31/Jan/2025
O Brasil assumiu, em 1º de janeiro/2025, a presidência do Brics para um mandato que vai até o fim deste ano. Assim, o País não só será responsável por organizar e coordenar as reuniões do grupo de economias emergentes como passa a definir as prioridades da agenda. Mais de 100 reuniões estão previstas para acontecer em Brasília até julho. A cúpula com os chefes de Estado está programada inicialmente para julho, no Rio de Janeiro. A presidência brasileira terá dois eixos principais: a cooperação do Sul Global, como se convencionou chamar as economias em desenvolvimento que têm muitas vezes em comum o passado colonial, a economia baseada em commodities e as desigualdades sociais; e a reforma da governança global. Os debates envolvendo a criação de uma moeda comum, alternativa ao dólar para facilitar comércio e investimentos entre os países do grupo, se darão sob as ameaças de taxação do governo norte-americano. Tópicos para acompanhar os eventos do Brics sob a liderança do Brasil:
- O que é o Brics? o Brics não é um grupo formalmente estabelecido, no sentido de ter tratado, orçamento próprio ou secretariado permanente. Trata-se de um foro onde as economias emergentes debatem formas de cooperação entre os membros e se articulam para aumentar a influência em organismos multilaterais, de modo a refletir o aumento do peso relativo dos países emergentes na economia mundial. É o espaço onde as nações também acertam posições comuns frente a grandes temas da agenda internacional. A presidência do grupo é pro tempore - ou seja, é temporária e rotativa. Se neste ano o Brasil é o anfitrião dos encontros, no ano passado foi a Rússia.
- Origem: o termo Brics é formado pelas iniciais, em inglês, de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A história começa em 2001, quando o economista britânico Jim O'Neill cunhou o acrônimo "Bric" para descrever quatro economias emergentes (Brasil, Rússia, Índia e China) apontadas por ele como o futuro da economia mundial. Rapidamente, o termo se popularizou e os países formaram um grupo de fato. A primeira reunião de ministros de Relações Exteriores, os chanceleres, aconteceu em 2006, à margem da Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York (EUA). A partir da crise financeira de 2008, os quatro países buscaram atuar de forma conjunta no âmbito do G20, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. A primeira cúpula de chefes de Estado ocorreu em 2009 na Rússia. A África do Sul entrou em 2011, na primeira expansão do agrupamento, que passou a ser chamado de Brics, com o acréscimo do "S", de South Africa, ao acrônimo original.
- Membros do Brics hoje: além dos membros originais, fazem parte do grupo seis economias: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia. A expansão do grupo foi definida em 2023, durante a cúpula de Johanesburgo, na África do Sul. Os onze membros plenos participam de todas as reuniões em que o processo decisório se baseia no consenso. Para ser admitido como membro, os países interessados precisam cumprir critérios como ter boas relações diplomáticas com todos os membros do grupo, apoiar o multilateralismo e assumir o compromisso com a reforma da governança global.
- Parceiros: em outubro do ano passado, durante a cúpula realizada em Kazan, na Rússia, foi aberta a adesão ao Brics de parceiros. Nigéria, Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão, ou seja, nove países já foram anunciados como parceiros do bloco. Os países parceiros são convidados a participar da cúpula dos chefes de Estado e das reuniões de chanceleres. Também podem participar de outros espaços de debate do foro se houver anuência, em consenso, dos membros plenos. Nações parceiras podem ainda endossar as declarações de cúpula do Brics, assim como outros documentos finais do bloco. Mais de 30 países já demonstraram interesse em participar do Brics como membros ou parceiros.
- Prioridades: como anfitrião do Brics, o Brasil preparou uma agenda com cinco prioridades, a começar pela diversificação dos meios de pagamento entre membros do grupo, com a ideia de criação de uma moeda própria, de modo que a realização de comércio e investimentos não dependa apenas dos dólares. Também está na lista a promoção da governança inclusiva e responsável da inteligência artificial, assim como o estímulo a projetos de cooperação entre países do Sul Global, tendo como foco a saúde pública. O financiamento das ações de enfrentamento das mudanças climáticas, tema alinhado à COP30, a conferência do clima que as Nações Unidas realizam neste ano no Brasil, também é uma prioridade. Por fim, o fortalecimento institucional do agrupamento completa a lista de agendas prioritárias.
- Desafios: o lema da presidência brasileira é "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global por uma Governança mais Inclusiva e Sustentável". A ampliação do grupo será um desafio no mandato brasileiro, uma vez que as iniciativas de concertação agora envolvem 20 países. Além disso, a ideia de criar ou apoiar uma moeda alternativa ao dólar nas transações entre os países do Brics agora se depara com as ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de tarifas de 100% caso o bloco de economias emergentes insista na iniciativa.
- Negociador do Brasil: secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores, o embaixador Mauricio Carvalho Lyrio foi designado como negociador-chefe, ou sherpa, do Brasil no Brics. Ele exerce a mesma função no G20. Lyrio estará à frente da organização das agendas, tanto técnicas quanto ministeriais, durante a presidência pro tempore brasileira.
Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.