27/Jan/2025
Investidores e gestoras que já financiam projetos de mitigação das mudanças climáticas esperam que a liderança do Brasil nas negociações para a COP30 em Belém (PA) possa direcionar o capital internacional para projetos de soluções baseadas na natureza e investimentos “verdes” no agronegócio. Segundo a gestora Generation Investment Management, o Brasil terá uma presidência de COP muito diferente do que foi visto recentemente em outras COPs. Vai trazer à discussão a questão de clima e natureza, o que eleva o status do Brasil. Para a Good Karma Partners e a Just Climate, a expectativa é que o Brasil traga para o foco das discussões o uso sustentável da terra. “A ‘transição do uso da terra’ se mostra tão relevante quanto a transição energética, e o Brasil está no centro disso. É preciso repensar a forma como se usa a terra e os recursos.
Quando se pensa nos modelos tradicionais de uso da terra nas últimas centenas de anos, não deram certo. O uso racional da terra interessa a diversos setores, já que o tema impacta desde as cadeias de fornecimento, a indústria de alimentos, a construção civil, até a geração de energia, entre outros. Mas, a prioridade deve ser o financiamento para iniciativas de conservação de vegetação nativa e de redução das emissões na agropecuária. Quem hoje conserva terras perde mais dinheiro do que ganha. E o escrutínio sobre os projetos REDD+ (que geram créditos de carbono por desmatamento evitado) causou um revés nessa indústria, que é muito importante para muitos países. Um estudo da consultoria Systemica mostrou que, no primeiro semestre de 2024, as emissões de crédito de carbono caíram 39% na comparação anual, enquanto os preços de créditos de REDD+ recuaram 6% no segundo trimestre.
Há expectativa de que haja uma discussão sobre como desenvolver uma agricultura intensiva de baixo carbono para produzir mais com menos e alcançar o sequestro de carbono que, com práticas normais, não se consegue. Para a gestora Equus Capital, é pouco provável que se consiga capturar o potencial total de sediar uma COP, mas tem um potencial grande que será explorado. “E o nome do jogo é agricultura de baixo carbono”. Os esforços para reduzir as emissões do campo vão demandar investimentos em áreas que nem sempre aparecem como alvo das finanças climáticas, como conectividade rural e microgeração de energia. No primeiro caso, a conectividade será essencial para a comprovação do uso de práticas sustentáveis. A rastreabilidade passa a ser mais factível com a conectividade, que é um elemento que vai precisar de muito investimento.
No caso da geração de energia, muitas propriedades rurais ainda utilizam geradores a diesel para abastecer suas necessidades, e a produção de alimentos vai demandar mais energia para técnicas que poupem terra, como irrigação. A mobilização de capital internacional para essas iniciativas, sobretudo no Brasil, não deve ser um caminho sem percalços, já que a decisão de Donald Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris e a desmobilização de grupos privados, como a suspensão da coalizão Net Zero Asset Managers, dificultam o engajamento de financiadores. Para a gestora Generation, liderar uma COP com sucesso vai requerer do Brasil muita diplomacia e boa vontade da comunidade financeira global. Nesse sentido, a escolha do embaixador André Correa do Lago foi bem recebida pelos investidores. Para a gestora Régia Capital, ele tem uma visão muito boa do papel do mercado financeiro, o que deve colaborar para trazer o tema para o centro do debate.
Essa COP não deveria ser a COP das finanças, mas vai acabar sendo por uma necessidade gigantesca de mobilização de capital, ainda mais com a saída de grandes fundos climáticos dessas coalizões. A retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris restringe um capital público, que já era limitado globalmente, para mobilizar o mercado financeiro para soluções climáticas. Mas, há muito capital privado para investimentos. Por isso, as políticas públicas são importantes, porque ajudam a determinar onde o capital deve ser direcionado. Nesse ambiente, soluções menos custosas devem ganhar protagonismo, como é o caso das possibilidades do Hemisfério Sul. A Europa já tem que financiar sua própria transição, que está sendo caríssima. No Brasil, a transição passa pela mudança de uso da terra, então não é tão caro. Além disso, enquanto para o norte global a transição tem uma visão de custo e inflação verde, para o Brasil é uma oportunidade. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.