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24/Jan/2025

Preços de alimentos e os fundamentos de mercado

O governo Lula tem na inflação de alimentos um dos seus principais desafios para 2025. E parte da crise é culpa do próprio governo, que alardeou e comemorou a queda do preço das carnes no primeiro ano da gestão, em 2023. Tanto a comunicação oficial quanto a de ministros era na direção de que os brasileiros voltaram a comer carne com o presidente Lula. Medidas econômicas do governo influenciaram na queda do desemprego, no aumento da renda e no crescimento econômico do País, o que aumentou o poder de compra do consumidor. Mas, do lado da oferta de boiadas no campo, e consequentemente de carne bovina, os fundamentos de mercado explicam o recuo do preço da proteína animal no início do governo Lula. Entre 2023 e 2024, houve um aumento nos abates de bovinos e, especialmente em 2024, um abate recorde de vacas. No fim do ano passado, porém, o cenário começou a mudar e o ciclo de oferta abundante de bovinos começou a se inverter, justamente por causa do abate recorde de reprodutoras bovinas.

A partir deste ano, a produção de carne bovina deve se desacelerar, pela falta de vacas e, consequentemente, de bezerros e bois para engorda, e os preços voltarão a subir, acompanhando a demanda externa firme e a valorização do boi gordo, além de uma demanda interna estimulada pelo pleno emprego e programas sociais. Mais uma vez, são fundamentos de mercado, desta vez altistas. Há perspectiva, além disso, de aumento nos preços das proteínas alternativas mais baratas (carne de frango e suína), pelo reforço na demanda, além de ovos. O aumento, no caso da carne bovina, já chegou ao consumidor no ano passado e deve persistir neste ano. Agora, a cobrança recai sobre o governo. Vale lembrar que picanha de novo da mesa do brasileiro foi promessa de campanha do presidente Lula e o aumento dos preços não é poupado pela oposição. E não é só a carne. O café já superou patamares históricos e pode chegar até a R$ 55,00 por Kg nas gôndolas dos supermercados.

Café, açúcar e carnes com menor produção devem ser os vilões inflacionários neste ano. Já produção recorde de grãos deve contribuir para amenizar a pressão inflacionária. Mais uma vez, fundamentos de mercado. A preocupação do presidente Lula com a inflação persistente dos alimentos decorre da influência do tema na sua popularidade, um ano antes das eleições presidenciais. O assunto tomou corpo no governo nos últimos dias, após o presidente cobrar os ministros pelos preços elevados dos alimentos na última reunião ministerial de segunda-feira (20/01). O presidente quer uma resposta imediata. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, tentou convencê-lo de que se trata de uma questão de mercado. A Pasta esclareceu ao Planalto que o preço de alimentos é tema da equipe econômica e que medidas de abastecimento não estão mais na alçada da sua pasta. Ao presidente Lula, Fávaro também teria dito, que preço é uma questão econômica envolvendo mercado e inflação e que não há controle sobre as cotações dos produtos agropecuários.

O ministro da Agricultura também teria afirmado a Lula que, do lado da produção, há perspectiva de uma safra recorde de grãos neste ano, o que pode aliviar a escalada de preços, e consequentemente a pressão inflacionária, prevista para carnes e café. Ao presidente, o ministro esclareceu que o clima adverso afetou a safra passada, pressionando a inflação. Não adiantou. O presidente quer uma solução "fora da caixa" e foco total no tema. Técnicos do Executivo afirmam que "não há muito o que ser feito", garantindo as regras de mercado. Ou seja, sem falar na temida intervenção. É câmbio e mercado externo. Os preços internacionais balizam os internos. O governo tenta evitar a qualquer custo uma crise da escalada dos preços dos alimentos e eventual responsabilização pela inflação firme. Crise que poderia ser evitada se não houvesse "busca pela paternidade" dos preços baixos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.