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30/Jan/2025

Inflação de alimentos de dois dígitos em Capitais

Enquanto o governo federal estuda medidas para tentar atenuar a alta dos preços dos alimentos no País, três cidades pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registraram aumento de dois dígitos na alimentação em domicílio em 2024: Campo Grande (MS), com 11,3%, Goiânia (GO), com 10,65%, e São Paulo (SP), que teve aumento de 10,07%, segundo microdados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Porto Alegre (RS), por outro lado, registrou a inflação de alimentos mais baixa, de 2,89%, em função da forte oferta de produtos alimentícios na região, com a ajuda recebida após as chuvas que devastaram o Rio Grande do Sul em maio do ano passado. As cidades do País que têm maior hábito de consumo de carnes bovinas sentiram um efeito maior da inflação.

Isso foi visto em Campo Grande, que teve alta de 31,32% nesses produtos, em Goiânia (+24,21%) e São Paulo (+26,54%). A carne bovina foi um grande vilão dos preços. De acordo com pesquisa Genial/Quaest, a desaprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a 49% e superou a aprovação pela primeira vez desde o início do governo. A inflação de alimentos explica parte dessa piora nos números. A cidade de Porto Alegre registrou a menor alta dos alimentos em 2024, com aumento de apenas de 2,89%. A cidade teve uma sobreoferta de produtos, em função da ajuda que recebeu para combater os efeitos das chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul. Além disso, mais de 60% da produção de carne bovina do País vem da região, o que ajudou a conter a alta desses preços.

As carnes subiram tanto em São Paulo quanto em Porto Alegre, mas com intensidades diferentes. As carnes em São Paulo tiveram uma variação nos 12 meses de 26,54%. Em Porto Alegre a variação foi de 10,09%. Isso ajuda a entender a diferença entre as cidades. Para conter a inflação de alimentos, o governo passou a avaliar ações. Porém, não durou mais que algumas horas a possibilidade levantada pelo governo de revisar o regulamento dos prazos para consumo de produtos alimentícios. É um exemplo de uma discussão pertinente nascida pelos motivos errados e morta pelos motivos errados. A proposta integra um pacote de medidas sugerido em julho passado por associações da indústria de alimentos e supermercados, e implica a adoção de um modelo de rotulagem similar ao de países como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido.

Produtos estáveis em temperatura ambiente, como biscoitos, macarrão, grãos ou enlatados, poderiam conter indicações do tipo “ideal para consumo até a data X”. Isso porque esses produtos tipicamente perdem certas qualidades após um certo período, por exemplo, a crocância dos biscoitos, mas o prazo para o consumo seguro pode se estender muito além disso. Ante a escalada da inflação dos alimentos, o governo se move por tentativa e erro, e chegou a aventar essa proposta no conjunto de medidas estudadas para baratear preços. Mas, traumatizado após a sova da oposição nas redes sociais durante a “revolta do Pix”, logo a descartou. Evidentemente, a ideia de oferecer “comida vencida” ou “picanha podre para pobre” é um prato cheio para a oposição.

A medida, por si só, não levaria necessariamente a preços menores para o consumidor. Seguramente ela não teria nenhum efeito sobre a inflação. Mas, acompanhada de outras, poderia ter alguma utilidade para atender populações carentes e, sobretudo, para minimizar o desperdício de alimentos. A ONU estima que algo como 800 milhões de pessoas (10% da população mundial) sofra com subnutrição crônica, ao mesmo tempo que cerca de um terço de todos os alimentos produzidos no mundo é perdido ou desperdiçado, o suficiente para alimentar 1 bilhão de pessoas. Não há uma causa ou um culpado, mas muitos. Descontadas as perdas durante a produção, a ONU estima que 13% da comida seja desperdiçada no varejo; 26%, nos serviços de alimentação; e 61%, nas casas.

Reduzir as perdas e desperdícios implicaria ganhos como aumento da produtividade e crescimento econômico, mais segurança alimentar e nutrição e mitigação de impactos climáticos. Calcula-se que o desperdício de alimentos seja responsável por 8% a 10% das emissões globais de carbono, pelo menos o dobro das emissões da aviação. Nesse contexto, diversos países vêm promovendo iniciativas para prevenir o desperdício ou reaproveitar alimentos. Há startups que facilitam a compra a preços mais baixos de produtos rejeitados pelos supermercados como defeituosos, às vezes por razões puramente estéticas, mas aptos ao consumo. Há aplicativos que oferecem descontos em comida de restaurantes prestes a ser jogada fora. Na França e na Califórnia (EUA), foram promulgadas leis que obrigam supermercados e restaurantes a doarem alimentos consumíveis que seriam descartados.

Um sistema de informações nas embalagens diferenciando entre o prazo para um consumo de qualidade e o prazo para o consumo seguro poderia embasar medidas desse tipo, seja no varejo, para oferecer produtos a menores preços ou para doação, seja nas casas, para evitar o descarte de alimentos aptos ao consumo. As associações de produção e varejo estimam que isso poderia gerar uma economia de R$ 3 bilhões ao ano em comida desperdiçada. O problema da perda de alimentos é complexo e as soluções exigem a coordenação de múltiplos atores, desde o governo, passando por produtores, vendedores e consumidores, até a infraestrutura de compostagem e reciclagem. Por isso mesmo, é lamentável desperdiçar, no brejo das picuinhas políticas, uma discussão que poderia contribuir para reduzir o desperdício. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.