21/Jan/2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu início nesta segunda-feira (20/01) a um governo que coloca o Brasil diante de desafios de dimensão tanto política quanto econômica maiores do que os do primeiro mandato do republicano. Se oito anos atrás Donald Trump tinha como interlocutor no Brasil o então presidente Michel Temer, e depois Jair Bolsonaro, desta vez a interação vai se dar com um governo de esquerda. Nos últimos anos, o Brasil também aprofundou a sua parceria bilateral com a China, passando a ter uma maior parcela das exportações destinadas ao gigante asiático, com quem os Estados Unidos travam uma disputa por hegemonia global. Mas, as diferenças entre os países e os obstáculos não são de natureza apenas política. Donald Trump volta ao poder com agendas fiscal, imigratória e comercial vistas como inflacionárias, o que, em termos práticos, significa menos liquidez e maior pressão sobre os juros de mercados emergentes num momento em que a Selic sobe, pelas previsões de mercado, em direção aos 15% e o IPCA vai se descolando da meta perseguida pelo Banco Central (BC).
Um estudo internacional feito pelo departamento de análises do Citi aponta o Brasil como a segunda economia da América Latina mais vulnerável às políticas aguardadas no governo Trump. Mais vulnerável do que o Brasil, aparece apenas o México num índice calculado pelo Citi que leva em conta, entre outras dimensões, a orientação ideológica do governo de cada país e as relações comerciais com a China. O novo secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, tem sido crítico aos governos de esquerda na América Latina, o que pode indicar um ambiente político desafiador para o Brasil. Países com governos de esquerda e com baixa popularidade são considerados mais vulneráveis se Donald Trump empreender uma gestão mais ativa e ideológica. Além disso, as economias com maior presença da China, seja via comércio ou investimento, podem ser vistas como mais alinhadas aos interesses econômicos do governo chinês, e menos com o governo norte-americano.
Assim, no índice de exposição a Trump criado pelo Citi, o Brasil supera países como Argentina, Colômbia e Chile. Especialistas em relações internacionais ponderam que é possível enxergar oportunidades a produtos brasileiros se o Brasil conseguir passar ileso pelo ‘bangue-bangue’ na arena comercial entre Estados Unidos e seus parceiros. Ou seja, ocupar espaços deixados por produtos que terão barreiras para entrar nos Estados Unidos, assim como aproveitar as prováveis retaliações. Foi o que aconteceu no primeiro mandato de Donald Trump, quando a China substituiu soja e proteínas que comprava de fornecedores norte-americanos. Nessa perspectiva positiva, jogam a favor do Brasil na competição internacional as vantagens logísticas, longe dos entraves de rotas afetadas por conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia, e a disponibilidade de recursos naturais quando o mundo faz a transição energética. Há também, entre economistas e especialistas em relações internacionais, um entendimento de que o Brasil não deve ser foco das tarifas de Trump, uma vez que o País rende aos Estados Unidos o sétimo maior superávit comercial.
Ou seja, os Estados Unidos exportam mais do que importam produtos brasileiros, de modo que, em tese, seria de interesse dos norte-americanos manter um fluxo comercial aberto com o Brasil. O problema é que Donald Trump já deu sinais de que sua artilharia não vai se voltar apenas à China. A agenda de proteção comercial também ameaça com barreiras os vizinhos México e Canadá, assim como a Europa. Trump também já ameaçou aplicar tarifas de 100% contra o Brics, caso o bloco de economias emergentes do qual o Brasil faz parte insista na criação de uma nova moeda para substituir o dólar. Um receio é de que, diferente do primeiro mandato, Trump não tenha agora uma equipe no Departamento de Comércio capaz de conter suas ações mais agressivas. Isso pode acontecer num contexto em que a China lida com um excesso de capacidade em sua indústria, na esteira da crise imobiliária no gigante asiático. Um acirramento na guerra comercial pode, então, impactar o Brasil em duas frentes.
De um lado, especialistas apontam a um cenário de "perde-perde", onde o aumento das tarifas e a retaliação entre países levam a uma queda no comércio internacional, aumento da inflação e redução do crescimento global. De outro, a China desova ainda mais seus produtos em mercados onde encontra um consumo em expansão ou com menos barreiras. Em síntese, o Brasil, assim como o resto do mundo, tem mais a perder do que a ganhar, dado o desvio das exportações de produtos barrados nos Estados Unidos e o efeito depressivo sobre o comércio internacional do tarifaço de Donald Trump. A história mostra que as consequências não foram boas quando os Estados Unidos levantaram barreiras comerciais para todos os lados. Na década de 1930, o aumento significativo de tarifas com a lei tarifária Smoot-Hawley Tariff Act tinha como objetivo proteger os produtores norte-americanos da concorrência estrangeira.
Sua consequência, no entanto, foi um acentuado declínio do comércio internacional, contribuindo para agravar a crise econômica global, na esteira da Grande Depressão. Ainda que a China seja o maior destino das exportações brasileiras, é com os Estados Unidos que o Brasil tem uma pauta comercial mais diversificada e de maior densidade tecnológica. Além de petróleo, o Brasil vende para o país aeronaves, motores, produtos siderúrgicos, aparelhos de telecomunicação, medicamentos e equipamentos médicos. O número de empresas brasileiras que exportam aos Estados Unidos é mais de três vezes maior do que o de fornecedores que vendem, em sua maioria commodities, para a China. Se Donald Trump subir tarifas contra produtos brasileiros, ou se aberturas preferenciais forem motivo de negociações no novo governo, o desvio do comércio a outros mercados será mais desafiador em um mundo com mais barreiras comerciais.
Banqueiros e CEOs brasileiros que participam do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, avaliam que o impacto da gestão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve ser contido no Brasil. Dentre as razões, citam o fato de o País exportar commodities para os Estados Unidos, e ter uma balança deficitária com os norte-americanos, além de ser uma nação que, até o momento, está fora dos holofotes do republicano. A região mais vulnerável não é o Brasil. Pelo contrário, o País é um dos lugares menos vulneráveis a isso, porque é um exportador de commodities, que não é um produto muito tarifável. O Brasil é um dos poucos países que tem déficit com os Estados Unidos. E caso as relações com a China, de fato, se deteriorem no governo Trump, os mais afetados serão os países da Europa porque exportam mais produtos industrializados.
Se isso virar de fato uma guerra tarifária, o Brasil, mais uma vez, é um dos que deve ser menos afetado. Para a Randoncorp, é preciso esperar os primeiros dois a três meses da gestão de Trump para sentir se terá algum impacto negativo para o Brasil. Mas, a percepção é e que a prioridade de barreiras comerciais são outros países, como a China. E aí pode até surgir oportunidades no médio e longo prazo para o Brasil. Há uma ala de executivos que acredita que o impacto da administração Donald Trump para o Brasil tende a ser neutro. É o caso do presidente do Bradesco, Marcelo Noronha. "Se houver aumento de tarifas, comprometendo o preço interno, isso pode ser inflacionário. Em um ambiente inflacionário, a política monetária pode agir. Se a taxa de juros subir ou ficar onde está, o dólar se fortalece e é ruim para mercados emergentes como o Brasil", pondera.
Contudo, os dados da inflação nos Estados Unidos, na semana passada, reforçaram a perspectiva de continuidade de queda das taxas norte-americanas, o que reduz a pressão sobre as moedas emergentes. Para o Brasil, o impacto da gestão Trump deve ser neutro. A McKinsey do Brasil reforça que os líderes corporativos estão em compasso de espera pelas medidas de Donald Trump, vai adotar após tomar posse. O republicano prometeu autorizar mais de 100 decretos a partir do primeiro dia na Casa Branca, um verdadeiro choque em termos de políticas comerciais, imigratórias, de desregulamentação e impostos. Está muito incerto ainda. Os líderes de negócios estão esperando para ver o que vai sair porque a fala e as ações no caso do Trump não são necessariamente a mesma coisa. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.