu o endosso dos deputados à sua permanência como titular da Pasta, assim como apoio às pautas lideradas pelo Ministério da Agricultura. Internamente no Ministério da Agricultura, servidores e pessoas que atuam em funções comissionadas acompanham os rumores com distância. Pessoas próximas ao ministro afirmam que o clima é de tranquilidade e que ele segue confiante nas entregas feitas. A execução de políticas e programas planejados para o ano segue o calendário normal. A entidades do setor produtivo, o ministro tem garantido a continuidade de seu trabalho à frente do Ministério da Agricultura. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.