27/Jan/2025
Uma ala do governo reagiu de forma negativa à proposta de criação de uma rede de abastecimento popular para regiões periféricas onde o preço dos alimentos é avaliado como alto, que teria um custo de R$ 1,2 bilhão. A medida, que é defendida por integrantes do alto escalão do governo, enfrenta forte oposição em algumas das Pastas mais poderosas da Esplanada. A ação foi criticada por ser taxada de “projeto pessoal”, e não ação de governo. Mas, um dos grandes empecilhos é o custo, estimado em R$ 1 bilhão. Interlocutores argumentam que o governo não consegue acomodar no orçamento um programa nesses custos. A proposta foi apresentada pelo presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, e já tem aval do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Porém, ainda espera aprovação do Ministério da Fazenda e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e deve sofrer resistências para avançar.
Técnicos do governo negavam a avaliação de subsídios para as medidas com vistas a baratear o custo dos alimentos. O próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afastou a possibilidade de o governo usar algum espaço fiscal para adotar esse tipo de iniciativa. "Não há espaço fiscal para isso e não há necessidade de espaço fiscal para isso, porque o que vai resolver esse problema não é esse tipo de medida, é nós melhorarmos a concorrência, melhorarmos o ambiente de negócio, melhorarmos as nossas contas externas, continuarmos perseguindo esses objetivos", disse o ministro ao ser questionado sobre a possibilidade de o governo adotar ações com custo fiscal para baratear o preço de alimentos. Mesmo sem amplo apoio, já há articulação em torno da proposta. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que o governo descarta a criação de uma rede de abastecimento popular como forma de diminuir o preço dos alimentos.
O governo não vai criar rede popular de alimentos, nem congelar preços, nem criar subsídios, disse o ministro, que negou que qualquer "medida heterodoxa" para abaixar o preço dos alimentos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, descartou a concessão de subsídios a produtores e afirmou que, em vez disso, a combinação de queda no dólar e de safra recorde deverá baratear os produtos. Ele ressaltou que as matérias-primas (commodities) estão associadas à variação do dólar que, na semana passada, recuou para a faixa abaixo de R$ 6,00, e dependem da safra, que deverá ser recorde este ano. Segundo Haddad, um eventual subsídio estatal para interferir no custo da comida é “boataria”. O que afetou o preço dos alimentos, basicamente, é porque são commodities, são bens exportáveis. Então, quando o dólar aumenta, isso afeta os preços internos. Na hora que o dólar começa a se acomodar, vai afetar favoravelmente os preços também. A safra vai ajudar muito esse ano.
A Quantitas avalia que nenhuma medida que o governo propuser será saudável e terá efeito para conter os preços dos alimentos. O preço dos alimentos é determinado pelo dólar e pela dinâmica macroeconômica geral, que inclui safras, demanda e a renda da população. A única coisa que pode conter esses preços é ter um cenário macro mais propício. Uma dinâmica mais favorável contaria com uma apreciação do Real, equilíbrio entre demanda e oferta, e boas condições climáticas. O banco Inter avalia que não há espaço para controlar preços de alimentos por parte do governo e que a medida pode trazer mais problemas do que soluções. Olhando o IPCA-15 de janeiro, a alimentação não é o principal problema da inflação corrente, mas sim a parte de serviços.
A boa prática de controle de preços é ignorar esses itens mais voláteis, como energia, alimentos, porque, tipicamente, a pressão vem pelo lado oferta. Então, não tem muito o que fazer para conseguir normalizar isso. Caso o governo tente atuar de maneira mais enérgica nos preços de alimentos, o a situação pode piorar via câmbio e incertezas. O governo não tem espaço fiscal para isso. É um problema que, se esperar, vai passar sozinho. O BTG Pactual espera que os preços dos alimentos parem de subir com o dólar perdendo força ante o Real e a inflação caindo. Em um cenário em que o dólar fica um pouco mais barato, em decorrência de alguns sinais que o governo venha a dar, de responsabilidade fiscal, e dado que o Banco Central aumentou os juros, a expectativa é de que a inflação comece a cair. Com inflação caindo e dólar melhorando, o preço dos alimentos vai deixar de subir.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que a convicção do governo é de que os preços dos alimentos se formam no mercado, e não são feitos nem produzidos artificialmente. Os preços têm relação forte com a questão do preço das commodities, seja com relação ao valor do dólar, que tem também influencia. A declaração foi dada após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sexta-feira (24/01). Além do presidente e de Rui Costa, participaram os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Carlos Fávaro (Agricultura), Esther Dweck (Gestão) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário); o diretor-presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto; entre outros.
O presidente convocou a agenda por estar preocupado com a questão dos preços dos alimentos. No encontro, Lula solicitou uma apresentação dos ministros da área econômica e da área produtiva. Foi feita uma apresentação sobre o cenário de produção dos anos de 2022, 2023, 2024, além de uma perspectiva para o cenário de comportamento dos alimentos mais consumidos pela população brasileira para 2025. A área econômica mostrou quadro em que se apresentou influência muito forte de preço de commodities, que são preços que são definidos no mercado internacional pela variação histórica dos preços. Então, é um cenário que não tem a ver com a economia brasileira, mas com o preço dessas commodities. Fontes: Broadcast Agro e G1. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.