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04/Feb/2025

Países afetados reagem às tarifas e ameaças dos EUA

Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a decisão do governo dos Estados Unidos de taxar em 25% as importações do México e do Canadá terá impacto muito grande nas cadeias produtivas das indústrias dos Estados Unidos, especialmente do setor automotivo. Do ponto de vista macroeconômico, deve aumentar a inflação norte-americana, dificultar as exportações dos Estados Unidos para o resto do mundo e reduzir o comércio global. Esse diagnóstico tem como pressuposto que todos os produtos sejam taxados. Supondo que todos os produtos entrem, que é o pior cenário, será criada uma incerteza muito grande na economia norte-americana. Canadá, México e China são os três maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos. A mudança de um cenário de praticamente livre comércio com Canadá e México, para uma taxação de 25% será radical e terá desdobramentos nas cadeias produtivas. O Canadá exporta para os Estados Unidos muito petróleo, alumínio, carros e autopeças.

Além de veículos, o México vende para os Estados Unidos produtos eletrônicos e máquinas. O acordo automotivo do Canadá com os Estados Unidos é dos anos 1960. As cadeias de produção são muito interligadas entre os países na parte do setor automotivo. A imposição de tarifas pelos Estados Unidos às importações tem como objetivo fortalecer o dólar. Além do aumento da inflação local por conta do encarecimento das importações, outro desdobramento, a médio prazo, será o encarecimento das exportações dos Estados Unidos para o resto mundo. Com o dólar valorizado, será mais difícil os norte-americanos exportarem para o resto mundo. Outro ponto destacado é que, se os países afetados começarem a reagir com retaliação e protecionismo, o efeito será uma desaceleração no comércio mundial. No final, ninguém ganha e para o Brasil, que já tem uma participação muito pequena do comércio mundial, será ruim. Quanto à hipótese de que o Brasil poderia ter alguma vantagem com as tarifas impostas ao México, Canadá e China, o cenário ainda é incerto.

O Brasil poderia exportar produtos do agronegócio, mas esse movimento estaria na dependência de a China reagir retaliando as compras desses itens dos Estados Unidos, como já ocorreu com a soja norte-americana. No caso de o Brasil exportar partes, peças e veículos para os Estados Unidos na lacuna que seria deixada pelo México, não se sabe ao certo se o setor automotivo teria capacidade para responder rapidamente a essa demanda. Mesmo com um aumento de 25% de tarifas de partes, peças e autos que vem do México, não daria para afirmar que os produtos brasileiros seriam mais competitivos. Tem distância e custo de transporte. As tarifas que serão impostas pelos Estados Unidos sobre produtos importados do Canadá, México e China valerão a partir desta terça-feira (04/02). Os Estados Unidos vão impor tarifa de 25% sobre importações do Canadá, à exceção dos recursos energéticos (petróleo, gás natural e eletricidade), que terão tarifa de 10%; 25% sobre produtos do México e uma tarifa adicional de 10% sobre produtos da China.

A medida dá início a uma guerra comercial do segundo mandato do presidente Donald Trump e carrega o risco de desencadear uma inflação mais alta e interromper negócios na América do Norte. Assessores do governo afirmaram que as tarifas serão impostas sob uma declaração econômica de emergência, que não foi usada anteriormente para impor tarifas. Para justificar a medida, o governo norte-americano alegou a ‘enxurrada’ de fentanil e seus precursores originários da China e sendo fabricados no México e Canadá antes de serem contrabandeados para os Estados Unidos. Donald Trump também inclui um mecanismo para aumentar as taxas se os países retaliarem os Estados Unidos como ameaçaram. Tanto o Canadá quanto o México têm planos, se necessário, de impor suas próprias tarifas em resposta. Não haverá mecanismos de exceções às tarifas. As tarifas permanecerão em vigor até que o governo norte-americano esteja satisfeito de que os parceiros comerciais eliminaram o rastreamento ilícito de fentanil para os Estados Unidos.

A tarifa menor sobre energia canadense refletia um desejo de minimizar quaisquer aumentos disruptivos no preço da gasolina ou serviços públicos. Os Estados Unidos também vão suspender uma medida que permite que remessas avaliadas em menos de US$ 800,00 do Canadá entrem no país sem impostos, devido a preocupações de que esses pacotes não estavam sendo inspecionados adequadamente sob a isenção. Segundo o Center for International Law da New York Law School, as ações marcam a primeira vez que o International Economic Emergency Powers Act foi usado para impor tarifas. O ato dá a Donald Trump amplos poderes e torna difícil para o Congresso anular a decisão. A presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirmou que o país vai implementar um plano com medidas tarifárias e não tarifárias sobre os Estados Unidos. O plano inclui medidas tarifárias e não tarifárias em defesa dos interesses do México.

Sheinbaum rejeitou a declaração dos Estados Unidos sobre o fentanil e de que o governo mexicano teria alianças com organizações criminosas, além de rebater qualquer intenção de intervenção dos Estados Unidos no território mexicano. Sheinbaum criticou também o método adotado pelos Estados Unidos para combater o consumo de fentanil no país, elencando uma série de medidas que poderiam ser tomadas pelo governo Trump. "O México não quer confronto. O México não só não quer que o fentanil chegue aos Estados Unidos, mas a nenhum outro lugar. Portanto, se os Estados Unidos querem combater os grupos criminosos que traficam drogas e geram violência, devemos trabalhar juntos de forma integrada", observou a presidente do México, propondo um grupo de trabalho com a gestão Trump. "Os problemas não se resolvem impondo tarifas, mas sim conversando e dialogando, como fizemos nas últimas semanas com o seu Departamento de Estado para abordar o fenômeno da migração; no nosso caso, com respeito aos direitos humanos", concluiu.

O Canadá vai impor tarifas retaliatórias de 25% sobre mais de 100 produtos norte-americanos, incluindo carnes, laticínios, frutas, veículos, eletrônicos e equipamentos militares, anunciou o Departamento de Finanças do país. O pacote de US$ 30 bilhões em tarifas entrará em vigor na terça-feira (04/02), como primeira fase de um conjunto mais amplo de medidas que deve atingir US$ 155 bilhões em importações dos Estados Unidos. O governo canadense também informou que estabelecerá um processo de remissão para que empresas locais solicitem alívio excepcional das tarifas em casos específicos. O ministro das Finanças e Assuntos Intergovernamentais, Dominic LeBlanc, afirmou que o Canadá não ficará parado enquanto os Estados Unidos impõem tarifas injustificadas e irracionais sobre produtos canadenses. A segunda fase das tarifas, envolvendo US$ 125 bilhões adicionais, será submetida a consulta pública por 21 dias.

Segundo o documento oficial do Departamento de Finanças, a segunda lista incluirá produtos como veículos de passageiros, caminhões, produtos de aço e alumínio, frutas e vegetais, produtos aeroespaciais e carnes. Entre os itens da primeira lista estão café, chá, especiarias, mel, ovos, produtos lácteos, além de equipamentos militares como bombas, granadas, torpedos e mísseis. Os Estados Unidos já sinalizaram que podem aumentar ou expandir o escopo das taxas caso o Canadá implemente medidas retaliatórias. O governo canadense destacou que o país é o maior mercado de exportação para 36 Estados norte-americanos, com trocas diárias bilaterais superiores a US$ 2,5 bilhões. O Canadá compra mais produtos dos Estados Unidos do que China, Japão, França e Reino Unido juntos, segundo dados oficiais. O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou que "agora é a hora de escolher produtos feitos aqui no Canadá. Verifique os rótulos. Vamos fazer a nossa parte. Sempre que possível, escolha o Canadá".

O primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, removerá produtos norte-americanos do Conselho de Controle de Bebidas Alcoólicas de Ontário (LCBO), a agência governamental responsável por vender e distribuir bebidas na maior província do Canadá. A ordem executiva assinada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre "Imposição de taxas para abordar o fluxo de drogas ilícitas através de nossa fronteira Norte" destaca que Trump pode aumentar ou expandir as tarifas contra o Canadá caso o país retalie os Estados Unidos. Caso o Canadá retalie contra os Estados Unidos em resposta a esta ação através de direitos de importação sobre exportações dos Estados Unidos para o Canadá ou medidas semelhantes, o presidente pode aumentar ou expandir em escopo as taxas impostas sob esta ordem para garantir a eficácia desta ação, afirma o documento. As taxas, de 25% ao Canadá, são feitas considerando que "o influxo contínuo de opioides ilícitos e outras drogas têm consequências profundas em nossa nação, colocando em risco vidas e impondo uma severa pressão sobre nosso sistema de saúde, serviços públicos e comunidades", segundo ordem executiva.

O documento também afirma que o Canadá desempenhou um papel central nestes desafios, inclusive ao falhar em dedicar atenção e recursos suficientes ou coordenar significativamente com parceiros de aplicação da lei dos Estados Unidos para conter eficazmente a maré de drogas ilícitas. A ordem cita o México diretamente apenas uma vez, no trecho: "E enquanto a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos (CBP) dentro do Departamento de Segurança Interna apreendeu, comparativamente, muito menos fentanil do Canadá do que do México no último ano, o fentanil é tão potente que até um pequeno pacote da droga pode causar muitas mortes e destruição às famílias americanas". Segundo Trump, uma ação imediata é necessária para finalmente encerrar essa crise de saúde pública e emergência nacional, o que não acontecerá a menos que a conformidade e cooperação do Canadá sejam asseguradas.

O Ministério do Comércio da China afirma que apresentará uma medida judicial contra os Estados Unidos junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) e tomará medidas correspondentes para salvaguardar firmemente seus direitos e interesses, sem entrar em mais detalhes. A declaração ocorre no contexto da aplicação de tarifas de 10% dos Estados Unidos contra produtos chineses, que deve começar nesta terça-feira (04/02). A China diz que o aumento unilateral de tarifas por parte dos Estados Unidos viola gravemente as regras da Organização Mundial do Comércio e destaca estar "fortemente insatisfeita" com a decisão. Para a segunda maior economia do mundo, a medida de aplicar tarifas por parte dos Estados Unidos não só é ineficaz na resolução dos seus próprios problemas, mas também prejudica a cooperação econômica e comercial normal entre a China e os Estados Unidos. A China espera que os Estados Unidos vejam e tratem o seu próprio fentanil e outras questões de forma objetiva e racional, em vez de ameaçarem outros países com tarifas.

A China insta os Estados Unidos a corrigirem as suas práticas erradas, a se encontrarem a meio caminho com a China, a enfrentarem os problemas de frente, a se envolverem num diálogo sincero, a reforçarem a cooperação e a gerirem as diferenças com base na igualdade, no benefício mútuo e no respeito mútuo. O Conselho Chinês para a Promoção do Comércio Internacional (CCPIT) manifestou-se firmemente contra a decisão dos Estados Unidos de impor tarifa adicional de 10% sobre produtos chineses. A medida unilateral viola as regras da OMC e alertou que os custos recairão sobre empresas e consumidores norte-americanos. O CCPIT enfatizou que "não há vencedor em guerras comerciais" e pediu que os Estados Unidos corrijam "imediatamente seus erros" para preservar a estabilidade das cadeias globais de suprimentos. A Comissão Europeia alertou que "responderá firmemente" a qualquer parceiro comercial que impuser tarifas "injustas ou arbitrárias" sobre produtos da União Europeia, em reação às ameaças do presidente dos Estados Unidos.

Por meio de um porta-voz, o órgão executivo do bloco disse que "lamenta" a decisão norte-americana de impor tarifas ao Canadá, México e China, ressaltando que tarifas criam perturbações econômicas desnecessárias e impulsionam a inflação. O Ministério da Indústria da França defendeu uma resposta "mordaz" e pediu que a Comissão Europeia elabore um "Buy European Act". De fato, Donald Trump afirmou que vai taxar os países da União Europeia em breve. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, afirmou que buscará uma forte relação comercial com os Estados Unidos depois que o presidente Donald Trump sugeriu que imporia tarifas à Europa, após atingir os maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos (Canadá, México e China) com taxas de importação. O Reino Unido deixou a União Europeia em 2020, após um referendo em 2016. Donald Trump, que apoiou o lado dos que defendiam o Brexit, ainda não indicou se pretende incluir o Reino Unido em suas medidas tarifárias. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.