28/Jan/2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que o governo está discutindo caminhos para reduzir os preços dos alimentos no Brasil. O chefe do Executivo reiterou que vai se reunir com atacadistas, produtores e donos de supermercados para encontrar uma solução para que a "comida chegue mais barata" à população. Lula listou uma série de razões para a alta nos preços dos alimentos, como a subida do dólar, as alterações climáticas e o próprio aumento da demanda por determinados itens. O presidente citou que a subida do dólar contribui para aumento dos preços da soja, milho e outros produtos que o País exporta. Além disso, a falta ou excesso de chuva influenciam na alta dos valores. O presidente afirmou ainda que a demanda da população é outro fator que responde pela elevação dos preços dos alimentos. Ele afirmou que serão feitas quantas reuniões forem necessárias para a tomada de decisão sobre este tema. A inflação dos alimentos foi o principal assunto na cúpula do governo nos últimos dias.
O presidente Lula mencionou o tema publicamente, e passou a cobrar de seus ministros propostas sobre o tema. Depois de reunião na sexta-feira (24/01), o ministro Rui Costa afirmou que o governo estudaria reduzir impostos de importação de produtos alimentícios cujos preços estiverem maiores no mercado interno do que no exterior, o que poderia aumentar a concorrência com produtores nacionais de alguns tipos de alimento, ainda não divulgados. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) criticou as medidas, afirmando que a ideia de diminuir tarifas de importação de gêneros alimentícios é mais uma medida mal pensada do governo, que insiste em ignorar os problemas macroeconômicos, o controle inflacionário, câmbio descontrolado e gasto público exorbitante. Os preços dos produtos agropecuários brasileiros seguem os padrões mundiais, anunciar que vai abrir importações é simplesmente ‘jogo de cena demagógico’ para induzir a população a achar que estão fazendo algo prático para baixar preços, afirmou a FPA.
Economistas preveem que a inflação dos alimentos deverá se moderar em 2025, e o governo Lula, ainda que tenha se mobilizado para o problema, tem pouco a ver com isso. A expectativa é de que dois elementos tenham influência direta sobre os preços nos supermercados: a safra recorde de grãos, cuja colheita começa neste trimestre, e a queda recente da moeda norte-americana. Os dois fatores deverão fazer com que a inflação dos alimentos saia da casa dos 8%, em 2024, para algo em torno de 6% neste ano. O número ainda é elevado e reflete uma herança inflacionária do ano passado, assim como o de uma demanda por consumo aquecida. Ao longo do ano, a expectativa é a de que o crescimento da economia perca fôlego com o aumento da taxa de juros (Selic), reduzindo a demanda e, com ela, a pressão sobre a inflação. Para 2026, ano de eleição presidencial, economistas afirmam que é preciso obter mais informações sobre o ajuste fiscal prometido pelo governo Lula. O adiamento no acerto das contas e a perda de confiança no novo arcabouço fiscal, aprovado em 2023, fizeram o dólar disparar 27% no Brasil em 2024.
Isso teve impacto nos insumos agrícolas, nas matérias-primas e os alimentos com preços determinados por cotações no mercado externo, como soja, milho e carnes. Neste ano, há uma trégua provocada por um início do governo Donald Trump menos beligerante contra a China, o que vem provocando uma desvalorização global do dólar. Em janeiro, a moeda norte-americana caiu mais de 4% frente ao Real. Mas não se sabe quanto tempo vai levar até Donald Trump mudar de ideia. Para o dólar ajudar a baixar os preços dos alimentos no Brasil será preciso que o governo Lula mostre avanços na política fiscal, o que tem sido um fator doméstico de alta da moeda norte-americana. Na sexta-feira (27/01), o chefe da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que o governo vai avaliar a redução de tarifas de importação de alguns alimentos, a exemplo do milho, para frear as remarcações de preços no País. No dia anterior, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que sua equipe vai trabalhar para reduzir os custos do vale-alimentação e do tíquete refeição, e descartou subsídios ou redução de impostos.
São duas medidas anunciadas pelas autoridades após o presidente Lula pedir aos ministros ações rápidas para conter a inflação dos alimentos. O aumento dos preços nos supermercados não é um fenômeno recente, tanto que o próprio presidente se reuniu com representantes do setor de alimentos e de varejo para debater medidas que poderiam ser adotadas. Dessa reunião, realizada em novembro, emergiram ideias como a mudança na data de vencimento dos produtos e a autorização para supermercados venderem remédios sem receita, o que não foi encampado pelo governo. O presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) chegou a mencionar a possibilidade de instalar pontos de venda de alimentos estatais nas periferias, mas a ideia não chegou à mesa de Lula. Economistas veem com ceticismo a capacidade de essas iniciativas terem influência efetiva na inflação dos alimentos e preveem que a moderação ocorrerá mais por efeitos de mercado.
A MB Associados observa que o Brasil é um grande exportador de alimentos, a preços competitivos, o que indica que qualquer ação para ampliar a importação de alimentos não será relevante. Pode marginalmente ter algum efeito, mas não é algo que mude a tendência nos preços dos alimentos, como uma safra forte ou uma apreciação cambial, com influência em grupos relevantes, como carnes, soja e grãos. A LCA vai na mesma linha e acrescenta que qualquer iniciativa de influenciar o funcionamento dos mercados será mal recebida. As diversas medidas de intervenção, como controle de preços, pegam muito mal e não funcionam. Pode mexer com a credibilidade do governo, mexer com o câmbio. “O tiro sai pela culatra”. O governo fez bem em afastar as possibilidades de uso desses mecanismos. E se o intuito do governo, com a importação, é baixar a inflação, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) dá uma má notícia. Boa parte da cesta que compõe o IPCA (índice oficial de inflação) é de alimentos produzidos internamente e exportados, porque são competitivos, como arroz, carnes e café.
A promessa de importar alimentos também foi mal recebida por representantes do agronegócio no Congresso. Na semana passada, logo após a primeira reunião ministerial do ano, o presidente Lula acionou representantes de pelo menos quatro ministérios para tratar do assunto. O receio do governo parece ser chegar às vésperas da eleição de 2026 com uma inflação pressionada. A pressão cambial é maior pelo desajuste fiscal. A culpa não é da alimentação, ela não é a vilã, os empresários não são os vilões, nem o agronegócio. A expansão fiscal produzida pelo governo aumentou a demanda e jogou o câmbio neste patamar. Porém, não deve haver avanços neste terceiro ano de mandato de Lula. Provavelmente, o ajuste vai ficar para 2027, o que vai deixar o mercado mais estressado no final do ano e o câmbio mais pressionado.
As carnes também seguirão em alta, por razões setoriais. Há problemas de produção nos Estados Unidos e uma perspectiva de menor abate no Brasil. O espaço de manobra para moderar os preços de alimentos é pequeno. Reduzir taxas para importação tem pouco ou quase nada de efeito, pode ajudar, mas com efeito muito pequeno. Mesmo que tivesse estoque regular, a ajuda seria limitada. A MacroSector Consultores avalia que a questão fiscal é chave para uma melhora nos preços no prazo mais longo. Para 2026, está nítido que boas notícias na área fiscal ajudariam a estabilizar o câmbio na faixa de R$ 5,80 e R$ 5,90. Se ficar assim durante meses, levaria à melhor previsibilidade dos preços futuros do mercado doméstico. A pressão vem do câmbio, que foi de R$ 5,00 para R$ 6,00. Sabendo que o ponto sensível é a questão fiscal, o governo precisa dar boas notícias. A alta dos preços não está localizada somente nos alimentos, embora eles tenham peso maior nos indicadores.
Abrange produtos comercializáveis diversos, os quais são influenciados pela taxa de câmbio. Como exemplos, vestuário, calçados, resinas plásticas, têxteis, utilidades domésticas e bens de consumo pessoal. Todos serão alvo de uma pressão altista nos próximos dois meses (em razão da defasagem temporal das remarcações). O IGP (Índice Geral de Preços), que mede os preços no atacado, de janeiro e fevereiro, virá pressionado pelo câmbio. Alimentos com peso relevante, vão pesar mais. O milho, por exemplo, que afeta a carne suína, teve alta acentuada com a influência do câmbio e alta no mercado internacional. No café, a pressão foi até janeiro. A soja já está andando de lado, com viés baixista. A maioria dos produtos comercializáveis tem correção de preços pelo câmbio. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 0,11% em janeiro, subtraindo o índice habitacional, levou a um alívio. Mas, a pressão dos outros grupos de produtos continua na faixa de 0,40% a 0,45%.
Nesses dois meses, produtos ligados ao câmbio vão continuar sob pressão. A taxa do dólar só vai aliviar o impacto por volta de março. Apesar da alta dos juros iniciada pelo Banco Central em setembro/2024, a economia do País ainda está sobreaquecida. É outro fator que não vai mudar no curto prazo e que só legitima a alta de produtos comercializáveis. É mais um elemento de sustentação da alta da inflação. A MacroSector projeta IPCA acumulado em 2025 na casa de 4,7%. O Boletim Focus, que coleta a opinião de mais de cem analistas de casas do mercado, aponta para uma previsão majoritária de 5,08%. O que deve perder pressão são os produtos vendidos no mercado interno, porque a economia vai desacelerar, a indústria vai perder fôlego, além de serviços e varejo. E a massa salarial vai crescer menos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.