04/Feb/2025
A rapidez e a agressividade com que Donald Trump lidou com a recusa da Colômbia em receber voos militares com deportados dos Estados Unidos evidencia a fragilidade econômica e política de parte da América Latina diante da nova presidência dos Estados Unidos. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, decidiu bater de frente com o norte-americano, em um primeiro momento, mas cedeu, temendo o impacto negativo das tarifas. A maioria dos países latino-americanos com grande número de imigrantes ilegais nos Estados Unidos está sujeita ao mesmo ‘calcanhar de Aquiles’ que fez Petro ceder. É o caso de países como México, El Salvador, Guatemala, Honduras e a República Dominicana, que estão entre os dez com mais imigrantes ilegais nos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, tem o país como seu principal parceiro comercial. Em alguns casos, como o do México, de longe o país com mais imigrantes ilegais (cerca de 4 milhões, segundo o Pew Research Center), os Estados Unidos são o destino de mais de 70% das exportações mexicanas.
El Salvador, o segundo da lista, o volume é de cerca de 40%. A Guatemala, terceira colocada, exporta 32% de seus produtos para os Estados Unidos, e Honduras, o quarto, exporta 51%. Além disso, sobretudo no caso dos países centro-americanos, mais pobres que o México, a pauta de exportação é composta por produtos primários, o que torna uma punição tarifária extremamente danosa. No caso da Colômbia, os Estados Unidos são o maior parceiro comercial com cerca de 25,8% das exportações. As tarifas anunciadas por Trump, que seriam de 25% para todos os produtos colombianos e poderiam chegar a 50%, fariam a Colômbia perder mercado, principalmente no setor cafeeiro e de flores. Segundo a ESPM, Petro caiu na armadilha de Trump. Ele ofereceu uma oportunidade para que Donald Trump pudesse mostrar força. A Colômbia não pode fazer nada por conta da dependência econômica, apenas ofereceu de graça um espetáculo para o norte-americano.
Donald Trump vem ameaçando países com tarifas desde a campanha. As tarifas podem ser usadas como forma de retaliação comercial, mas também como tática de pressão, caso os países não façam o que ele deseja. A América Latina teme que possa ser alvo por conta da questão migratória. Para o México, que foi ameaçado com tarifas por razões comerciais e migratórias, a dependência com relação aos Estados Unidos é impossível de ser ignorada. Segundo o Observatório de Complexidade Econômica, 76,8% das exportações do país vão para os Estados Unidos. Segundo a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), as tarifas são uma forma de pressão para Donald Trump contra países em que a relação é mais assimétrica. A questão comercial e a questão migratória são as duas pautas em que o governo Trump aposta para manter a popularidade alta no início do governo. Na semana passada, o Brasil foi citado como possível alvo de tarifas. Donald Trump disse que o País “taxa demais” e o colocou em uma lista de nações que “querem mal” aos Estados Unidos.
Para Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), e ex-embaixador do Brasil em Washington, a atitude do norte-americano não surpreende. Para a Universidade Presbiteriana Mackenzie, a dependência dos países da América Latina em relação aos Estados Unidos deixa a região mais vulnerável a possíveis tarifas que podem aumentar os preços dos produtos latino-americanos para consumidores norte-americanos. Quando os Estados Unidos aumentam a tarifa de importação para um determinado país, esse país tem dificuldade de vender seus produtos. As exportações tendem a cair e ocorre uma perda de competitividade. No caso da Colômbia, haveria uma queda na demanda e reduziria a lucratividade das empresas que exportam para os Estados Unidos. Segundo a FIA Business School, tarifas específicas para um determinado país também prejudicam a competição em relação a outra nação que possui o mesmo produto.
Outros países que não precisam pagar essa tarifa vão ter mais facilidade para vender aos Estados Unidos, porque o preço vai ser menor. Caso o Brasil seja alvo de tarifas, o desafio será aumentar as exportações para a China, maior parceira comercial dos brasileiros, que recebe 26,4% das exportações do País. Os Estados Unidos estão em segundo, com 10,7%. Mas não é fácil aumentar as vendas para a China, principalmente em um ano em que a previsão é de queda para a economia chinesa. Países da América Central, como Honduras, Guatemala e El Salvador, são os mais expostos às tarifas norte-americanas. Estes países têm economias especificamente frágeis, pois exportam basicamente frutas. A principal dúvida é com relação às tarifas ao México, um país com uma indústria forte, que conta com empresas norte-americanas operando em seu território. O México exporta computadores, carros e peças de motor aos Estados Unidos, e possuem um acordo de livre-comércio com o país e com o Canadá, o USCMA (antigo Nafta).
A crise entre Colômbia e Estados Unidos ligou o sinal de alerta para os países da região. Petro expressou incômodo com Donald Trump e tentou bater de frente, mas não tinha estatura para um confronto. O episódio serve de exemplo para outros países. Não adianta querer falar muito se o país não tem poder. Os países estão usando a força para a obter resultados políticos. Essa é a nova regra hoje nos Estados Unidos. De acordo com especialistas, é preciso traçar uma estratégia e trabalhar nos bastidores para construir um melhor relacionamento com Donald Trump. É o caso da presidente do México, Claudia Sheinbaum, que ressaltou a necessidade de pragmatismo, sem entrar em conflitos considerados dispensáveis. É preciso moderar na resposta. Países como México e Brasil não podem criar uma situação de confronto com Trump. A diplomacia precisa agir de forma silenciosa. O risco da retórica trumpista na América Latina é uma maior presença da China na região.
A Colômbia, que historicamente possui uma relação próxima com os Estados Unidos, sinalizou interesse de entrar no Brics e o embaixador da China em Bogotá, Zhu Jingyang, afirmou que as relações entre os dois países estão em seu melhor momento desde os anos 80. Segundo dados do Council on Foreign Relations, o mercado da China representava menos de 2% das exportações da América Latina, em 2000, mas cresceu a uma taxa média anual de 31% nos oito anos seguintes. Em 2021, o comércio ultrapassou US$ 450 bilhões, de acordo com o governo chinês, e economistas dizem que as cifras podem chegar a US$ 700 bilhões, em 2035. O crescimento fez com que a China se tornasse o segundo maior parceiro comercial da América Latina, apenas atrás dos Estados Unidos. Os espaços que os norte-americanos deixarem de ocupar na América Latina vão ser naturalmente preenchidos pela China. A possibilidade de perder ainda mais espaço para a China pode mudar a abordagem dos Estados Unidos no futuro. É possível que o governo norte-americano reavalie sua política atual com o intuito de impedir o avanço ainda maior da influência chinesa na região. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.