20/Jan/2025
A economia brasileira cresce a um ritmo acima de sua capacidade há sete trimestres consecutivos. O hiato positivo do produto, indicador do quanto a economia está crescendo acima de sua capacidade, o que é potencialmente inflacionário, começou com 0,7% no primeiro trimestre de 2023 e foi aumentando gradativamente até chegar a 4% no terceiro trimestre de 2024, no maior descompasso entre demanda e oferta dos últimos 30 anos. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), antes do ciclo recessivo de 2014 a 2016, o potencial da economia e o seu crescimento efetivo avançavam de forma equilibrada; depois da recessão, até 2023, passaram a rodar de forma desigual, mas com taxas ainda próximas; a partir daí, a desproporção aumentou. O levantamento apenas apresenta os dados, sem tecer comentários sobre as causas, mas a reversão ocorre a partir da política de incremento de gastos públicos adotada pelo governo Lula.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu que a economia está operando acima de seu potencial. O déficit em transações correntes em 2024, estimado em US$ 54 bilhões pelo Banco Central (BC), indica que o crescimento deve “ser calibrado”. O ministro chegou a fazer uma analogia entre conduzir o crescimento econômico e dirigir um carro de Fórmula 1: “Acelerar é sempre bom? Depende”. Ou seja, se acelerar demais, pode escapar na curva e bater no muro. Ainda que tardio, é um sinal de alinhamento do Ministério da Fazenda com os argumentos usados pelo Banco Central para justificar a política monetária contracionista que tenta evitar os efeitos inflacionários de uma economia sobreaquecida. Diante do esforço da equipe econômica para recobrar a credibilidade perdida depois do pacote que frustrou expectativas de contenção de gastos, não há como garantir que essa seja uma convicção real ou apenas retórica, mas, ao menos, é um começo.
A demanda acima da oferta que passou a condicionar a economia depois de nove anos de hiato negativo, como revela o levantamento da FGV, causa enorme pressão sobre os preços. A economia apresenta sinais trocados: a produtividade do capital, em queda em 2014, apenas havia começado a se recuperar quando despencou na pandemia e permanece estagnada; a produtividade do trabalho também não se recuperou do baque do período de pandemia. A despeito disso, o consumo aumenta. A Instituição Fiscal Independente (IFI) e o Banco Central também apontam superaquecimento econômico desde 2023. O governo começou a enxergar o fenômeno a partir do segundo trimestre de 2024. Em 2023 ainda havia algum excesso de ociosidade na produção. De qualquer forma, há um consenso de que a economia brasileira está, de fato, rodando acima de sua capacidade, e a política fiscal contribui para “jogar lenha na fogueira”.
Haddad afirmou que o País “se desacostumou com disciplina nas contas públicas”. A inflação ameaça a estabilidade porque há déficit de oferta para um consumo que cresce muito acima da produção. E o consumo cresce porque a política do governo é de estímulo, com o forte apelo dos programas de transferência e incentivo ao crédito. Não à toa, o hiato positivo do produto é o argumento mais usado pelo Banco Central para justificar o aperto monetário para tentar segurar a inflação. Quando, em setembro do ano passado, os juros voltaram a subir, o comunicado do Banco Central destacou que o conjunto dos indicadores econômicos mostra dinamismo maior do que o esperado, o que levou a uma reavaliação do hiato para o campo positivo. A calibragem seria mais fácil se partisse do governo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.